9/19/2016

A peça.

Constantemente, me vejo do lado de fora das coisas. Como se eu pudesse observar e absorver tudo aquilo que está ali, embora eu não consiga participar. Eu costumo ver o mundo das pessoas em pouquíssimo tempo e isto me dá a vantagem de permanecer ou sair daquele recinto sorrateiramente.

Não consigo pertencer a nada. Tudo é complexo e frágil demais para o meu toque. Costumo destruir tudo aquilo em que ponho as mãos. Aprendi da forma mais árdua que não posso me dar o luxo do prazer de me sentir confortável a alguém ou a uma situação porque, de uma forma enigmática, eu tenho um dom de estragar tudo de bom que a vida me dá.

Aprendi, ao longo dos anos, a fingir muito bem. Eu sei o momento exato em que devo sorrir ou quando devo falar. Eu sei exatamente o que falar. Eu construí uma muralha impenetrável entre mim e as pessoas e isso me trouxe privilégios que eu não teria caso eu me sentisse parte daquilo.

Eu analiso tudo muito bem. Sou minuciosa. Aproveito deixas para catalogar e analisar tudo aquilo ao meu redor. Sei penetrar a mente humana e sair dali como se nunca tivesse estado. As pessoas, geralmente, não entendem este poder de persuasão, o que me faz acreditar que emoções são mais perigosas do que não estar apto ao sentimento.

Eu costumava me esforçar para sentir, pertencer, entender, demonstrar. Eu fingia acreditar em seres superiores para que eu tivesse alguém para reclamar e culpar. Ao olhar para os olhos refletidos no espelho, eu percebi que não havia chance para mim naquele âmbito. Era eu por mim e eu não poderia contar com mais ninguém ao redor porque nenhum deles entenderia o que é ser assim.

Apesar de tudo, eu me comovo - ou talvez isso seja apenas parte da atuação do meu papel perante a humanidade - e sinto, de uma forma sútil. Constantemente, eu sinto indiferença. Dizem que é uma emoção. Do resto, eu não entendo. Nunca tive a capacidade de amar alguém, mas acredito que é um dos mais terríveis sentimentos, visando que é em nome dele que as pessoas matam e morrem diariamente.

Veredito.

Naquela noite, eu pensei:
"Vou me matar"
Era isso, nada mais importava
Nem as contas espalhadas na mesa
Nem as cartas escondidas na gaveta.

Naquela noite, eu comecei
Um processo lento e destrutivo
Saí pra beber com uns amigos
Esperava que isso acalentasse minha alma
Em vão, voltei pra casa sem um tostão.

Naquela noite, eu concluí
Nada adianta tentar sumir
Outros nascerão para me substituir
Seja no meu trabalho ou no meu relacionamento
Assim descubro que trata-se apenas de esquecimento.

Naquela noite, eu senti
O amargo do veneno
O doce beijo sereno
De algo que eu pensava nem existir
Me olhei no espelho e vi
Que apesar de todo sofrimento
Sou eu por mim neste tormento.

9/12/2016

Tempo

Tenho tentado arduamente esperar por você, mesmo que você não tenha pedido por isso e mesmo que tudo em você pareça querer me repelir. Continuo aqui porque, de alguma forma, parece ser a coisa certa a fazer por você e pelo que poderia vir a ser um “nós”.

Confesso que o processo de espera para mim é um tanto complicado, acredito que ninguém goste de sentar e esperar por algo – principalmente quando é incerto -, porque tenho visto as coisas mudarem e o tempo passar sem que nenhum raio de esperança mencione aparecer. E isso me apavora.

A angústia que a ausência causa é terrível. O teu silêncio é mais alto que um tiro. E tudo parece desmoronar quando eu começo a perceber que talvez eu esteja esperando totalmente em vão, que talvez seu caminho tenha sido alterado no percurso e você tenha ido em uma direção completamente oposta ao que eu esperava.

Talvez, no fim disto, eu perceba que mais uma vez o erro foi meu: expectativas geram frustrações desnecessárias. Eu tenho tido essas expectativas surreais de que, por carinho ou descuido, você voltasse de vez e não quisesse mais partir. E eu estou começando a entender que a possibilidade de te ver voltar está tornando-se cada vez mais decaída.

Eu não posso mais lutar por alguém que desistiu, por alguém que não vem, por alguém que não possui a capacidade emocional de se importar o suficiente. Eu não posso mais porque eu já estive tanto tempo em batalhas perdidas, lutando sozinha, tentando que o muro não fosse erguido, para que no fim não restasse nada além de mim e toda minha esperança destroçada. Aprendi que para ganhar uma batalha tão grandiosa você não pode ir a arena sozinha. E é aqui que a espera termina.  

9/11/2016

Acorde.

Não o vejo há um tempo, desde o dia em que eu saí do teu apartamento com o tênis nas mãos e o coração nos pés. O dia em que pude te olhar pela última vez foi o mesmo dia em que te senti pela última vez.

Voltei pra casa ouvindo aquela música que você me mandou uma vez. Na época, estava tão encantada com a idealização que fiz de você que nunca percebi a mensagem por trás daquela canção. Quando o primeiro raio de sol saiu, eu já estava voltando pra casa. Você tinha ido dormir. E eu passei quarenta minutos em pé dentro daquele ônibus chorando, pensando em como eu fui estúpida.

Aquela música tocou há alguns minutos. Pela primeira vez, desde que estive encantada por ti, pude reparar nela com outros olhos. Era só uma música de adeus, eu achava que era uma declaração de amor.

Você partiu. Não sei o que tem feito. Não procuro mais saber. Houve um tempo em que eu ia atrás constantemente, te procurava em outros rostos e outros toques. Isto acabou. Quando acordei e me dei conta, eu estava acabada e cansada de um pseudo-amor que eu sentira e nunca me voltou da mesma forma. Então eu parti.

Ouço a música com uma profunda tristeza, me faz lembrar do quão tola eu fui ao acreditar em coisas que só existiram dentro da minha cabeça enquanto você continua sendo quem sempre foi, não se importando com mais ninguém além de si mesmo. Espero que você tenha mudado isso, mas dessa vez eu não vou ficar pra ver.

“Looking back I almost thought I heard you say
Stay you're not gonna leave me
This place is right where you need to be
And why your words gotta mean so much to them
When they mean nothing to me
So stay you're not what you're hearing
'Cos I've been watching you changing
And who said you're one in a million?
You're so much better than that.”