6/23/2016

Pernicioso.

Sempre odiei cheiro de cigarro. Aquela porra parece que gruda em qualquer coisa que possa alcançar: cabelo, roupa e paredes. Tudo fica completamente impregnado e o ar passa com mais dificuldade pelos meus pulmões quando o ambiente está carregado com aquelas substâncias tóxicas usadas para matar ratos, mas eu fumo. 

Sempre penso em quão contraditório os humanos podem ser, começando por mim. Fumo pelo prazer de me ver morrer a cada tragada. Gosto de prender a fumaça do cigarro por mais tempo que os fumantes costumam prender. Isso faz com que eu quase consiga ouvir meus pulmões implorando pra que aquela fumaça se dissipe de mim. Eu demoro com a fumaça dentro do pulmão porque acredito que é o único espaço onde há rejeição e aceitamento sobre um mesmo infortúnio, mas meus pulmões estão pouco se fodendo para esta lógica que eu criei dentro da minha mente. Eles precisam de ar, precisam sentir o ar – mesmo que impregnado – e eu solto a fumaça. 

Dizem que a cada cigarro fumado perdemos cinco minutos de vida. Eu acredito que estou mais perto da morte a cada instante (e não estamos todos, afinal?) por conta deste processo irredutível de aspirar e manter a fumaça por mais tempo que o costume. Talvez seja a minha vez de entender melhor o outro lado. Mas eu não morro.

Fumo há sete anos. Há quatros anos fumo todos os dias. Um maço por dia. Vinte cigarros por dia. Cem minutos de vida perdidos. O tic tac do meu relógio interno é mais rápido que o do restante que me rodeia. Gosto da ideia de que em breve não estarei aqui para poluir mais o ar, mas ainda sinto uma profunda infelicidade ao pensar que outros estarão para me substituir. Como eu poderia morrer mais rápido senão fumando como uma pessoa de quarenta e tantos anos, quando tenho metade disso, e me oxidando de dentro para fora? Eu não. Todo santo dia busco uma maneira lenta e menos dolorida, ainda não achei algo forte o suficiente para que isto aconteça. Continuo tentando. 

6/22/2016

Cunho.

Ainda consigo sentir suas mãos deslizando pelo meu rosto, seguindo a curvatura do meu pescoço para o ombro. Consigo lembrar, vividamente, da sua mão na minha cintura. Consigo distinguir sua impressões digitais em cada parte do meu corpo. 

Ainda lembro dos teus olhos penetrando o meu. O castanho-claro-médio-que-eu-não-sei-definir que me prendeu por mais de dois minutos - coisa que os outros olhares alheios não conseguem. Lembro de mergulhar dentro daquele olhar e esquecer tempo e espaço, de querer viver dentro do olhar de alguém, mesmo que todo o desejo dentro daquele olhar fosse inteiramente carnaval. 

Ainda escuto tua risada ecoando pela sala enquanto você não conseguia ligar a Tv. E aquela risada não era, nem de longe, a minha risada favorita e foi exatamente por ela ser um tanto desengonçada que eu nutri um carinho especial por ela. 

Ainda sinto o calor dos teus braços envolvendo cada pedaço do meu corpo. Lembro os tremores que me fez sentir e como eu queria que aquilo não acabasse. Lembro que eu pensei: eu poderia fazer isso o dia inteiro e todos os dias a partir de hoje, eu não me cansaria nunca de ter você dessa forma. 

Adorei olhar pro lado e ver teu sorriso se formando entre o beijo. Sucinto, suave, leve. Lembro que vê-lo me fez sorrir instantaneamente. Eu gostei de me perder naquele sorriso também. Ele me levava a explorar teus lábios, tua língua, teu cheiro, teu gosto. 

Ainda tenho um pouco do teu cheiro penetrado em mim - em alguma parte da minha alma que fez questão de guardar este cheiro bom que você tem - e saberia, daqui a mil anos, distinguir ele dentre os demais aromas presentes. Ele é único. Você é único. 

Casualidades da vida que nos chega e parte, que nos chega e invade, que nos chega e nos deixa. Um cunho deixado no corpo, na alma, no olhar, nas lembranças. Mesmo que eu pudesse esquecer, eu não esqueceria. Mesmo que eu dependesse disso, eu não iria escolher esquecer. 

Você me trouxe a paz que o mundo vem me tirado há muito tempo. 

6/02/2016

Bifurcação.

Houve um momento em que eu pensei em desistir de tudo e ir contigo aonde quer que você quisesse ir. Houve um breve momento de loucura, antes que a lucidez tomasse conta de mim e, por fim, o medo que a realidade causa. 

Escolher você era desistir de todo o resto. Escolher você era desistir dos meus maiores sonhos. Era ter que aguentar uma barra que eu não sei se estaria pronta, entende? Escolher você era como atirar no escuro e esperar acertar as estrelas.

Desistir de você era mais fácil. Porque, apesar de tudo que no meio peito existe, desistir é algo que eu sempre fiz muito bem. Desistir do compromisso, da incerteza, dos problemas, das histórias que agora só existem na minha cabeça. 

Criei uma bifurcação antes do tempo para que eu pudesse me proteger de você, do que eu sinto por você, mas foi um ato falho. E eu sinto muito! Sinto muito por me desfazer de você como se não tivesse sido nada, como se as tardes deitados entrelaçados falando sobre as proezas do mundo não fizessem sentido, como se seu toque não causasse a melhor sensação que eu já houvera sentido. 

Eu sinto tanto! Eu sinto muito por você. Um amor tão grande que eu jamais poderei explicar em palavras como sinto tanto isso por ti. E sinto mais ainda por eu não conseguir tentar explicar o quão grande é esse amor. Porque, eu sei, se eu tentar explicar o que sinto, os caminhos não serão mais bifurcados e eu te escolherei. 

Mas eu não posso. Eu não posso abdicar de toda uma luta, de anos de verdades, por algo que se iniciou agora. Eu simplesmente não posso manter o que sinto por você. Tanto porque eu não sei lidar com o que sinto, como porque eu não sei ser o que você precisa. 

E, Deus, eu sei o quanto você precisa de mais! Eu sei o quão bom é o seu coração e o quão amável você é e se algum dia eu voltar a rezar, eu rezarei para que você encontre alguém com o mesmo coração que você. Alguém que possa te amar como eu não fiz, como eu não pude fazer, como meu egoísmo não me deixou amar. 


Me perdoe, mas aqui se bifurcam nossas vidas.