12/29/2010

Brincando de crescer.

Chega uma hora que você cansa. Cansa de você mesma e as pessoas não tem nada a ver com isso. Chega uma hora em que você cansa dos seus discos,dos seus livros,da imagem que seu espelho lhe faz enxergar. Você cansa de não conseguir correr,cansa de não ter nada do estômago,de saber que a cada um cigarro prazeroso que você fuma você perde cinco minutos da sua vida. Você cansa de beijar garotos idiotas e de garotas fúteis,cansa das pessoas que estão ali pra horas boas e pra horas ruins se vão. Você cansa de tudo,pra falar a verdade. Ai você cresce. De uma hora pra outra você cresce e começa a enxergar que tudo que você tem,tudo que viveu,todas as atitudes,medos,choros,pessoas e erros foi você mesma quem se deu o trabalho de buscar. Você pode dizer que não mas você atraiu tudo isso pra você. Eu cansei disso tudo e quero atrair pra minha vida coisas novas,boas,que me façam ser uma boa pessoa porque tudo que eu tenho feito até aqui me fez ver que eu estava sendo uma má pessoa e eu não quero ser lembrada um dia como "a garota de 15 anos que era revoltada com a vida." Eu resolvi mudar,espero que o mundo mude comigo e que tudo que eu possa querer que eu consiga ir atrás e que venha obstáculos,que venha pessoas tentando me impedir de crescer porque se eu acaso conseguir eu vou me dar ao luxo de ser esquecida por todos porque eu sempre quis isso: anonimato e tudo que me deram em troca foram o meu nome sendo tema de uma roda de fofocas.

12/24/2010

O baile.

Ao fundo uma música brega decorava o ambiente e inundava a sala com o tédio profundo,debruçado na quina da janela foi onde estava quando o encontrei. Reencontrei.
De primeira não soube quem era,seus cabelos estavam curtos,sua roupa era diferente das quais usava antes e adaptou pelo costume que era meu: cigarros.
Eu não sabia,ele não sabia mas eramos nos de novo e então a década de oitenta voltou a minha cabeça como um flash e me lembrei daquele verão que passamos juntos no acampamento quando tínhamos oito para nove anos,foi quando nos conhecemos.
- Ei,Elli - Uma voz atrás de mim chamou
Girei antes que o moço da quina da janela pudesse olhar junto. - Sim?
- Sou Troy,amigo do seu irmão. - Dois beijinhos,sorriso sem dentes.
- Prazer,Troy!
- O prazer é meu! - Ele segurou minha mão e a levou ao alcance dos seus lábios e a beijou.
- O que posso fazer por você? - Perguntei recuando a mão e o corpo.
- Uma dança? - Ele estender a mão ao vento.
- Ah! - Eu suspirei. - Bom,sabe o que é?Meus saltos estão me matando e eu tô achando essa festa um saco e como você é o filho da dona da festa eu não quero mentir sobre a mesma,então,acho que essa dança fica pra depois.
Ele não sorriu. Eu sorri. O cara da quina da janela,que agora estava de frente para mim e Troy (com os cotovelos apoiados na quina),gargalhou baixinho.
Troy adentrou o salão de festas e sumiu entre as pessoas antes que eu pudesse fingir solidariedade e conceder uma dança. Me senti aliviada,de fato.
- Você é Elli? - O moço da quina perguntou.
- Sim? - Não era para ser uma pergunta,reformule isso,idiota. - Digo,sim,sou Elli. A gente se conhece?
- Talvez não lembre de mim. Sou Nate. Nathaniel,na verdade. A gente estudou juntos no ginásio e passamos uma porção de férias de verão juntos. - Ele sorriu
- Sim,eu me lembro de você,apenas não tinha reconhecido. Como vai? - Eu sorri junto.
- Bem,bem e você? Parece ótima.
- É,estou bem. O que trás você de volta a Maddri?
- As coisas não deram muito certo no Brasil e eu voltei com a Mayra.
- Mayra? Sua esposa? - Essa doeu,heim?
- Ah,não,Mayra é minha irmã mais nova. E você,está casada,namorando,enrolando?
- Ah que isso,não estou nenhuma dessas coisas que você mencionou.
Rimos juntos,na mesma freqüência,sua mão tocou meu ombro e eu estremeci.
- Ei,Elli,a gente costumava sair no ginásio,lembra disso?
- Oh,sim,claro! Saiamos sim. Principalmente pra ir na sorveteria ao lado da sua casa. - Eu sorri e corei.
- Ah,vamos,era um encontro. Naquela época tocar na mão de uma garota já era um encontro.
- É verdade! (...) Se lembra quando você me mandou flores pela primeira vez e eu sai correndo chorando? Nunca me esqueço.
- Como esquecer? Eu gastei minha mesada toda comprando aquelas flores e você nem agradeceu.
- Obrigada pelas flores.
- Não por isso.

Durante horas eu e Nath ficamo ali parados conversando sobre todas as coisas que vivemos juntos,tantos planos que fizemos juntos e não realizamos nenhum,tantas noites mal dormidas por um cara,tantos choros de saudade que pareciam acabar naquela noite. Nath e eu eramos iguais,ainda,parecia que nada havia mudado exceto pela altura,corte de cabelo e charme mas ainda sim era o "Ellizinha" e o "Nathzinho",o casal mais zoado da turma por eu ser dois centímetros maior que ele mas ele cresceu e eu estou há uns dez centímetros de alcançar ele.
A noite corria,voava,o tempo não dava chance nem trégua e o dia logo chegou. Amanheceu em Maddri e o céu quentinho misturado com o ar gelado me fez bater o queixo.
- Aqui,tome. - Nath tirou seu casaco e passou pelo meu ombro.
- Obrigada. - Eu tentei sorri com os lábios trêmulos mas não deu.
- Ei,se lembra da nossa formatura?
- Sim,o que tem ela,Nath?
- Naquela noite a gente terminou o namoro e você dançou com o Oliver,aquele garoto que todas as meninas babavam e você acabou dando o seu primeiro beijo nele.
- É verdade,tinha me esquecido.
- Ainda estamos em um baile. Bom,o seu vestido não é de princesa mas é bem melhor,a música daqui é meio brega mas ainda sim é um baile.
- O que está sugerindo?
- Elli,quer dançar comigo?
Sorrindo eu respondi que sim e caminhamos ao meio do salão onde mais ninguém estava disposto a dançar e dançamos. Pela primeira vez em nossas vidas juntamos nossos corpos e sentimos o coração um do outro. E pela primeira vez em muito mais de quinze anos,eu e Nathaniel nos beijamos pela primeira vez.

12/23/2010

É um tal de achar que eu não acho mais nada.

Achava que eu entedia sobre Biologia até eu perder na matéria,achava que tinha bastante amigos até todos me darem as costas quando eu mais precisei,achei também que tinha vida quando a última pessoa que eu pensei veio e a sugou para ela. Achei que tinha,na minha memória,tudo que eu tivera passado de bom mas quando fui deitar um dia desses esqueci do que tinha feito ontem. Achava,acho,achei. Nunca achei nada que me fizesse ficar,na verdade. Achava que podia salvar a mim e a todos dentro da minha bolha intocável até que algum ser humano cruel veio com uma mera agulha e fez a minha bolha se esvair no ar. Achava que Branca de Neve,Papai Noel,Coelhinho da Páscoa,Príncipe Encantado e todos os lenga-lengas que te contam quando crianças,existiam. Achei,por uma porção de vezes,que estava apaixonada por um cara que eu nem se quer sabia o sobrenome mas não estava,nunca estivera e nunca ei de estar. Aprendi que não posso achar o que não quer ser encontrado e por isso,me perdi também mas com o intuito de que algum dia alguém se lembrasse de mim e viesse atrás do que restou das boas lembranças e me salvasse. Salvaria? Não sei. Muitos me deixaram achar quando tudo que eu precisava era ter certeza mas me deixaram lá,me deixaram morrer. Eu e minhas dúvidas,eu e os meus achados e perdidos mais complicados do que achar uma agulha no palheiro. E não achei,nunca achei mas também nunca procurei tanto assim pra achar algo que está perdido e tudo bem se eu não achar mais nada nessa vida,só quero acreditar que tudo que eu preciso nunca precisou ser achado por que tudo que eu preciso nunca se perdeu.

Alguma coisa qualquer no meu mundo morreu.

Ouço música alta em uma casa silenciosa,fumo cigarro em um quarto que depois que eu saio fica com cheiro de coisa antiga,bebo café em uma mesa que ninguém mais sentou além de mim e escrevo textos pra ninguém,só pra me confessar mas não tenho feito direito. Atendo algumas telefonemas de pessoas preocupadas se eu ainda estou vivendo e muitas vezes as conversas não duram mais que meio minuto. As pessoas não têm tempo mais pra viver e também não têm mais tempo pra mim. Um dia,eu escrevi em algum lugar do passado que eu mudaria o mundo mas eu nunca soube como e nunca tomei essa inciativa e agora vejo que mudar o mundo não me satisfaz. Mudei de casa,de telefone,de roupas,de idade,de ano mas as coisas parecem estar cansadas de uma mudança que não se muda só se reinicia. Estou sozinha por que quero estar,por que gosto de estar só,por que aprendi que sei viver só e que não preciso de ninguém. Eu não aprendi a mentir muito bem,ainda,mas estou tentando mudar isso. Passo dias,tardes e noites em um lugar fechado onde há janelas que me fazem ver o horizonte mas de nada adianta ter o horizonte,ter uma paisagem bonita se não tem com quem compartilhar. Tenho problemas com as pessoas. Nunca fiz nada para que gostassem de mim e nem para que me odiassem mas ainda assim tenho poucas que me amam,muitas que me odeiam. Adentrar meu coração é uma forma de resolver os meus problemas que não existem. Cansei de viver de novela,de filmes românticos onde passam a idéia de que o amor existe (sim,ainda existe) e que logo você encontrará o seu Sr.perfeição. Cansei de olhar o relógio e ver que o tempo corre e eu ainda estou sentada,parada no tempo,vendo o mundo mudar enquanto eu não mudo. Eu não sei como se inicia uma nova projeção de mim mesma mas estou certa de que,com mais tempo,irei descobrir. Eu cresci e as pessoas não tem mais paciência,tempo,sorriso aberto e palavras carinhosas pra mim e isso me fez ser como elas: frias. Viver,pra mim,não é algo do qual eu goste mas me disseram que suicídio é algo ainda pior então descartei essa opção,prefiro me matar com uma carteira de cigarro ou uma garrafa de qualquer whisky barato que vendem nesses postos de gasolina. Estou procurando salvação mas não falo da salvação que se encontra em Deus ou na igreja,até por que não acredito que alguém tão importante assim tenha tempo pra me salvar do meu próprio buraco negro. Não me incomodo em estar e permanecer só,acho que me incomodo muito mais em viver no mundo onde ninguém dá a mínima se você é ou não triste. Sinto falta de amigos que paravam suas rotinas e vinham me buscar pra tomar um café no restaurante ao lado,falta do silêncio da biblioteca que por mais que fosse silêncio você estaria acompanhada de uma boa leitura que faria você se sentir menos mal por sem quem és. Já li e reli todos os meus livros mas o silêncio dessa casa é incômodo demais para alguém tão só como eu. Não tenho mais vontade de nada e um dia desses quase me perdi no que eu sou. Esqueci como é ser feliz,como é ter amigos,como é ser alguém bem e bom para um outro alguém. Estou tentando mas não me culpe se eu não conseguir.

12/18/2010

Maiores medos.

Tenho medo.
Às vezes,acordo de um pesadelo querendo gritar mas não consigo,como se algo ou alguém estivesse prendendo o meu grito e tudo que eu posso fazer é me encolher,abrir os olhos e esperar o coração desacelerar. Nesses dias,nos dias de pesadelos,eu não durmo na noite seguinte ou então demoro a dormir pois tenho medo de sonhar com algo ruim.
Assisto filmes de terror por que nenhum deles me dão medo porque sei que são filmes e não são reais,desde pequena tenho em mente o que é real e o que não é. Sei distinguir verdades e mentiras. Pelo menos eu achava que sabia.
Tenho medo das pessoas.
Elas são arfáveis,confiáveis,engraçadas,românticas,simpáticas,agradáveis e todos os "as" e "eis" que puder imaginar. Mas elas são assim somente na sua frente. Na frente de outros elas também são assim mas isso é jogo. Como quem brinca de montanha-russa a vida inteira e nunca se cansa. Mal sabe essas pessoas que um dia o embrulho no estômago chega.
Tenho medo de altura.
Não olho pra baixo mesmo que eu esteja há um metro de distância,evito passarelas,evito lugares altos e eu nunca me divertir em parques por medo. Eu sempre acho que a gravidade da Terra vai acabar me puxando e me estatelando no chão.
Tenho medo de sentimentos.
Às vezes os confundo,às vezes confundo pessoas e por isso,às vezes,tenho medo deles. Não sei como usa-los,a favor de quem e pra que. Pra mim,essa coisa de amar é cruel e complicada. Você pode amar quem te ama e se você ama alguém que não te ama,esqueça. É simples visto de cima. É cruel dizer isso para quem passa por isso. Visto cara-a-cara,tudo muda.
Tenho medo de mim.
É meu maior medo. Tenho me mantido em silêncio,em ponto de ataque,em observação. Vivo só e isso me deixa com mais tempo pra pensar. Penso tanta coisa que me assusto com minha imaginação. Tenho medo do que posso causar a mim mesma. Das mentiras que invento não só para os outros como para mim,e acredito nelas.

12/14/2010

Diário de uma solidão.

Não escrevo há dias,talvez semanas. Não tenho inspiração pra mais nada desde que levaram minha alma embora. Vinte e quatro horas são poucas horas para se viver.
Tenho me importado menos:pessoas,lugares,coisas. Tenho quase esquecido que tenho a obrigação de me importar até comigo mesma.
Sou uma garota a mais na arquibancada do imenso estádio de futebol,sou mais uma em meios de uma passeata pra legalização de qualquer droga. Sou mais uma e tenho me acostumado a ser mais uma desde então.
Além de mais uma,sou só mas ainda me pego pensando se isso tudo é solidão ou se sou mesmo uma garota solitária e pra quem contra-argumentar existe uma grande diferença em solitária e solidão.
Café quente é a unica coisa da qual tenho me abastecido ultimamente,cansei de devorar amores alheios em um prato imundo de um boteco enquanto eu comia as sobras do que restava do amor dos outros enquanto eles se deliciavam no incrível banquete para dois.
Tudo que havia no meu estômago está começando a ir embora,as borboletas foram embora,também. Quase me esqueci como é essa sensação de ter sua barriga formigando por dentro,como se você se fizesse cócegas e as sentisse.
Acho que gosto de um cara mas cansei de achar muita coisa,da ultima vez que achei algo eu o perdi no mesmo instante por medo de falar algo que pudesse mudar nossas vidas. Não sei se gosto dele. Acho,bendita palavra escrota,que eu gosto da idéia de gostar de alguém.
Sabe aquele gostar tímido e ingênuo?O mesmo gostar que você tinha pelo seu coleguinha de trás na segunda série?É esse gostar do qual falo. Acho que as pessoas perderam-se e não querem ser encontradas quando o assunto é amor verdadeiro. Quero me perder e não se encontrada,também.
O quarto está vazio há tempos,também. Mas esse sempre esteve. Nunca me vi com alguém tempo ou intensidade suficiente para que acabasse na cama do meu quarto. Não durmo na minha cama há dias. Na verdade,não durmo mais.
A casa,pela manhã,cheira a grama recém cortada porém,a noite,fede como um puteiro em João Pessoa.
Guardei algumas cartas que fiz para ninguém e percebi que de tantas cartas que escrevo nenhuma tem uma idéia feliz,todas falam da minha decepção com eles ou como eles me deixaram,como vão me deixam ou como eles me amam demais e é a hora de eu deixa-los. Não consigo ser feliz nem nas minhas mentiras.
Tenho um Mr.Mistério do qual pode ser qualquer uma pessoa no planeta. Eu guardo para ele não só meu coração mas meu corpo,minha alma,minha vida. Estou morrendo aos poucos,a cada dia que passa morro um pouco mais.
Ligo a tv,às vezes,para que eu possa ouvir as vozes de outras pessoas e não só da minha mente me gritando palavras amargas que quando chegam no sistema nervoso causam impacto.
Outro dia cortei meus pulsos com um pequeno pedaço de vidro do copo que eu deixei cair sem querer,essa era a segunda vez que eu me auto-mutilava e sem uma explicação lógica e coerente nem para mim mesma me fiz acreditar que eu fazia isso apenas pra me ver sangrar mas eu sabia que não era somente por isso. Tinha mais coisa ali. É estranho e doentio mas quando eu me corto me sinto longe de todas as coisas ruins que me fizeram chegar aquele ponto. Enquanto eu me cortava não existiam mais problemas. Aquela dor era altamente suportável e eu era quase que feliz por uma breve fração de segundos.
Tenho chorado lágrimas amargas,de solidão,de tristeza quase que todas as noites antes de me iludir achando que consigo dormir e a cada vez mais parece que perco pedaços de mim que se vão para sempre e mesmo que eu volte atrás e faça tudo igual,jamais verei esse pedaço meu novamente. Estou em metamorfose e a sensação não é tão boa quando parece.
Não há muito o que se fazer,algumas pessoas nascem para sentir o gosto amargo do que a vida. Eu sou a escolhida número um,se você se interessa em saber.

Tudo aquilo em que acredito.

Creio em possibilidades. Creio que se você quer muito alguma coisa,você consegue. Creio que nos somos um pequeno pedaço de Deus enviados separadamente a Terra para que então,aqui,possamos nos juntar e formar alguma espécie de obra divina. Acredito em coincidências,em sorte,em acaso mas acredito muito mais em destinos. Acredito que tudo está predestinado,que o que estamos vivendo,o que vamos viver e o que já vivemos estão escritos em uma espécie de livro sagrado de Deus onde ele narra cada escolha nossa e cada conseqüência,quase parecendo uma brincadeira estúpida de jogar com as pessoas mas as pessoas têm outras idéias e outros pensamentos a respeito disso,acreditam muito que Deus é soberano mas não acreditam que ele seja real ou que ele tem o poder absoluto sobre tudo e todos. Discordo. Comecei a estudar,a aprender,a ter interesse por coisas novas,por curiosidade acabei acreditando que podemos saber metade de tudo e com isso acredito,agora,em meias-verdades que me contam e que conto para mim mesma. Meias-verdades de livros,contos e histórias,não de pessoas. Não acredito mais em algumas pessoas que não me demonstram confiança. Não sei dar de graça minha fé para as pessoas e é por isso que eu acreditava no amor. Eu acreditava cegamente que um dia eu iria encontrar um cara. E eu encontrei. E por duas curtas semanas fomos a obra divina que eu sempre sonhei em conhecer mas terminou de uma forma tão estúpida,cruel e eu,por pouca experiência em acreditar em pessoas,sangrei por dentro e por pior que fosse dizer aquilo para mim mesma,eu ainda preferia que um ácido tivesse corroído todo meu sistema digestivo ao invés daquele amor corroer meu coração. Acreditava muito nisso mas não acredito mais tanto assim. Alguém que te ganha ou te perde em uma brincadeira de mau-me-quer-bem-me-quer não merece nem ao menos que você acredite que essa pessoa seja humana de verdade. Mas sou tolerante,não guardo mágoas e não encho meu coração de ódio,apenas esqueço e sigo em frente. Seguindo em frente eu descobri que sou minha maior prova de que posso viver sem acreditar em razões para o amor,em razões para amar por que quando você tem amor-próprio você passa a acreditar em você primeiramente e depois você tem a opção de escolher se você quer acreditar no mundo.

12/03/2010

Sem sorte no jogo,feliz no amor.

Vou acabar com isso agora! - Pensou Lara enquanto ia em direção a Ramon e seus amigos.
- Por que não me ligou noite passada? - Lara perguntou com uma voz meia rouca mas ainda sim bastante firme.
Ramon se virou de onde estava conversando com alguns amigos e logo quando ouviu a voz de Lara,cruzou os braços.
- Não somos namorados. Não tenho obrigação de te ligar todas as noites. - Ele sorriu de lado e deu as costas voltando a conversar com seus amigos.
- Ramon,não me deixa falando soziha! Podemos conversar longe dos seus amigos? - A voz de Lara mudara para fraca e muito rouca.
E então ele,contra sua vontade,virou-se em direção a Lara e foi andando para de baixo de uma árvore que ficava há um raio de quinze metros aonde seus amigos estavam. Chegando lá,parou e reencostou-se na árvore de braços cruzados.
- E então,o que você quer falar? - Ele perguntou tirando uma carteira do bolso.
Lara não falou,deu um suspiro tão alto que aquele silêncio já era um mar de palavras. Pobre Lara,nunca saberá que nenhum menino entende esse mar de silêncio de uma garota,exceto quando ela diz.
- E então? Vamos ficar aqui a tarde inteira?
- Estou grávida!
Ramon olhou Lara nos olhos e viu quase um brilho dentro deles mas antes que pudesse desvendar o que era,ele acendeu seu cigarro e deu duas tragadas. Observou seus amigos de longe,alguns olhando pra eles dois e outros conversando sobre outros assuntos.
- Parabéns! Quem é o pai?
- Como assim quem é o pai? - Lara arregalou os olhos. - Claro que é você. Você foi meu primeiro e único homem.
- Impossível ser meu,Lara,usamos camisinha e eu teria sentido se algo tivesse dado errado. - Outras duas tragadas.
- Não sei o que aconteceu,só sei que um filho não pode apenas cair do céu e entrar dentro da minha barriga por forças sobrenaturais,estou grávida e só tenho 17 anos. O que nós vamos fazer?
- Você fala como se você fosse a única garota de 17 anos no mundo que estivesse grávida. Baby,as coisas acontecem. Eu tenho 18 e nem por isso estou nessa maré de desculpas esfarrapadas. E enquando a "nós" esqueça,não temos e nunca tivemos nada e agora que você tá grávida acho melhor a gente parar de sair também.
- Como assim,Ramon? Estou esperando um filho seu e você me diz que não existe e que nunca existiu nós? Do que você tá falando? É uma criança,a nossa criança,vamos ser pais e você precisa me ajudar a cria-la! - Nesse momento Lara entrou em pânico,suas mãos e pernas bambeavam a todo custo,suas bochechas e o seu colo estavam muito vermelho,as lágrimas já estavam prontas pra cair.
- Larinha,meu amor,entenda: Estavamos nos divertindo. Eu não vou ajudar você com essa criança,não quero ser pai,se você quiser eu te ajudo a conseguir um aborto mas é tudo que eu posso fazer por você.
Lara encarou Ramon,seus olhos que agora jorravam lágrimas de ódio estavam tão vermelhos quanto todo o resto do seu corpo,a mistura de emoção nesse momento foi muito grande e ela não se controlou ao dar um tapa na cara dele.
O silêncio que se seguiu após o tapa aquietou todo o campo,os amigos de Ramon estavam calados,as árvores tinham parado de balançar,tudo que se ouvia era a respiração ofegante de Lara e a pulsação das veias do pescoço de Ramon quase latejando.
- Não vou abortar uma criança. Se você não quer esse filho o problema é todo seu,eu não quis mas vou arcar com as consequências e terei essa criança e serei pai e mãe. Ramon,nunca mais ouse me procurar.
Sem deixar Ramon argumentar ou reclamar sobre o tapa,Lara saiu correndo pelo campo e sumiu entre as árvores. O caminho até em casa foi repleto de perguntas,de choros,soluções,de xingamentos contra ele e contra si própria. Lara se odiava tanto naquele momento que poderia se matar mas agora ela tinha um outro alguém pra pensar além dela e era só por isso que ela estava ali naquele momento.
Ao chegar em casa com o rosto vermelho,aquela carinha de choro e querendo chutar o primeiro animal que aparecesse,a mãe e o pai de Lara a seguiram até seu quarto e tentaram calmamente manter um diálogo com ela. Lara estava nervosa,não sabia como falar para os pais sobre aquilo,afinal de contas eles eram religiosos e a condenariam para o resto da vida mas se não falasse agora os meses iam passar e sua barriga seria um problema.
Sentados na cama de Lara,os pais dela estavam preocupados e a ouvidos ao que ela tinha para contar.
- Estou grávida! - Lara falou pasando a mão pela sua barriga e caindo em lágrimas mais uma vez.
Não houve nada,nem gritaria,nem choro,nem alegria,nem tristeza... absolutamente nada. O pai de Lara levantou-se e aproximou-se de Lara e propós a lhe dar um abraço e saiu do quarto logo em seguida. Sua mãe não foi diferente,levantou-se e afagou sua mão e deu um sorriso falso e disse:"parabéns,criança."
Os dois primeiros meses logo após a conversa com os pais foram atormentados pela vaga conversa que tinham. Quase não se falavam,quase não se olhavam e pra eles pouco importava quem era o pai pois sabiam que não ia ajudar em nada saber quem foi o filho da puta desgraçado que engravidou a filha deles.
Lara continuava indo para o colégio,tinha enjôous às vezes e diversos desejos por alimentos quase sempre estranhos. Sua melhor amiga Olivia e seu melhor amigo Paul sabiam desde o início sobre sua gravidez e desde sempre a apoiaram com o bebê,sabiam que não seria fácil mas prometeram ajuda-la no que fosse necessário. Sem eles,Lara não seria nada feliz e não estaria nada legal.
Algumas vezes encontrava-se com Ramon pelos corredores da escola mas ele sempre estava ocupado conversando com outra garota ou jogando bola com os amigos,desde a conversa e o tapa na cara eles não se falaram mais e ele não mais olhara para Lara.
Três meses se passaram e Lara já estava com sua barriga um tanto a amostra,como era bastante magrinha aos seis meses de gravidez sua barriga ainda era um tanto pequena mas ainda sim já ouvia-se os comentários de que naquele barriga não havia gorduras e sim uma criança. Agora as pessoas da escola a tratavam diferentes,algumas ajudavam ela com as lições,com qualquer coisa que pudesse machuca-la ou afetar o bebê e outras pessoas olhavam e comentavam sobre uma garota tão nova com pais evangélicos ter um bebê e a recriminavam por isso. Ramon ouvira muito sobre seu filho mas nunca quis saber sobre o tal,Lara ainda era insignificante pra ele e há pouco mais de três semanas iniciara um romance com uma novata loira e toda-gostosa-pronta-pra-dar mas era obvio que aquele romancezinho não passaria daquela semana,quando ele conseguisse levar ela para o banco de trás do seu carro.
Era um menino bem forte e bem saudável que Lara carregava com ela. Ia se chamar Paul Oliver em homenagem aos seus dois melhores amigos que sempre estivera com ela. Em sua casa,agora,as coisas iam bem,sua mãe já estava acostumada a ter um neto e o seu pai até já gostava da idéia de ter uma outra criança correndo pela casa daqui há alguns anos.
Naquele dia,logo depois da escola,Igor foi até a casa de Lara. Igor era um dos melhor amigos de Ramon e soubera desde cedo que Lara era uma garota especial que apenas não foi dada o valor merecido.
- Oi! - Disse Lara surpresa ao abrir a porta com uma das mãos na porta e outra em sua barriga.
- Ah,oi! - Disse Igor,sorrindo pra ela. - Posso conversar com você?
Lara assentiu e deixou que Igor entrasse. Seus pais naquela tarde estavam na igreja e a casa,vazia.
- Então,o que sobre quer conversar? - Disse Lara sentando-se no sofá e apontando para a poltrona para que ele sentasse também.
- Ah,obrigado! - Ele sentou. - Sobre você,seu filho e Ramon.
- Ele que te mandou aqui? Por que se foi...
- Não,não! Eu vim por conta própria.
- Então,continue.
- Lara,desde aquele dia no campinho quando você contou para Ramon que estava grávida eu percebi que você era uma garota diferente,especial,não sei dizer como mas sinto que você têm algo do qual eu preciso. Então,desde aquele dia eu venho percebendo que eu sou apaixonado por você. Eu sei que é complicado tudo que você já passou e ainda passa e vai passar com essa criança mas eu estou disposto a ficar ao seu lado,ser um pai pra essa criança e cria-la como se fosse meu. Eu só queria que você soubesse que eu amo você.
(Silêncio. Olho nos olhos. Ele se levanta e vai até ao sofá onde Lara está sentanda. Ele senta ao seu lado. Olhos nos olhos,outra vez. Um beijo. Um sim como resposto. Um começo de uma nova vida.)
A tarde e a noite que se embalaram aquele beijo foi melhor do que todos os meses no qual Lara se envolveu com Ramon. Tinha carinho,tinha afeto,tinha um poço de amor sem fim e tinha o brilho no olhar de volta nos olhos daquela garota e agora,tinha também,um sorriso calmo e sincero e agora o dono daquele sorriso tinha mudado de nome e se chamava Igor.

Na manhã seguinte,Lara e Igor se encontraram em frente a escola e entraram de mãos dadas,sorrindo um para o outro e todos que ali estavam pararam para ver o que tinha acontecido e alguns se perguntaram como seria possível isso ter acontecido,outros já diziam que isso estava obvio demais,tudo estava relativamente bem até chegar aos ouvidos de Ramon.
- Ei,Lara! - Gritou Ramon enquanto Lara subia as escadas para ir a sala. Os corredores já estavam vazios,Igor já estava na aula e Lara se atrasara por causa da ligação de sua mãe.
- Ei,Lara! Não me ouviu? - Disse ele subindo as escadas correndo.
- Ouvi! O que você quer?
- Conversar,podemos? - Ele sorriu
- Não,não podemos! Não temos nada pra conversar.
- Sim,temos.
Lara então virou-se e saiu mas Ramon a segurou pelo braço e a fez voltar. Lara se assustou,Ramon ainda segurava seu braço.
- Me solta! - Ela puxou seu braço.
- Vamos conversar?
- Diga!
- Está namorando mesmo o Igor? - Ele franziu a sombrancelha.
- Sim,estou! - Ela cruzou os braços.
- Eu exijo que você termine com ele agora. Meu filho só vai ter um pai e esse pai sou eu.
- Ele só tem o seu DNA,infelizmente,mas o pai dele apartir de ontem em diante se chama Igor.
- Se você não terminar com ele eu vou fazer coisas que você não vai gostar.
Lara riu ironicamente. - O que? Vai me matar?
- Vou destruir o motivo que fizeram vocês dois ficarem juntos.
- Do que você tá falando?
- Se essa criança ai dentro foi o motivo de vocês estarem juntos,vou acabar com ele.
- Como assim acabar? - Lara estava gritando.
Ramon puxou ela pelo braço e a fez chegar mais perto dele,ela tentou ir para trás mas ele era bem mais forte que ela. Ela se retorceu,se bateu contra ele para tentar sair mas não conseguiu e quando ele finalmente a largou,Lara se desequilibrou e caiu da escada. Nesse mesmo instante o sinal da escola soou e todos os alunos sairam das suas salas.
Lara estava desmaiada e sangrando. Todo mundo que viu fez uma roda em torno dela e alguns olhavam com reprovação para Ramon. Igor chegou empurrando todos que estavam na sua frente e conseguiu chegar até Lara.

No hospital,Lara conscientizou-se da situação bem rápido. Ela havia perdido o seu bebê. Toda dor e silêncio que havia naquele quarto de hospital fizeram Lara sangrar por dentro. Ela já tinha decorado todo o quarto do seu bebê,já imaginava as primeiras fotos dele,a primeira palavra,o dia em que ele aprenderia a andar. Ela sonhava com seu filho e com seu novo amor juntos,como uma família mas o mesmo garoto que brotou essa felicidade quase sem querer a tirou por querer. Desde que Lara acordou tudo que ela queria e conseguia fazer era chorar muito e algumas vezes caia no sono por causa dos sedativos.
Na sala de espera estavam Ramon,Igor,Olivia,Paul e os pais de Lara e todos contra Ramon está naquele lugar. Assim que o médico adentrou a sala,Igor quis saber das condições da sua amada.
- Ela está bem fisícamente,o problema dela agora é apenas emocional. Nenhuma mãe fica bem depois de ter o seu bebê perdido.
- Posso vê-la? - Apressou-se Igor.
- Desculpe,senhor,mas só pode ir um de cada vez e ela me pediu pessoalmente que gostaria de falar com aquele garoto de cabelo enroladinho. - Apontou para Ramon. - Seu nome é Ramon,senhor?
Ramon levantou-se e sorriu para o médico que o desprezou e o chamou com a cabeça.
Dentro do quarto onde Lara estava havia flores,balões rosa em forma de coração e tinha alguns presentes que ela não quis abrir. Duas batidinhas na porta e Ramon adentrou a sala. Lara estava com o olhar perdido,com o rosto virado para o lado contrário da porta.
- Queria falar comigo,princesa? - Sussurrou Ramon.
- Porque você fez aquilo?
- Eu não fiz nada,você apenas se desequilibrou. Acha que eu mataria nosso filho?
- Ele não era o seu filho,era meu!
- Eu o fiz junto com você,por tanto,era meu também.
- Que seja! Mas agora ele não é de mais ninguém por que ele morreu,Ramon. Você escutou isso? Ele morreu! Você matou meu filho.
- Não fique assim,podemos fazer outro se esse é o problema.
- As coisas não são assim! Não é assim.
- Você é muito complicada. Pensei que pudessemos voltar depois disso já que você não tem mais aquela criatura dentro de você mas eu estava errado. Você e o bundão do Igor se merecem,duas criaturas nada certas. Adeus Lara.
Antes que ela pudesse falar algo,Ramon saiu do quarto e passou as pressas pela sala de espera sem se dispedir de ninguém.
Igor então saiu correndo e entrou na sala de Lara para checar se estava tudo bem. Nada de novo,seu estado emocional estava abatido e agora pior com tudo que Ramon lhe dissera mas ela,de certo modo,estava feliz. Ela tinha Igor com ela. Ela tinha o seu amor consigo,então,o mundo que se dane.

Alguns dias depois,recuperada fisicamente e meio conformada com sua perda,Lara foi para casa e seus pais a receberam junto com seus amigos e alguns familiares. Tudo naquela casa era novo pra Lara já que ela não passava por ali há muitos dias. A primeira coisa que fez foi subir para o seu quarto onde pode a voltar a ser apenas a menina de 17 anos e não a mãe que estava sendo durante esses seis meses. Trancou-se lá por algumas horas e por fim percebeu sua secretária eletrônica piscando. Apertou o botão e ouviu alguns comentários do qual dizia que ela ficaria bem,que estavam torcendo por ela,que fizeram até uma comunidade pra ela em uma página de relacionamento e que todo mundo tá procurando por ela no myspace,até um amigo dela virtual resolveu ligar para dizer que sentia falta dela. Ela sorriu e chorou de tanta emoção ao ouvir todos os recados,mas faltava um. O último. Apertou o botão novamente e ouviu. Era a voz de Emma,irmã mais velha de Ramon.
"Ei,Lara,soube da sua perda e eu sinto muito,sinto mais ainda por que sei o que houve. Estou pessima também,sei que não é do seu interesse mais mas eu só queria te avisar que o Ramon sofreu um acidente de carro ontem e não sobreviveu,o enterro foi hoje de manhã e foi horrível por que só tinha eu e minha mãe no tumúlo dele. Eu sinto muito por te contar isso e por você,espero que fique bem."
Já não bastava aquilo tudo que tivera sentido nos ultimos dias? Ainda teria que viver com a consciência de que o primeiro cara da sua vida,o que ela amou pela primeira vez,estava agora morto? Era demais pra ela mas não sabia como reagir,não sabia o que fazer mas o mundo não acaba porque uma pessoa morre,ao contrário,a vida começa pra outra pessoa que nasce.

Dois ou três meses depois de todo os icidentes e acidentes,Lara estava feliz junto com seu amor. Igor se mostrara um garoto muito bondoso,muito carinhoso,trabalhador,paciente e muitas qualidades que só se encontrara nela. Ela tinha acertado na loteria. Ele era perfeito e a amava muito. Ela era grata por ter aquele homem na sua vida. Ela estava completamente apaixonada por ele.
Com as mãos entrelaçadas na dela,Igor sorriu e perguntou:
- Ei,Lara?
- Sim? - Ela levantou o olhar.
- Você quer casar comigo? - Ele sorriu.
Ela sorriu. Sorriso grande. Sorriso que berrava um sim.
E foi assim,somente assim,que a mocinha da história deve seu final feliz.