2/27/2014

Mais açúcar, por favor!

- O café está frio. – Eu disse, distraída com a sessão de esportes que lia do jornal do dia anterior.
- Claro, nada nunca está bom para você. – Ele disse em tom ríspido e voraz.
- Eu posso requenta-lo no microondas, não tem problema. – Eu disse, dando de ombro
- Não é sobre o café, Elisa. Você nunca está contente com nada que eu faço.

Eu pigarreei e inspirei fundo, já havíamos tido essa conversa há algumas semanas e terminou com um saindo apressado pro trabalho e o outro correndo pro bar. Eu não queria ter aquela lavagem emocional mais uma vez em menos de um mês. Mas eu entendia a gravidade da situação e entendia, também, que eu era uma pessoa difícil de lidar e que, realmente, poucas coisas que ele fazia estavam ao meu agrado e eu sempre esquecia de agradecê-lo ou algo do tipo.

- Desculpa! – Eu disse, tentando fingir remorso pelo comentário insensível.
- Desculpa uma porra, Elisa. Não pede desculpa e finja que se arrependeu. Você nunca se arrepende. Daqui há uma hora ou menos você vai fazer isso de novo e de novo e nem vai se importar. Você não se importa mais, Lis. E eu nem sei se algum dia você realmente se importou.

Parei de tomar o café frio por um momento e o olhei incrédula. Tudo bem, eu não era a mais sensível dos ser humanos mas ao ponto de não me importar com nada? Deus sabe que ele era importante pra mim, eu só tinha esse problema de não demonstrar as coisas do jeito certo. Eu sempre fazia as coisas do jeito mais torto que eu conseguia fazer e aquilo me bastava mas não o bastava, nunca o bastou.

- O que você quer que eu diga? É uma droga de café frio! Custava você pôr vinte segundos no microondas e esquentar? Vinte segundos, Oliver. Isso não te mataria! – Eu berrei, enquanto trombava meu ombro por ele e passava para a sala de estar.
- Não é sobre o café! Nunca foi só sobre o café. Estou te falando, Elisa, você é um ser humano insensível demais. Você não se importa se alguém der tudo o que ele tem, você sente que ele precisa te dar a alma também. E quando consegue, você não faz o mínimo esforço para agradecer. Nem um sorriso sequer.
- Adivinha? Essa sou eu! Eu sempre fui assim. Eu nasci assim. O problema é que você estava apaixonado demais para se importar com meus enormes defeitos, eles pareciam bonitinhos aos seus olhos apaixonados. E agora você me vê como um saco de defeitos ambulante e está arrependido do dia em que se apaixonou por mim.
- Não é isso, Lis. Eu a amo. Amo-a com todo o meu coração, de toda a minha alma. Só você sabe o quanto eu a amo e você não pode negar isso. – Oliver tinha uma expressão triste ao dizer cada palavra naquela frase.
- Eu não disse que você não me amava, eu disse que você está arrependido do dia que se apaixonou por mim. – Eu pausei e suspirei profundamente – E eu também estou arrependida do dia em que me apaixonei por você. – Eu disse em uma voz desconsertante.

Oliver me olhou de baixo pra cima enquanto levantava a cabeça para me olhar no fundo dos olhos. Eu senti o que ele sentiu naquele momento e isso ardeu meu coração. Ele ficou me encarando por mais alguns segundos antes de sumir do meu campo de visão.

Eu não queria ir atrás dele, não por orgulho ou coisa do tipo mas por que eu sabia que eu havia o machucado o suficiente e que agora não era uma boa hora, ele reuniria todas as palavras mais tortuosas e jogaria em frases ríspidas que me cortariam a alma. Eu não estava pronta para ouvir nada que pudesse partir mais ainda o meu coração.

Quando, enfim, ele saiu do quarto junto com uma mochila nas costas, ele me olhou desconsolado e ficou apenas parado enquanto eu tentava entender o motivo daquela mochila tão grande. Ele não podia estar partindo, não assim e não por isso. Ele não podia fazer aquilo comigo. Mas fez. E saiu pela porta da frente sem me dizer nada.

Sentei no chão frio de costas para a parede e me encolhi. Chorei por algumas horas, senti uma pena imensa de mim mesma e pensei o quão tola eu fui por dizer aquelas palavras impensadas para ele. Eu me odiava por inteiro por ter partido o coração dele daquela forma. De uma forma tão aflita que o fez partir sem nem um adeus se quer.

Alguém bateu na porta da frente e eu precisei recompor o pouco da dignidade que havia me restado. Levantei do chão, sequei as lágrimas e tentei não parecer uma maluca desvairada que acabara de ser deixada pelo noivo. Abri a porta e lá estava ele. Com o seu melhor sorriso e com aqueles olhos verdes e brilhantes. Em suas mãos trazia dois cafés quentes.


- Achei que um café quente seria bom agora. – Ele sorriu e passou por mim na porta, me deixando ali, parada, sorrindo feito uma boba e pensando em como eu era uma mulher de sorte por tê-lo ao meu lado.

2/17/2014

Forever you're still gold to me.

Eu era um corpo estranho a mais no mundo, vagando por aí com uma bagagem repleta de sonhos destruídos e memórias fragmentadas, eu estava apenas ocupando mais um lugar no espaço que poderia ser dado a qualquer outro que merecesse mais que eu. E, aquela altura, eu achava que qualquer um merecesse mais a vida do que eu. Era difícil enfrentar os dias quando tudo que você queria era continuar na cama até o verão acabar mas sempre havia algo pelo qual eu levantava naqueles dias e nenhum dos motivos eram sólidos o suficiente para que eu enfrentasse mais um dia obscuro e mesmo assim lá estava eu, tentando não falhar na única tentativa que me restou: sobreviver.

Esse era o modo como eu me via, como eu sentia, como eu olhava para a vida e sentia que ela não me olhava de volta. Eram por esses e outros motivos que eu rezava para que o dia, o mês e o ano passassem mais rápido, o suficiente para que aquilo pudesse, um dia, ser enterrado no fundo da memória e eu decidisse quando eu queria trazer aquilo à tona.

Eu andava vazia, triste e solitária. Haviam, sim, alguns dias que se destacavam mais que os outros, eram dias agradáveis mas que eu, provavelmente, não lembrarei quando eu pensar nisso daqui há alguns anos. Então, ele entrou pela porta de saída dos fundos, a única porta que eu mantinha aberta para que eu um dia, caso algo piorasse, pudesse escapar. E ele invadiu tudo aquilo do qual eu tinha medo dentro de mim, ele adentrou todos os pequenos espaços entreabertos que ficaram em mim e me fez limpar a bagunça dos meus sentimentos. Ele não se importou com a bagunça, ele só sentou e esperou o meu momento acontecer para que eu me limpasse tudo e desse espaço para coisas novas acontecerem e para que ele pudesse acontecer em mim. 

Estar com ele era algo extremamente bom e feliz. Eu queria poder estar com ele o tempo inteiro mas sei que eu não podia tê-lo a todo instante, por isso que eu tentava aproveitar ao máximo os momentos que eu tinha com ele. E eu sempre aproveitava, eu sentia isso, mas nunca me era o suficiente por que quando eu chegava em casa e caia na cama com aquele sorriso bobo, eu já estava sentindo a falta dele. E essa era a parte ruim de todo o sentimento bom que eu tinha: me doía sentir tanto a falta de alguém como eu sentia a dele.

O fato dele ter adentrado o meu interior não foi o que me surpreendeu, o fato dele olhar aquilo tudo, aceitar minha bagagem emocional e corrompida por tantos problemas e, ainda sim, ficar foi o que realmente me deixou perplexa. Eu não fazia ideia que, algum dia, alguém pudesse lidar com a minha bagunça quando nem eu mesma sei lidar na maior parte do tempo. Mas ele me mostrava o que eu tinha de mudar, por onde eu deveria ir, o que eu deveria captar de tudo que me acontecia. Era bom tê-lo ao lado pois com ele os dias cinzas sempre eram bons dias. Não importava como estava o céu lá fora, eu e ele juntos fazíamos o clima ser extremamente agradável e esclarecedor.

Eu nunca pensei que me sentiria dessa forma outra vez (E estou fadada a pensar se houve, realmente, alguma vez em que estivesse assim). Sempre ouvi dizer que quando você se apaixona é algo inesperado, ninguém é preparado para a chegada de alguém em sua vida que pretende ficar por muito tempo, e isso ainda me deixa um pouco receosa e aflita, ainda possuo um medo lá dentro que grita tão alto que acorda e incomoda todos os sentimentos bons que sinto neste momento mas tento, ao máximo, não escutar o medo. Eu não preciso sentir medo do que estar acontecendo porque, dessa vez, eu sei que não sairei com um coração quebrado. Ele não vai partir o meu coração, ele estaria partindo o seu se fizesse isso. E a gente sabe o quanto dói um coração partido.

Eu só queria que o relógio que tiquetaqueteia insensivelmente parasse nos momentos em que estivéssemos juntos porque eu não gostaria de voltar pra casa com a sensação de que estou deixando algo importante para trás, eu não gostaria de voltar para casa com a sensação de que você ficou para trás porque eu queria poder te levar comigo para aonde eu fosse. Eu queria não precisar voltar para casa porque estar com você era o que eu queria fazer e era no teu abraço que eu queria morar, era em seu peito que eu queria deitar e repousar minha cabeça cheia de problemas.

Você trouxe o melhor de mim à tona. Eu não sei como lidar com essa parte de mim, parte que eu não sabia que existia e que eu achei que nunca veria. Eu sorrio à toa, eu sinto borboletas no estômago e todas as canções de amor fazem sentido agora. Você é a parte boa em mim e eu não quero perder isso por nada do mundo.


Agora, quando olho para trás, eu vejo uma estrada bipartida, com alguns corações quebrados e algumas decepções pelo caminho. Eu ainda vejo muita coisa da qual eu queria esquecer mas eu já não olho mais com tanta tristeza e desconforto pois sei que foi um desses caminhos que trouxe você pra mim e se eu precisei passar por todas essas coisas para te ter, eu ficarei bem com as memórias e passaria por todas as coisas tortuosas novamente para que, no fim, pudéssemos ficar juntos de novo. Agora eu vejo que eu vivi a vida achando que sabia o que era estar apaixonada mas agora é o momento que eu tenho certeza. E eu sei que estou completamente apaixonada por você.