11/23/2010

Ultimo bilhete.

Eram pouco mais que cinco da manhã quando Ana levantou-se na cama do hospital e ficou esperando alguma coisa ou alguém ou alguma lembrança denunciar onde ela estava. Cheirava mal,fazia frio,só escutava os passos do lado de fora daquele quarto. Nada e nem ninguém entrava ali e isso estava irritando-a. Sem poder se mexer por causa de inúmeros aparelhos ligado ao seu corpo,ela gemeu alto para que alguém pudesse a escutar. Não deu outra e apareceu uma senhora na porta do seu quarto vestida toda de branco e uma plaqueta em suas mãos com um sorriso aliviado. Adentrou a sala e foi verificando se os equipamentos estavam em ordem mas antes que pudesse tocar em qualquer um deles,Ana pegou em sua mão. A enfermeira tomou um susto e a olhou.

- O que eu estou fazendo aqui? - Perguntou Ana ainda assustada com tudo.
- Querida,você teve algumas complicações com seu corpo e trouxemos você pra cá. O seu acompanhante está lá fora,quer que eu vá chama-lo?

Ana não disse nada,apenas afirmou com a cabeça e então viu a enfermeira sumir sem verificar os equipamentos e isso a deixou preocupada pois,já que estava ali para verificar que verificasse,ora.

Algumas batidas na porta fizeram os pensamentos de Ana sumirem como pó. A sua frente estava o seu melhor amigo,Pedro,com aquele sorriso angelical de sempre,mãos no bolso e cabelos super bagunçados. Ele fazia o tipo de todas as garotas,inclusive o tipo dela.

- Você está melhor? - Perguntou Pedro aproximando-se da cama.
- Eu estou ótima. Podemos ir embora?
- Daqui a pouco. Parece que vai receber alta daqui a pouco.
- Não gosto de hospitais,Peu. E eu estou seriamente encrencada com meus pais por não está em casa,não é?
- Não!Eu liguei para o seu pai quando chegamos aqui na madrugada de quinta e avisei que você estaria aqui pois tivera alguns problemas,ele foi meio rude como sempre mas disse que ligaria para ter notícias.
- Como sempre. - Repetiu Ana. - Madrugada de quinta? Hoje é terça-feira,acabei de ver na plaqueta da enfermeira. Eu não acordo desde quinta?
- É. Você estava em coma ou alguma coisa semelhante a isso,na verdade eu não sei muito sobre isso,só sei o que me contaram e como eles usam esse vocabulário cheio de bons modos,entendi o apenas:"Ela vai ficar boa logo" e isso me contentou e eu não quis saber o resto. Podemos perguntar,se quiser.
- Não quero. Me sinto bem,quero ir embora.
- Você terá que ficar na minha casa por alguns dias. Seus pais estão viajando ainda e não vão voltar hoje,só daqui há duas semanas,seu irmão é irresponsável demais pra cuidar de você. Já falei com minha mãe,então,não haverá problemas. Mas só se você quiser,claro.
- Quero sim. Quero mesmo.

As horas que se arrastaram por aquele dia foram mais longas que todos os outros dias,demorou desmasiadamente um tanto para que Ana pudesse se ver livre daquele hospital. Quando na casa do Pedro,resolveram alugar alguns filmes e assisti-los em casa.

- Não seria legal convidar sua mãe para assistir? - Perguntou Ana.
- Ela não está. Só somos eu,você e o filme.
Ana corou. Pedro corou. A sala foi invadida por bochechas rosadas,silêncio e olhares distraídos.

- Precisamos conversar! - Disse Pedro. - Acho que estamos esquecendo do quanto somos amigos e estamos indo pra um outro nível. Não que você não seja interessante. Você é. Demais,na verdade. Eu só quero uma melhor amiga e você é a unica pessoa que eu tenho. - Ele então afagou as mãos de Ana.

Silêncio. Pausa no pensamento. Colocando as palavras em ordem. Lágrimas querendo escorrer pelos olhos. Segurando o choro,respirando fundo e soltando suspiros.

- Não,é claro. - Ana fingiu sorrir - Somos amigos,melhores amigos. É,somos apenas isso.

Então Pedro sorriu. Ana sorriu. Cada um para o seu canto. O filme começou e eles estavam a,no mínimo,cinco metros de distância um do outro. As vezes,quando iam pegar a pipoca,a mão dela encontrava a dele. Eles se olhavam e riam mas não era aquela alegria por achar a mão do cara que tem seu coração nas mãos,era aquele sorriso do tipo "se você sorrir,sorrirei também".

Algumas longas horas depois,depois de uns dois ou três filmes,Ana cogitou a idéia de ir embora e se entregar ao seu irmão irresponsável que,pelo menos,iria escutar ela reclamar o quanto os homens são idiotas e iria fazer brigadeiro pra ela e só depois ela perceberia que era o capacho na vida de todas as pessoas com quem ela se relacionava.

- Vou dormir. - Disse Ana.
- Tem um problema. - Pedro coçou a cabeça.
- Qual?
- Vamos ter que dormir na mesma cama. - Franziu os lábios.
- Ah. Eu... durmo... - Nesse momento ela girou seu corpo pela sala tentando observar algum canto em que pudesse dormir. - aqui? - Apontou para o sofá. - Aqui! Dormirei aqui. - Ela sorriu e sentou com uma almofada em suas mãos.
- Não,Ana. Você não quer dividir a cama comigo,tudo bem. Eu durmo no sofá,não há problema.
- Não é isso,achei que você estivesse com essa história de melhores amigos. Só queria te poupar de uma noite sendo quase um casal. - Ela sorriu de lado.
- Eu quero uma noite sendo quase um casal. - Ele devolveu o sorriso torto.

Se aprontaram,se arrumaram para a noite de sono que ninguém saberia qual seria o fim. Cada um deitou de um lado da cama e cobriram-se cada um com um lençol. Sem sono. A estrela estava cheia. O quarto estava vazio sem o som das palavras de nem um dos dois. Se olharam e sorriram mais uma vez um para o outro. Se aproximaram. Ele pegou a mão dela e levou ao rosto dele enquanto ele colocava uma das mãos na cintura dela.

- O que está fazendo? - Perguntou Ana,em sussurros.
- Tendo uma noite de casal.
- Achei que era apenas dividir a cama.
- Achei que quisesse um casal verdadeiro.
- Não podemos continuar.
- Por que não?
- Sou virgem,sou sua melhor amiga e amanhã vai está tudo estranho entre nós.
- Eu sei,eu sei e eu sei. E se eu te quiser como mais que uma melhor amiga?
- Você disse o oposto disso há algumas horas atrás.
- E se eu não estivesse realmente querendo dizer aquilo? Apenas,sei lá,estivesse mantendo nossa amizade em uma bolha invisível para que estivesse segura.
- Ploc - Ana fez um som com a boca. - Sua bolha da amizade estourou. - Ela riu.

Ele riu e se aproximou mais um pouco. Tirou alguns fios do cabelo dela da frente dos olhos,acarenciou sua pele,descobrindo todas as curvas que aperfeiçoavam o corpo de Ana,Pedro se entregou e ela cedeu. Beijos,blues e poesia. Amor,sexo ou era sexo,amor? Tanto faz.

O dia seguinte foi estranho. Ana acordou sem as roupas,sozinha,em uma casa diferente,em um quarto diferente,com um perfeito masculino invadindo todo o seu pulmão. O quarto dele não era tão agradável sem ele lá. Seus olhos tentaram encontrar ele,procuram e procuram alguma pista. Nada. Vagou até o banheiro e viu um bilhete pendurado no espelho.

Ana,me desculpe,tive que ir. Luana me ligou. Não é incrível? Acho que vamos voltar. Te conto tudo quando eu voltar mas não me espere,posso ficar por lá mesmo. Um beijo,Pedro.

PS: Suas roupas estão no meu armário. Obrigado pela noite.

Pense. Reflita. Burrice ou apenas mais um cara idiota? Não importava mais. Você deu sua vida a ele naquela noite e ele foi atrás da vagabunda da ex-namorada dele que dormiu com,praticamente,todos os amigos dele. Espero que ela tenha te ligado e pedido pra vê-la só pra ela te lembrar o quanto babaca,imbecil e impotente você é. - Pensou Ana antes de pegar suas roupas do armário,vesti-las e ir embora sem olhar para trás.

Os meses que se passaram foram como uma dose de tequila para Ana. Fez muito bem mas em excesso daria uma ressaca terrível quando você se desse conta da burrada. Ana estava extremamente linda. Loira,alta,olhos azuis. O típico de sempre,exceto por um detalhe: A superioridade que alcançou.

Quando passava na rua ela era chamada de todos os apelidos possíveis,cantadas ridículas e assobios escrotos,diferente de quando era apenas aquela Ana boa moça,bom coração e amiga do mundo. Ops,pequeno descuido. Criaram um monstro ou o monstro apenas veio a tona? Não importava mais qual a era a verdade. Ela sabia o quanto ela podia causar e causou.

Volta às aulas. Pedro na porta do colégio de ensino médio com seus amigos hipócritas de sempre,rindo e falando sobre todas as garotas que eles já ficaram um dia. Ana,por sua vez,sempre só mas dessa vez acompanhada de uma beleza surreal e inacreditável que até então homem algum tinha visto. Seu cabelo tinha crescido,sua maquiagem agora era extremamente perfeita e suas roupas eram,com certeza,da ultima moda em Paris,o salto alto denunciava sua habilidade para equilibrar-se diante de tamanho alto-ego que agora tinha.

Pedro,entusiasmado,foi ao encontro de Ana sorrindo e querendo puxar conversa e ela,por sua vez,com sua cara de deboche,sua língua afiada e seu coração remendado.

- Nossa. Você está linda.
- Eu sei,queridinho. - Sarcasmo gritava.
- Você está diferente. Não sei,parece que cresceu,mentalmente,sabe?
- Enquanto alguns crescem outros apenas continuam os idiotas de sempre.

Pedro entendeu. Fingiu não entender. Continuou.

- Eu terminei com a Luana,sabia? - Ele parou e voltou a falar. - Na verdade,ela terminou comigo. Bom,naquele dia que eu fui na casa dela era apenas pra eu pegar algumas coisas de volta,sabe? Nada demais.

Ana riu pensando no quanto idiota,imbecil e estúpido aquilo menino se tornara diante de seus olhos naquele momento.

- Olha,eu entendo que você está aí,carente e morrendo de amores por qualquer rabo de saia que apareça na sua frente mas se você está pensando que eu vou ficar com você para depois sair sendo exibida como um troféu,esqueça.
- Não... A gente pode se encontrar? Marcar um cinema,quem sabe? Sair um pouco.
- Não,não podemos.
- Ah,qual é. Vamos ser um quase casal,novamente. - Ele sorriu maliciosamente.

Ana pensou. Cedeu. Aceitou a proposta. E la se foi,novamente,Ana e Pedro dividindo uma mesma cama,um só lençol,um corpo nú dentro do outro,em cima do outro. Pedro não soubera antes mas amava aquela menina,aquela menina da qual ele a tornou mulher. Ele estava disposto a te-la para sempre com ele,afagada assim no seu peito,fazendo carinho e rindo sobre bobagens como sempre foram. Estava disposto a dizer que a amava,que a queria como sua namorada mas quando criou coragem,Ana dormiu.

De manhã,Pedro acordou e procurou Ana pra sentir o seu calor matinal. Não viu nada. Procurou algum vestígio daqueles cabelos loiros por aquele cômodo e não encontrou. Levantou. Procurou alguma coisa. Celular,roupa,dinheiro,qualquer coisa servia só pra saber que era ele quem estava ali. Pegou a calça e viu o bolso. Um bilhete com um beijo deixado em vermelho no papel em branco. Desdobrou o bilhete e leu em voz alta.

Pedro,você não vai acreditar. O Adam me ligou e adivinha? Ele me pediu em namoro e eu aceitei,não é incrível? Estou indo morar com ele na França,talvez eu volte nas férias,mudei de número então não temos mais comunicação mas será sempre o meu melhor amigo.

PS: Obrigada pela noite. Ah,só queria te dizer que eu não te amo mais,babaca

11/21/2010

Mundo moderno.

Saia curta,tomara-que-caia,unhas rosas choque,cabelos loiros e maquiagem bem produzida.
Namora o capitão do time,é líder de torcida e anda com as mais bonitas.
Sai todos os dias,tem um carro da moda e mora numa mansão.
Tem tudo e o que não tem o papai compra,tudo para deixar sua princesa feliz.
Seu maior medo é uma unha quebrada,uma ponta dupla,três gramas a mais.
Faz dieta toda semana,parece modelo de passarela,sorriso estampado na cara.
Feliz com todo mundo,imita as celebridades,fala mal de tudo.
É popular,é patricinha,é tanta coisa que virou modinha.
Hoje em ninguém não é nada,seu pai fugiu com o seu jardineiro e sua mãe virou vadia.
Suas seguidoras fiéis seguem outra,seu namorado engordou e foi expulso do time.
Você perdeu seu cargo de líder de qualquer coisa para a novata.
Ô,como isso foi acontecer?
Acorda,queridinha,mundo moderno é assim.
Cuidado para não cair e seu salto quebrar.

11/03/2010

Quando se ama uma mulher...

Quero acordar mais cedo e vê-la abrir os olhos bem devagar,se espreguiçar na cama e quando olhar para o outro lado vou estar esperando seu sorriso matinal,um daqueles sorrisos que ela me dá mostrando todos os dentes mas pode ser um só mexendo alguma coisa na face,não ei de ligar,só quero vê-la acordar feliz ao meu lado mais uma vez.
Depois de me enrolar,se enrolar nos lençóis,levantará e partirá para um banho do qual eu não serei convidado e vou respeita-lá e imagina-la ali ensaboando todas as curvas do seu corpo,apagando cada digital minha dos seus quadris,deixando o seu cheiro e o meu quando se juntam ir ralo a baixo mas quando ela sair daquele banheiro ela voltará a ser a minha menina,a moça alegre e do sorriso aberto de todos os dias.
Irá cantarolar uma canção boba só por estar feliz em amanhecer mais um dia ao meu lado e partirá em disparada até a cozinha onde há de se alimentar e eu vou achar incrível o jeito como ela morde o pão deixando aquele resíduo de manteiga no canto dos lábios até a sua língua acha-lo e leva-lo garganta abaixo. Acharei incrível quando ela limpar as mãos no pano de mesa e logo depois afagar minhas mãos com o rosto cheio de farelos de trigo.
Acharei belo quando ela pegar o jornal e fingir estar interessada até a segunda folha e logo depois atira-lo em cima da mesa e pegar seu livro favorito e recitar mais uma vez a sua fala preferida,e eu vou achar lindo o brilho nos olhos dela quando ela repetir cada palavra que já está gravada em minha mente e vou gostar quando o brilho nos olhos aumentar quando a frase estiver falando sobre amor e automaticamente irá pairar seu olhar sobre mim.
Ela perderá a hora e sairá correndo,quase esquecendo de me dar um beijo no canto dos lábios e me lembrar que eu ainda sou o amor da vida dela. Ela vai ligar daqui há meia hora só pra falar que o trânsito em São Paulo é horrível e que o seu sonho é comprar um avião,irá me falar que preferia que eu estivesse dentro do carro dela contando as minhas piadas bobas e sujas para que ela pudesse esquecer das cores do semáforo e rir tranqüilamente do meu modo de contar piada fazendo os gestos com as mãos.
Desligará o telefone e voltará a ligar depois das duas da tarde quando seu nível de estresse estiver entrando em colapso,pra reclamar sobre o trabalho e só pra ouvir o som da minha voz,mas irá falar também sobre seu segundo sonho:abrir seu próprio negócio,e nesse momento vou soltar um leve suspiro tentando imagina-la tão independente que nem se quer precisará de mim e ela vai entender e me lembra,mais uma vez,que eu vou com ela por onde ela for e isso vai mudar meu dia,de novo.
Quando voltar para casa vai largar a bolsa na poltrona da sala e irá gritar meu nome e sair correndo ao meu encontro,mesmo sabendo se estou ou não ali,vai me encontrar lendo algum gibi e vai partir para o abraço me contando que no caminho de volta viu dois velhinhos e nos imaginou naquele momento,para sempre juntos,e eu ei de ficar olhando para seu rosto e atento a cada detalhe que a aperfeiçoava,agradecerei a Deus por te-la pra mim todos os dias em todos esse anos e não ter mudado o que sinto por ela nem um milímetro se quer exceto para melhor.
Vai me tirar da cama alegando que eu não tenho feito nada de interessante e me arrastara para varanda para ver o sol se pôr,vou afagar sua cintura e então ela deitara sua cabeça sobre meu ombro e envolvera suas mãos nas minhas cinturas,também e ficaremos ali vendo o sol se pôr e esperando o dia que virá amanhã e lembrarei naquele momento que é ela e nada mais que ela que me faz bem e pensarei em como eu seria se eu a perdesse um dia e eu não consegui mais me vê sem ela. Eu percebi que iria ser eterno.

Seis horas da manhã,o relógio despertou. Mais um sonho de um cara comum. Do lado,ninguém para amar ou abraçar. Bem vindo ao mundo real,onde a perfeição só está presente em um lugar que ninguém pode ver,além de você.

Tic-Tac. Tac-Tic.

O relógio bate,apressado,me roubando os segundos,me deixando mais velha a cada momento e não para,não têm dó de mim nem do meu coração partido,muito menos dessa vida partida que levo.
Tudo aqui me deixou saudade,sinto falta de tudo,até do cheiro do perfume esquecido no seu corpo da manhã do dia anterior. Minha maior saudade ainda há de chegar pois sinto falta de algo que ainda não vivi e que já deixei para trás.
Sinto fome de comidas que ainda nem foram fabricadas,de amores que talvez eu nem ei de viver,de noites de insônia que não ei de ter.
Brinco de não me importar,de deixar o tempo passar,de não fazer nada esperando que ainda sim algo mude.
O relógio bateu,é que já passa da meia-noite e ainda estou no meio da semana com um coração meio abandonado,com um dos pulsos meio cortado,com opiniões meio que erradas.
Mas veja bem,tenho aprendido muito com essas sobra de tempo e entendi que nem adianta correr quando não se quer sair do lugar por que sempre voltará para o ponto de partida.
Esse envelhecimento precoce de vida,de juventude,de saúde,me faz ir ao espelho todos os dias com cara de quem viveu mas não vive mais e se perguntar se há algo errado.
Vejo minha alma através do espelho,ouço-a mandando-me viver mas sem essa,preciso de motivos sólidos para continuar respirando,e nem me diga que com o tempo isso passa por que estou esperando passar há muito tempo.

11/02/2010

Um entre tantos mas ainda sim,só ele.

Já estive aqui tantas vezes,algumas vezes você até me acompanhou,outras vezes esteve de longe me observando mas sei que nunca deixou de estar por perto.
Depois de algum tempo,com muito esforço,aprendi a aceitar as minhas próprias escolhas impensadas e impulsivas. Você foi uma delas. Não falo sobre o nosso começo,já que pra esse me preparei bastante antes que fosse chegada a hora mesmo que tenha sido sem sucesso,mas falo sobre o nosso fim.
Eramos,de longe,tão perfeitos e de perto tão inocentes. Na verdade,essa era a maneira como eu descrevia "nós" quando alguém me perguntava sobre tal.
Fui eu quem te deixou,em alguma data daquele começo de julho que,pra mim,foi o mês mais excitante naquele momento mas chegou agosto e setembro veio quase colado com ele e então foi exatamente por ai que eu comecei a observar a verdade:Eu te perdi.
Havia outra. Em tão pouco tempo,havia outra em meu lugar. E doeu,sangrou mas nunca deixei que ninguém soubesse como eu ainda conseguia pensar em você depois de tudo que eu tinha feito pra você,o que eu tinha feito conosco.
Eu te deixei mas tudo estava errado. Era pra alguém ficar feliz na história,e eu esperava que esse alguém fosse eu,honestamente. Mas foi você que levou o final feliz pra casa enquanto eu revivi todos os nossos momentos dia após dia durante todos os meses que passaram e que se passariam desde então.
Dezembro chegou tão amedrontador que viver,naquele momento,deixou de ser um desejo pra torna-se uma obrigação e estava doendo a cada dia um pouco mais,mas o sangramento havia estancado.
Era extremamente irritante o barulho da tv na sala chiando sem a sua risada pra acompanhar qualquer besteira que estivesse por ali. Qualquer coisa era motivo pra lembrar de você ou de como você se vestia,ou como você me olhava,como você por tantas as vezes abriu mão dos teus amigos pra passar uma noite de sábado vendo um filme tão sem graça só pela minha companhia. Nunca dei valor.
A cozinha agora está mais fria,também. Ia lá apenas para pegar algo que me alimentasse,ficar por lá é como ficar perto de você. Minha cozinha tinha seu cheiro,o cheiro do teu perfume e lá no fundo tinha a tua imagem sentado na cadeira junto a mesa me chamando pra ficar contigo,e eu,quase sempre,não ia.
Tenho evitado estar em qualquer lugar que me lembre a você. Não vou mais ao cinema,nem gosto de ir na livraria,odeio passar por ruas que passamos juntos e passar pela porta da sua casa sem ir na direção dela era a coisa mais sufocante do dia. Apertava não só o meu peito,apertava minha alma,e fazia um nó na minha garganta e eu engolia o choro só pra não dar motivos para me olharem.
Ainda me perguntam sobre você e eu tenho me perguntando sobre você,também. Tenho me perguntado por que eu fiz isso com a gente e eu não consigo achar uma resposta.
Janeiro passou,fevereiro chegou e com ele outro. Alguém que surgiu no caminho,que durou mais tempo que você mas não conseguiu chegar nem aos pés da intensidade do que vivemos,nem se quer conseguiu me fazer ficar irritada. Esse era o seu dom. Você era o melhor nisso,em me deixar irritada e depois de um mar de "não" você vinha e eu cedia.
Nunca me acostumei em não te ter por perto,você sempre esteve junto quando eu precisei e quando menos te quis aqui. Quando não esperava,me trouxe por diversas vezes a sua presença,o teu sorriso e o teu olhar parado sobre mim. Eu amava isso.
Os meses que vieram depois foram longos demais pra que eu pudesse conta-los ou me distrair com eles,ainda estão duros demais para me suavizarem mas não doía mais.
Eu quase esqueci o seu sorriso,o eco da sua gargalhada havia parado,quando eu pensava em você era mais com saudade.
Achei que o sentimento estivesse acabado,morrido,que não existiria nunca mais um "nós" e seria dali pra frente "eu e você",separados,mas só pra me contrariar,só pra contraria o meu "nunca mais" que eu tinha dito pra todos os meus amigos quando me perguntavam a respeito de "nós",você volta. E eu? E eu cedo,mais uma vez.
Nunca escrevi nada sobre você por que achei que teria você para todo o sempre comigo e quando tenho certeza que terei algo para sempre costumo abandona-lo,deixa-lo de lado,mas quando eu disse eu te amo naquela virada de noite olhando nos seus olhos e você apenas revirou os seus e não respondeu de volta,eu pensei:Está na hora de escrever algo sobre você,meu carma.

O começo do fim.

Eu quis ir embora,quis não ter motivos pra ficar mas sempre tive. Na verdade,tive medo de ir. Medo de abandonar o que resta. Medo de ter medo,de não conseguir,de falhar ou de nem conseguir seguir em frente. Os dias estão cada vez mais curtos,as horas passam tão rapidamente que nem me lembro mais que horas eram quando deixei de viver pra passar a apenas existir.
Tudo está ficando sem cor,sem nexo,sem verdade. Estou me acostumando ao preto e branco,as mesmas pessoas,as mesmas risadas. Estou me acostumando a escutar minha risada cansada e solitária quando consigo me entreter com um livro antigo achado na estante da sala.
Tenho uma mania esquisita de me matar aos poucos. Começo eliminando as pessoas da minha vida,acabando com os sentimentos que restam,com as verdades que deixaram,com os sonhos que construíram comigo. Jogo tudo em uma caixa vazia denominada "fundo do poço" e arrasto-a para de baixo da cama. Pronto,acabou.
Antes era só matar as pessoas de mim,dos meus dias,dos meus pensamentos que eu já estava feliz mas eu não sabia por que,acho que sempre gostei de sentir saudade;mas ultimamente tenho me matado,de verdade.
Me peguei com um copo quebrado nas mãos,com algum pedaço afiado do que resto daquele cristal e quando dei por mim estava perfurando meus pulsos,arranhando-me,sentindo dor e vendo o sangue se expandir e derramar nos lençóis da cama.
Sempre gostei de sentir dor,sempre achei que ficaria mais viva vendo meu sangue correr por aí mas agora não é mais assim,agora é só por tristeza. É vontade de me matar e não ter coragem,é vergonha de não mostrar os pulsos pra mais ninguém.
Ninguém sabe dos meus medos,não pretendo conta-los,ainda mas o meu maior medo é a solidão,embora eu conviva dia e noite com ele.
Tenho enfrentado meus medos todos os dias.
Ele têm me derrotado em todas as lutas.
Cansei.