3/19/2013

Em ruínas.


Estou pensando em todas aquelas coisas ruins e vazias, outra vez. Parece como antes mas tornou-se um pouco pior, talvez por envolver mais pessoas e talvez por eu estar pior do que eu costumava ficar quando os pensamentos adentravam minha mente.

Eu tenho que sair daqui. Eu tenho que dar o fora. Ir pra um novo lugar onde não exista nada e ninguém que eu conheça ou que me pareça familiar. Eu preciso tanto de uma escapatória disso tudo que a loucura está voltando, aos poucos, a cada dia.

Eu sinto o vazio possuir meu coração todas as noites antes de ir dormir. Eu sinto aquele buraco arrombando meu peito e todo o meu interior, destruindo qualquer sentimento bom e feliz, assombrando qualquer lembrança feliz do que eu já fui ou do que eu já fiz.

Sinto-me sozinha o tempo inteiro, sempre fui um tanto solitária. As coisas só estão piorando gradativamente. Eu olho em minha volta e nada me faz feliz, nada me anima, nada me dá esperança de que as coisas irão mudar e de que as pessoas vão se acertar.

Meus relacionamentos estão afundando mais rápido do que eu gostaria. Eu não sei mais ser feliz, mesmo quando a felicidade insiste em se instalar. Não consigo mais ser aquela pessoa feliz e risonha que eu costumava ser. Hoje tudo em mim dói e clama por uma cura.

Ouço as pessoas a minha volta gritarem, chorarem, explodirem. Quase posso ver a Terceira Guerra Mundial se instalar bem na minha sala. Isso me abala mais do que eu realmente gostaria. E tem também essa voz na minha cabeça... sempre me dizendo que as coisas podem ficar boas outra vez, me dizendo que as coisas podem melhorar. Existe essa voz dentro da minha mente sempre me lembrando: a culpa da infelicidade de todos é unicamente sua! E essa voz grita mais alto: sem você, estaria tudo bem outra vez.

Eu escutei a voz. Agora, eu preciso partir. 

3/12/2013

Ao meu herói.


Eu o imagino sentado numa daquelas velhas cadeiras de balanço, na varada daquela casa recém reformada, pintada de azul cor de céu. Ele está lá, fumando seu cigarro e olhando seu jardim falido, todas aquelas flores mortas por falta de cuidados com o passar do tempo. Aquele olhar cansado e entristecido com o tempo, com as derrotas da vida, com sua infância perdida alastrando o interior da sua memória .

Então ele olha para aquela pequena figura pálida que agora corre entre suas flores mortas, quase que dando vida a elas. Ele esboça um sorriso frágil, um pensamento cuidadoso com aquele pequeno ser. E seus olhos enchem-se de lágrimas frias e cálidas, prontas para rolarem por seu rosto enrugado do tempo. E ele deixa as lágrimas rolarem, apesar da cena triste que acontece naquele momento, ele sabe.

Ele sabe que partirá em breve e que aquela pequena criatura que, agora, corre em sua direção não estará ali para sempre. Quero dizer, ele não estará. Suas escolhas e seus erros entorpecidos fizeram do seu futuro algo promiscuo e premeditado. Ele sabia que a morte chegaria em breve. Em sua cadeira de balanço, olhando suas flores mortas, com aquela pequena criatura sob seu peito e seus cuidados, agora ele percebe seus erros e seus defeitos.

Agora ele pensa como poderia ter sido diferente, como tudo aquilo poderia ter sido melhor. Como ele poderia ter feito as coisas serem melhores. Ele não pensou naquela criança pálida correndo entre suas flores, não pensou naquela moça dos cabelos compridos e cacheados, não pensou no seu velho melhor amigo canino. Ele só fez o que ele achava certo no exato momento, o depois era sempre depois. E o depois chegou. Chegou mais cedo que o esperado.

Hoje aquela velha cadeira de balanço está solitária. As flores jamais floriram outra vez. A palidez daquela pequena criatura ainda existe, aquela pequena criatura ainda existe. Com seu coração fraco de uma luta inatingível, com as mãos atadas e os pensamentos cruéis e sombrios da sua partida tão prematura, aquela pequena criatura pálida se tornou o que hoje você lê. A moça dos cabelos longos e cacheados hoje bate perna em shoppings e ruas atrás de um bom emprego para sustentar a eterna pequena criatura pálida. A casa azul recém pintada tornou-se velha, mais velha do que posso imaginar, e foi vendida para uma família feliz e unida.

A cadeira de balanço hoje me lembra tudo aquilo que eu não lembro, tudo aquilo que não foi, tudo aquilo que era para ter sido e não aconteceu. Não aconteceu a primeira foto no primeiro dia de aula, não houve valsa nos meus quinze anos para dançar contigo, nem houve um baile de formatura para acompanhar-me. Não houve, se quer, uma cadeira de balanço.

Tudo que eu sei e escrevo sobre você é o que minha memória queria que tivesse visto. É na minha utopia de você que eu acredito, e nela você ainda continua sendo meu herói.