3/27/2012

A nossa dança.

Acordei cedo, por volta das sete e meia numa manhã de domingo, coisa rara. Tomei um banho quentinho e fui comprar pão na padaria mais próxima, do outro lado da rua. A fila estava um tanto grande, fui para o final e enquanto o tempo e as pessoas demoravam para serem atendidas fiquei mexendo no celular.

- Menina, me perdoe a noite passada! Não pude ficar. Esqueci alguma coisa aí, tenho certeza, mas não lembro bem o quê. Acho que foi meu coração, guarde-o com cuidado porque talvez eu demore um pouco pra pega-lo de volta.

Uma mensagem dessas faz qualquer ser humano no planeta terra dar aquele sorriso no canto da boca e sentir um fervor no estômago, quase querendo gritar ali mesmo. Mas sou pacifica, esqueci a fila do pão e fui para casa. Gritei por vinte minutos seguidos! A sindica do condomínio precisou me lembrar que ainda não passava das oito, eu pedi desculpas mas não me senti nem um pouco envergonhada. Em outras circunstancias essa seria minha deixa para abandonar o apartamento em menos de dez minutos mas não naquele momento, aquele momento era completamente meu e eu não iria deixar que nenhuma filha da puta sem alma e coração o tirasse de mim.

Quis responder a mensagem, cheguei a escrever e apagar umas cem vezes, não sabia o que responder. Aliás, o que responder? Há respostas para essas coisas? Pensei que havia, eu queria que houvesse, eu quis tanto isso que eu achei minha própria resposta e o enviei:

- E se, por um acaso, eu nunca mais quisesse devolve-lo para ti, conseguirá viver sem coração?

Um minuto. Dois minutos. Dez, quinze, vinte! Droga, responde essa porra antes que eu coma meus dedos porque as unhas feitas já foram. Quase arranco os cabelos de tanta ansiedade.

- Então, guarde-o bem guardadinho. Para sempre, pequena! Por onde andas que ainda não esta aqui comigo?
Preciso dizer que enlouqueci? Preciso dizer que eu pus a primeira roupa limpa e menos amarrotada do armário e calcei o primeiro par de saltos que vi? Preciso dizer que nem tive o cuidado de troca a bolsa para combinar com os sapatos? Passei em disparada pela porta do apartamento, quase que esquecendo-o de trancar. A sindica riu de mim enquanto conversava com uma das faxineiras do prédio.

- Tendo um dia bom ou só um dia apressado, Rafaela? – Ela gritou enquanto eu voava pelas escadas.

- Posso ter os dois ao mesmo tempo? Só hoje, por favor? – Eu dizia em uma voz infantil, esperando que ela fosse ainda me responder.

- Vai com Deus, menina! – Ela sorriu pra mim enquanto eu já estava lá em baixo.
Peguei um taxi. Nunca gostei de dirigir o meu carro, eu não consigo, por mais que eu queira, sair do 60km por hora. Sempre tive medo de velocidade. Peguei o taxi com um velho senhor negro com barba e cabelos longos e grisalhos. Se eu não estivesse tão ansiosa brincaria com ele perguntando se nunca pensara em ser um Papai Noel em algum shopping. Ri da idéia tosca.

Vinte minutos depois – quase vinte anos depois – eu desci as pressas do taxi. Joguei uma nota de cinqüenta. Nem se quer sabia se era menos ou mais. O velho senhor perguntou se eu queria troco e eu disse que não enquanto atravessava a rua sorrindo para ele.

E lá estava eu, a dez metros de distância da tua casa, do seu cheiro, dos teus livros e de você. A cada passo que eu dava meu coração aumentava a pulsação, eu quis pensar em coisas bonitas e cenas de novelas para realizar contigo naquele momento. Nada me veio a mente. Eu estava ali, as borboletas no estômago estavam ali, meu coração estava ali mas a minha mente já estava dentro da tua casa, sentada na tua sala de estar rindo com você. Toquei a campainha. Mais 10 segundos cruciais.

- Você veio! – Ele disse surpreso como quem não esperasse minha chegada.

- Eu vim! – Eu sorri enquanto esperava alguma reação dele além da surpresa.

Então, ele sorriu também. E me abraçou. Abraço apertado, sabe? Daqueles que parecem final de tarde vendo o sol de pôr. Beijou minha testa inundada de suor. Eu sorri sem graça por isso. Ele deu outro sorriso e entrelaçou uma das mãos no meu cabelo e a outra em minha cintura. Eu não sabia o que fazer com as mãos e elas automaticamente envolveram o pescoço dele.

- Um beijo, agora? – Uma pergunta dessas não se faz, nesse momento ações se fazem, eu pensei.

- Um beijo agora! – Ele selou seus lábios nos meus. – E agora! – Outro selo. – E agora! – Mais um. – E para sempre!
- Você caiu do céu, só pode. – Eu sorri enquanto continuávamos entrelaçados um no outro.

- Talvez. Mas, você sabe... no céu há anjos e anjos possuem asas e pouco utilizam suas pernas. Eu preciso utilizar-las. – Ele sorriu de lado.

- Sobre o que você esta falando? – Minha sobrancelha automaticamente se franziu

- Estou pendido que dance comigo. Você aceita dançar comigo agora? – Ele me olhou nos olhos.

- Eu aceito. Agora. Amanhã. E depois. E para sempre!

3/26/2012

Pelas curvas e rodovias.

120 por hora. Sábado a noite. Adele, na rádio, cantava “Someone like you”, minha predileta. No banco de trás eu e mais um, o cinto era curto demais para que eu pudesse pôr. Na frente, mais dois. Fumaça de cigarro pairava dentro do carro. Duas vodkas acabaram de serem jogadas no porta-malas. Rumo a vida, assim eu pensava. O vento no rosto dava a sensação de liberdade, mas, quem de verdade hoje em dia é livre? Paramos em um posto. Abasteceram? Não sei! Corri para a loja de conveniência. Uma carteira de Hollywold, por favor! R$ 3,75. Cigarros costumavam ser mais baratos na época em que eu não fumava. Sai. Lembrei e voltei! Outra vodka. Uma Sky, por favor! R$ 20,00. Cheguei o bolso, a bolsa e a carteira. Única nota de cinqüenta. Entreguei como quem entrega um papel. A moça do balcão me olhava com um ar de quem queria estar no meu lugar. Sorriu quando eu olhei fixamente em seus olhos. Acho que já passara das dez. Sai, outra vez. Dois meninos em frente a loja sorriram pra mim, acenei com a cabeça. Mais em frente, outro carro. Alguns homens dentro dele, não deu pra contar mas vi que eram mais que três. Entrei no carro, dessa vez no banco ao lado do motorista. 150 por hora. Não entendia a pressa para chegar, mas não atestei em nada. Acho que agora tocava Fergie remixado. Vi os carros ficando cada vez mais para trás. Chegamos? Erramos o caminho? Voltamos? Entra nessa curva! Não, pega a rotatória. Pegamos! Lugar onde fora palco do nosso carnaval. Lembramos dos acontecimentos simbólicos e inéditos daquele fim de mês. Rimos um pouco e voltamos a nos concentrar no nada que surgia em nossa frente. Chegamos. Cerveja pra todos? Não, só três copos e uma coca-cola. Estava com fome. Moço, trás um hambúrguer! Chegaram mais três na mesa. Depois mais quatro. Muita gente, muita conversa paralela, muita risada alta e muitas vozes ao mesmo tempo. Pouco se escutava da música que tocava dentro do barzinho. Sumi da mesa. Fui fumar onde ninguém pudesse me ver. Encostei no carro que estacionamos há cerca de uns dez metros dali. Quatro homens em frente ao carro. Pedi o isqueiro emprestado, me olharam de cima a baixo e me deram. Acendi na quarta vez. Devolvi e agradeci. Me olharam mais uma vez. Gays, eu pensei depois de ver dois dos rapazes se beijando. Sumi atrás do carro. A visão era fraca, estava sem meu óculos e a noite tudo embaçava-se em minha visão. Algo acontecera pouco antes de eu voltar a mesa. Tivemos que sair as pressas, eu pouco entendia. Uma briga acontecera com alguém na família do motorista. Fomos embora. Bebemos coca-cola durante a metade do trajeto. Se fizemos o roteiro até o local em uma hora, na volta fizemos em trinta minutos. Eu sozinha, ampliava meu espaço de visão e dava as coordenadas. Seguimos em frente. Chegamos. Mais uma briga de vinte minutos entre amigos. Entrei em casa. Brinquei com a minha nova salamanta. Dormi e, por sorte, nunca mais acordei.

3/20/2012

Toda dor de um amor.

Quando a minha vida desabou – e eu falo no exato momento em que o pus para fora da minha cara – eu fiquei sentada no chão da cozinha por duas horas e chorei desde que ele foi embora até as três da manhã. Não fumei nenhum cigarro, não bebi nenhuma vodka, não escrevi nenhum trecho de dor ou de rancor pelo simples fato de que a dor era tão intensa que eu já não tinha mais motivação para levantar daquele chão. Quando então me pus a levantar, jogar uma água no corpo e ir deitar, rolei na cama umas duzentas vezes pensando em como tudo acabara, pensando como cinco anos de conhecimento acabara de ir parar na lata do lixo. Talvez eu tenha errado, eu sei que errei e não foi pouco mas ele também errou e mesmo assim não consigo mais culpá-lo por isso, todo o erro de uma vida caiu sobre meus ombros e agora tenho andando com um peso sobre-humano dentro do peito. Quando ele partiu, quando passou da minha porta e me deu um singelo beijo na testa, eu perdi todo o chão e todo o ar que havia dentro dos meus fracos pulmões e por um grande instante eu quis gritar a ponto de acordar toda a vizinhança mas em vez disso eu chorei. Chorei por quase seis horas sem parar, o pequeno espaço de tempo em que eu não chorava era quando eu lembrava de tudo de melhor que pudemos viver mas logo depois vinha a depressão de não tê-lo mais aqui, em mim. O piso branco da cozinha foi palco principal da minha melancolia, foi naquele chão sujo que eu me deitei e não quis mais levantar, foi naquele chão sujo que eu dormir por meia hora antes que o relógio pudesse despertar. Quando de pé, quando, enfim, um novo dia chegou, eu já não era mais a mesma e estava estampado em minha cara que tudo em mim havia mudado. Rasgaram meu coração como se fosse um papel e eu, boba e inocente, acabei deixando que o fizessem. Procurei analgésicos, drogas, cigarros, bebidas, pessoas mas nada podia preencher sua ausência, tentei telefonemas e abraços mas nada era tão reconfortante quando você estava por perto, tentei até mesmo outros beijos mas na hora H eu não via outro rosto, outro corpo, outros lábios além do seu e então recuava. Não vou dizer que passou, acho que essas coisas é uma das coisas que a gente leva pra sempre dentro da gente por mais que o tempo passe, são essas coisas que fazem a gente acordar numa manhã de domingo daqui há três anos, olhar para o lado e sentir o vazio profundo da vida e chorar até não existir mais lágrimas para serem derrubadas. São coisas do coração, eu tentei do meu melhor jeito e ainda sim não consigo explicar tudo aquilo que eu senti e tudo aquilo que se passara no momento, só sei que dói, que faz sangrar por dentro e por fora. Só sei que minha solidão é meu único abrigo, agora.

3/14/2012

Quebra-cabeça completo.

Tenho você. E de todas as coisas da qual possuo, te possuir é ainda mais importante para minha alma. Falo da alma porque desaprendi a amar alguém com o coração, sempre achei que o coração tinha limites para abrigar as pessoas mas a alma não, com a alma você ama uma nação e ainda sobrará espaço para que possa amar outra nação. Então era assim o meu amor por você: de alma, porque não existe nada mais bonito pra mim do que você ler um olhar e um sorriso sem precisar citar uma só palavra. Pra mim, o diálogo é bastante importante mas são os detalhes que me fazem lhe amar todos os dias um pouco mais. São essas ligações de dez segundos perguntando aonde estou que me fazem passar o dia encantada, são essas visitas tarde da noite que me fazem ficar sonhando acordada, é o seu sorriso e o teu olhar que me faz ficar encantada todas as vezes em que você pisca os olhos. E eu amo, amo de verdade, tudo o que há em você tanto bom como ruim, eu amo os teus defeitos, eu amo tuas brincadeiras fora de hora, eu amo suas birras, eu amo até mesmo os dias em que não consegue sorrir. Mas entenda uma coisa: você me possui, assim como eu o possuo, então todas as vezes em que não conseguir sorrir, chorar, viver ou morrer, apareça na porta da minha casa e assim eu poderei sorrir, chorar, viver ou morrer por você porque quando amamos com a alma, a gente acaba por se transformar em uma metade do outro. E, sabe? Você é a minha melhor metade.

Fadiga frequente.

Julgaram-me culpada assim que meu coração fechou as portas. Ninguém parou para escutar minha história, ninguém parou para entender o meu lado, todos só sabiam julgar e me dizer suas verdades inconsequentes, sem saber o meu lado do enredo. E meu coração, grande impostor, cansou-se também do julgamento e foi dormir. Batia, ainda batia porque era necessário manter-me viva ainda, mas já não havia por quem bater. Depois que fechou as portas para as chegadas de novos seres passou a ser extremamente frio, passou a olhar sem mais delicadeza, sem mais detalhismo. Era frio, impiedoso e calculista. Tramando contra qualquer pessoa que aproximasse por mais um metro de sua porta. Mas ninguém entendeu. Ninguém entendeu que eu, a menina que vivia com o coração aberto para novos inquilinos, não tive culpa se meu coração já não aguentava mais tanta porrada, tantos curativos um atrás do outro, tantas decepções. E ninguém procurou entender que o meu coração estava cansado demais, cansado de esperar, cansado de sentir, cansado de ser paciente. E eu e meu coração já estávamos cansados de amar.

Ao novos sonhos românticos.

Ele tinha olhos de quem já havia sofrido por amor, mas me olhava de uma forma como se esperasse que eu pudesse retirar ou apagar da sua memória toda a dor que já havia sentido antes. Do pouco que sei do amor é que ele, quando não correspondido, machuca e isso era tudo que eu tinha pra contar a quem me viesse perguntar sobre tal. É claro que eu poderia dizer os pós e contras universais sobre o amor, o quanto é bom e ruim ao mesmo tempo e todas essas baboseiras que até mesmo quem nunca amou sabe de cor de tanto ouvir as pessoas dizerem. E eu, de fato, queria mesmo poder tirar a tristeza que havia no fundo daqueles olhos, eu quis abraçar um desconhecido e conforta-lo sob o meu abraço, eu quis chorar assim que seus olhos de pedra pairaram sobre mim. Eu não respirei por dez segundos. Dez segundos foi o tempo que ele levou pra se dar conta que todos perceberam que seus olhos não desgrudavam dos meus. Me senti estranha, perdida, como se algo estivesse acontecendo e eu não tivera prestado atenção e embora eu até tivesse parado de respirar, eu gostei da sensação que causou. Eu gostei de como o corpo dele se movia de acordo com seus olhos, eu gostei de como ele caminhava ao me deixar pra trás entre a multidão e, às vezes, olhava sobre o ombro pra ver se eu tinha de distanciado demais. Eu gostei do momento em que tocou minha mão, do modo como me encarou e pediu permissão pra se apresentar. Eu gostei porque não é todo dia que a gente sonha com o amor.

Evaporar.

As pupilas dilataram-se, as mãos suaram frio pedindo para serem limpas mais uma vez, o corpo esquentou-se em meio ao frio que aquele ambiente fazia - e se não fosse exagero, poderia até dizer que cheguei a temperatura do sol - a respiração tornou-se ofegante e as palavras, antes ditas em um tom mais grave e mais alto, tornou-se um leve sussurro abafado e por um breve instante pensei que os tempos de cólera haviam retornado, mas tudo isso não passara de uma grande emoção, a emoção de olhar-te bem fundo nos olhos e perceber que aquilo que eu sentira não era sintomas de doença alguma, era apenas meu corpo transmitindo tudo aquilo que eu não conseguia dizer em palavras: estou te precisando nesse exato momento. O que eu tinha não se pode ser classificado como doença, afinal, existe cura para a tal doença do amor? Não que eu saiba, ainda. Depois do breve momento em que eu realmente achei que estivesse ficado doente percebi que outros breves momentos iniciaram-se enquanto ele estava por perto. Eu quis gritar e sussurrar ao mesmo tempo, quis chorar e sorrir, quis abraçar e manda-lo embora, eu quis tantas coisas naquele instante - inclusive você - mas de nada adiantou, eu fiquei ali mais uma vez parada, pateta, olhando teus abraços envolverem outros abraços que não eram os meus, eu vi teus lábios beijando outros beijos que não eram os meus, eu vi teus olhos brilhando por outros olhos que não era os meus. Então, tive uma explosão de adrenalina e pensei comigo: agora ou nunca, ou vou adiante ou recuo minha tropa e mando meu coração aquetar-se. Dito e feito, fui atrás dos olhos, abraços e beijos daquele homem. Fui atrás porque, como diz minha mãe, não tenho mais vergonha na cara e assumo sempre o que faço e o que sinto, mesmo que eu me foda no final eu sempre fui assim: sinto demais, falo demais, quero demais! E eu queria tanto possuir aqueles olhos nos meus, eu queria tanto aqueles abraços sendo envolvido pelos meus, eu queria tanto que aqueles beijos fossem contratos selados nos meus. Mas não deu, você se foi. Outra vez outro romance arquitetado pela minha imaginação fértil não resistiu as borboletas no estômago e simplesmente se esvaiu no momento que você ultrapassou a porta e sumiu ao lado de outra mulher. Outra mulher! E, nossa, como eu queria ter sido essa mulher. Como eu queria ter sido sua mulher. Mas não foi eu, foi ela. E eu fiquei aqui parada, pateta, com cara de menina que acabara de ser repreendida diante dos amigos. E você, simplesmente, sumiu!

Ao estilo Tiradentes.

De tanto pensar, escrever e falar sobre o amor comecei a achar realmente que eu estava apaixonada embora não soubesse na pele o que sentir o amor, embora não soubesse, também, por quem eu poderia nutrir esse sentimento que eu julgava ser o mais importante de todos. Com o tempo e com as pessoas que começaram a surgir em minha vida, passei a entender um pouco sobre o que amar o outro, sobre como é se dedicar inteiramente a alguém, sobre como é sorrir quando alguém estar feliz e chorar quando alguém estar triste. Mas esse era um amor fiel, um amor sincero, era aquele amor de amigo e eu ainda buscava nas vielas do meu coração alguém realmente capaz de aceitar todo o amor que eu tinha para dar. E eu encontrei esse alguém e nele depositei todo o amor e esperança que eu tinha para que um relacionamento pudesse dar certo, nele eu depositei meus segredos mais obscuros e mais singelos, depositei meus sonhos e metas. Eu depositei tudo que eu tinha de mais bonito dentro de mim em alguém que nunca soubera de fato o que é o amor. Eu vaguei uma vida inteira atrás de alguém que pudesse me aceitar como sou, vaguei a vida inteira atrás de alguém que pudesse sorrir pra mim quando os dias ficassem escuros mas em meio a toda essa escuridão não o vi quando o céu escureceu. Ele tinha apenas deixado rastros e feridas abertas dentro de mim que não cicatrizavam, eram feridas que com o tempo paravam de latejar mas era só ele voltar que a ferida era outra vez exposta. Brincaram com o meu coração! Logo com o meu que sempre fora capaz de amar quem quisesse se aproximar. Não deixei de acreditar no amor mas deixei para trás essa história absurda de me manter presa ao pensamento do amar. Não quero que brinquem com meu coração mas também não fecharei as portas para que ninguém mais possa entrar, apenas farei diferente dessa vez e procurarei ser o mais seletiva possível, afinal de contas, coração exposto em praça pública corre risco de ser arrancado.

Saudade.

Sabe do que eu mais sinto saudade quando eu olho para o meu passado? Do seu sorriso matinal, do quarto bagunçando, do café da manhã já na hora do almoço, do bom dia abafado pelo travesseiro. Eu sempre fui uma pessoa que preservei muito a minha liberdade mas depois que te conheci nessa vida – sim, eu presumo que nós nos conhecemos em vidas passadas – deixei de acreditar que existia realmente a liberdade sem a paz e a guerra do amor. Com você ao meu lado eu aprendi que não adianta ter liberdade quando não se tem amor, é preciso conciliar ambos, torna-los iguais, numa mesma medida. Aprendi, ao seu lado, que a vida era capaz de me libertar enquanto eu amava, por mais que isso antigamente parecesse impossível pra mim. Eu achava que quando eu entrava em um relacionamento eu perdia minha liberdade e por pensar assim nunca tive um relacionamento que ultrapasse os dois longos meses, mas aí você veio e me mostrou que antes de precisar da liberdade eu preciso precisar do amor, do seu amor. E eu precisei tanto desse amor que tornou-se um vicio para mim. Eu não sabia mais respirar longe do ar que você respirava, eu não conseguia passar meus dias sem que você estivesse nele, eu não conseguia mais dar um passo nesse amplo espaço sem que você estivesse acompanhando meus movimentos. E, nossa, como eu sinto saudade da maneira que você me olhava carinhosamente, do modo como você ria quando eu, atrapalhada que sou, caia sem graça no chão. Eu sinto falta das estações, dos livros, dos parques, no mais eu sinto falta de tudo aquilo que pudesse me teletransportar em mente para o seu lado. Agora, eu olho para trás e não vejo mais o mundo vazio, não vejo mais aprisionamento, e eu só tenho a agradece-lo por ter me ensinado coisas que nem a vida me ensinou. Eu agradeço, apenas, por tê-lo conhecido, por ter entrado em minha vida, por ser, pra mim, a minha outra metade. Mas, mesmo assim, mesmo ao longo de todo esse tempo, mesmo continuando em frente, ainda sim eu sinto sua falta. Todos os dias!