7/14/2013

A rachadura em um castelo de vidro.

Os pensamentos sombrios estão de volta. Eu senti que eles chegariam mais cedo ou mais tarde mas não esperava uma chegada tão rápida. Quando eu parei de pensar sobre as coisas ruins, sobre as coisas sombrias dentro de mim, foi quando eu percebi que eu podia viver plenamente e sem mais escuridão dentro de mim e agora eu percebi que estava redondamente enganada. Não posso competir com a escuridão que me assola o peito, eu não posso competir com essas imagens tortuosas e com essa gritaria dentro da minha mente que me faz lembrar da pessoa horrível que eu fui e que eu costumo ser, vez ou outra. Estou em pânico outra vez por que agora eu não tenho mais com quem contar, eu não tenho mais em quem me abrigar e eu preciso correr o risco de me manter inteira sem depender de ninguém e isso, às vezes, pode ser realmente algo bom – o fato de você não depender de ninguém para sobreviver – mas agora, nesse exato momento, eu precisava tanto de uma alma amiga pra me dizer que isso vai passar, que essas imagens terríveis vão sumir com o tempo e que essa dor que eu nem sei de onde vem ou para onde vai uma hora deixará de existir. Eu demorei tanto tempo pra perceber o quão solitária eu era que apenas agora eu vejo o quão solitária sou. Não tenho amigos, não tenho alguém para compartilhar coisas boas ou ruins, não tenho absolutamente ninguém que se importe verdadeiramente comigo. Pensando assim, penso na pessoa que eu era antes – antes de tudo isso começar. Eu era imensamente feliz me enganando com amizades e saídas, talvez por isso eu saísse tanto, bebesse tanto e fumasse tanto naquela época: eu tinha medo de ficar sozinha e ouvir o que minha mente tinha pra me dizer. Então, eu encarei isso de frente e me corrompi com o mundo. Hoje sou sozinha, solitária o suficiente para ter como amigo apenas as vozes dentro de mim – embora sejam as vozes mais tristes e sufocantes que alguém pode ouvir. Antes, quando isso iniciou, eu fiquei por um fio entre o aqui e o lado de lá. Agora, que isso está de volta, penso que dessa vez eu realmente estarei do lado de lá quando ninguém esperar. Eu sou só uma rachadura em um castelo de vidro. E o castelo está se desfazendo, cada dia um pouco mais.

7/03/2013

Notas de uma madrugada qualquer.

Tomei mais café do que eu costumo e mais do que deveria, por isso a insônia talvez esteja tão presente hoje. Penso no café e logo acendo um cigarro, mesmo que só haja mais dois goles. Café com açúcar demais, terrível. Então estou no fim do cigarro, repus a xícara do café e liguei a TV bem baixinho por que estou tão acostumada com o barulho dela, embora eu pouco a tenha visto nos últimos anos. Então lembro que só tenho assistido TV pra ver as crises que andam acontecendo no mundo – geralmente tem algum jornalzinho de merda passando tentando me dizer que 2+2, no mundo atual, deixou de ser 4. Desligo a Tv por que o barulho atrapalha a música que acabei de dar o play. Esteban tem sido companheiro de longas madrugadas. Por falar nele, lembro que escrevi sobre uma música dele. Logo, lembro que eu escrevi para aquele garoto. Puts, eu deveria estar dormindo. Quase duas. Embora eu só tenha conseguido dormir, ultimamente, lá pelas quatro ou cinco. Penso em mudar minha rotina a partir da semana que vem, mas é quase como dieta – prometo que começarei e nunca cumpro. Ando me sentindo meio solitária e triste, numa dessas tristezas que não tem fundamento ou cabimento. Me lembro dos meus 14 anos, quando eu entrei em depressão e enlouqueci a ponto de precisar de psicólogo. Acho psicólogo coisa de maluco, então, me considerei maluca naquele tempo. Não acho certo você pagar pra ser ouvida – só maluco faz isso. Por falar em “ser ouvida”, lembrei outro dia do meu colegial... acho que senti saudade de acordar cedo mas isso era tudo. Não sentia saudade dos amigos, o que  é triste por que eram as pessoas mais próximas que eu tinha da amizade. Duas horas! Preciso esquecer a cafeína. Outro cigarro. Tosse do cão! Preciso parar de fumar. Vou parar de fumar. Amanhã começo. Semana que vem, talvez. Ando meio doente, doente mesmo! Febre alta e coisas corporais de gente doente. Se alastrou pela casa. Todos estão doentes. Por falar em casa, pretendo ir embora dessa. É, já deu. Não consigo mais. Tenho pra onde ir, só não quero ir pra lá. Mas vou assim mesmo, vai que é melhor? E se não for, bem, eu ainda posso voltar pra essa, embora eu não consiga mais chamar de lar. Lar é algo relacionado a família, paz e essas coisas. Minha família se perdeu há muitos anos, logo após o acidente trágico. Odeio esse acidente. Ou talvez, não. Quero dizer: não queria que houvesse o acidente, mas se não houvesse eu não estaria aqui. Gosto de onde estou. Digo, do presente em que me encontro – com essas pessoas, dos lugares por onde passei e tudo o mais. Se o acidente não tivesse ocorrido, eu teria ficado pela minha Terra Natal. Isso me arrepia. Soube que minha avó – a paterna – me ligou. Não liguei de volta. Não sei o que dizer. Tenho medo. Dá ultima vez que tentei contato com minha família paterna, fui renegada. Não gostei, achei ríspido e frio. Gosto da família daqui. São calmos. Exceto minha mãe. Por isso vou-me embora. É perto, tão perto que posso vim andando – embora não me arriscaria. Quero outros ares, outros sonhos. Os meus estão gastos. Três da manhã! O cigarro acabou. O café está frio. Acho que isso é “bom dia a todos, vou dormir!”