10/23/2010

O vazio revirando seu travesseiro.

Estou esperando. Esperando o dia em que tudo e todos vão me deixar,esperando que o tempo se arraste e leve de mim esse sentindo que ainda não nomeei. Espero,no caminho da ida,que eu encontre alguém que possa me dar a mão mas se acaso não houver continuarei assim,seguindo,como tenho feito há tanto tempo.
Fui de muitos amigos,de muitos amores mas tudo desapareceu mais rápido que chuva de verão e eu tenho insistido em uma razão lógica para tanto abandono. Sou gente,também. Sinto frio,fome,choro,minto,sorrio e vivo. Algo aqui dentro ainda bate,não por alguém ou por algum motivo,ele apenas bate e quando revelo meus sentimentos com cada palavra que escrevo,parece palpitar aceleradamente.
Perdi pessoas,conceitos,verdades e mentiras no caminho que fiz até aqui e,certo modo,estou feliz. Estou feliz por que dor me faz sentir viva.
A maior dor que existe não é aquela que sentimos quando se ama alguém que não nos corresponde,a maior dor é quando não tem quem amar. A infinita dor é você ter que inventar alguém perfeito para você e acreditar que ele exista e fingir ama-lo,e fingir felicidade. Utopia. Quando colocar os pés no chão saberá que amanhecerá mais uma vez apenas você e seu travesseiro na sua cama e mais ninguém,e mais nada.
Algo vazio,doloroso e silencioso vai abrir a porta do seu quarto e se instalar por lá,e deitará ao seu lado fazendo-lhe companhia e você sentirá tanta dor de não ter alguém que o choro vai chegar,o nó na sua garganta irá surgir e se você for das minhas,cobrirá o rosto com o travesseiro e gritará.
Mesmo quando se é um grito afobado dá pra sentir que é dor,mas só você saberá disso por que amanhã você acordará na sua cama,sozinha,outra vez.

Now I know.

Queria que o mundo parasse pra eu me entender com ele e com tudo que tenho deixado de lado por tanto tempo. Tenho muitos medos e planos pra alguém que mal sai de casa,crio personagens fictícios apenas pra me fazerem companhia por alguns momentos e,às vezes,costumo acreditar que eles realmente existam. Venho cuidando especificamente de nada,de ninguém,achando sempre que vinte e quatro horas não são o suficiente pra mudar nada que fiz de errado embora nem se quer começo a fazer algo de útil para transformar isso. Crítico tudo e todos e ajo como eles. Hipocrisia. Tenho vivido um dia atrás do outro como se aquele fosse o primeiro ou o último de todos,não fazem sentido e nem me fazem pensar em muda-los,vivo numa rotina chata que além de cansativa é algo do qual tenho me acostumado e isso é o pior por que sou feita de mudanças,não importa que seja uma pequena ou grande mudança,apenas preciso mudar qualquer coisa. Não mudo de amigos por que cultivar alguns dedicaram todo o meu tempo e esforço e mantê-los é algo que só ocorre por que sou obrigada a vê-los todos os dias,caso contrário não seriamos "melhores amigos". Não confio muito em ninguém,aliás,não confio muito em nada. Sempre vivo com a pulga atrás da orelha,sempre questiono o certo e errado,debato todos os assuntos acreditando nas minhas verdades e não naquelas que as estatísticas dizem estar em alta.
Espero que essa coisa de se sentir só a cada minuto até mesmo com inúmeras pessoas seja apenas coisa da idade,do tempo,da minha cabeça,e que eu possa me encontrar por que sinto que não faço a mínima idéia de quem ainda sou pois mudo de gosto,de hábitos,de lugar a cada dia que passa,sou inconstante,quase um enigma e talvez por isso as pessoas se afastem de mim: por medo! Medo de não saberem como conviver com alguém assim,medo de tentar se aprofundar em mim e se perder dentro do meu mundo. Entendo-os,de verdade. Se eu fosse outro e outro fosse eu,teria esse mesmo medo. Não quero que alguém mergulhe em mim,não quero que ninguém pergunte se eu estou bem,só quero que feche os olhos comigo e durma do meu lado,como se estivéssemos de igual para igual.
Nunca tive medo de escuro,do bicho papão,de trovão ou de filme de terror. Sempre tive medo das pessoas,do tempo,dos objetivos que eu tive e conquistei. Medo por que na verdade ver um sonho se realizando é algo bom e estável naquele momento mas depois que o encanto acaba,o sonho já foi realizado,o que resta pra eu poder sonhar?Nada. Crio novos sonhos,novos objetivos,e sonho em realiza-los embora sei a sensação que irão me causar se eu realiza-los.
Queria viver uma vida de buscas,de aprendizado,de conhecimento. Seja conhecer cada detalhe de uma pessoa ou cada detalhe do universo. Por isso que meus relacionamentos nunca duram. Depois que eu descubro tudo da pessoa,todos os detalhes,defeitos e qualidades e quase consigo ler a mente dela,eu enjoou dela. Enjoou e abandono. Sou assim também quando estou prestes a gostar de alguém,abandono sem ela nem se quer saber um por que ou que fez,mal sabendo que o problema sempre fui eu.
Meus dias estão fervendo como um vulcão que quando entra em erupção pode até matar alguém mas é lindo de se ver e quando o espetáculo acaba é hora de fazer um novo show.

10/20/2010

Diga a verdade.

Você pode mentir sobre ter estudado,pode mentir sobre ter tomado banho depois de um show de doze horas,pode até mentir sobre ter beijado alguém mas se tem algo que você não pode mentir,jamais,é sobre quem você é. Quem você é define todo o resto da sua vida. Quem você é pode mudar até a vida de outras pessoas. Ser você mesmo sem espelhos,sem máscaras,é se entregar de alma a qualquer coisa ou pessoa que você têm sido verdadeiro. Não acredito nessa história de "mentir por amor",quem ama não mente,compartilha. Não acredito também em "te trair por que a carne é fraca",que seja fraca,que você até tenha vontade do sexo de outras pessoas mas que você fale a verdade. Apenas diga a verdade. Diga que traiu por que ela ou ele era atraente demais,diga que não foram só beijos,talvez você não seja perdoado por quem ama mas você será perdoado por você mesmo mesmo com toda a culpa que carregará depois disso. Dizer a verdade é algo que eu não faço muito,vivo mentindo,então quem sou eu pra falar sobre a verdade?Bom,não sou ninguém e ainda não quero ser,não quero mudar sua vida com textos ou fazer você refletir sobre verdades e mentiras,quero apenas passar pra todos que lerem que a verdade pode salvar sua vida e a minha vida foi massacrada por uma mentira.
Eu menti pra tudo e pra todos sobre quem eu era,menti até pra mim mesmo e quase cheguei a acreditar na minha própria mentira até que um dia como outro qualquer eu percebi que se eu quisesse realmente que alguém olhasse pra mim ou pra algo dentro de mim eu teria que ser como sou,de verdade,sem máscaras e sem mentiras.
A verdade é que você mente todo dia,é quase inevitável mas experimente falar a verdade pra ver quantas pessoas te odiariam,quantas coisas perderia,quantas pessoas se afastariam... Lado ruim,não é? Mas veja os dois lados da moeda. Observe sempre os dois lados da moeda por que sempre terá algo bom e algo ruim. O lado ruim já foi citado e o bom de perder tudo,qual é? As pessoas que confiam em você continuará lá,aquilo que você preza,que você realmente teve com a verdade vai permanecer com você e as pessoas com todos o ódio da sua verdade?Bom,essas são as pessoas que mais mentem no dia-a-dia.

10/11/2010

O dia que o meu mundo parou.

Era uma sexta a tarde quando Alice me ligou e pediu pra que eu fosse ao nosso apartamento para podermos conversar. Estava animado com nosso casamento daqui há algumas semanas,estava quase tudo pronto,exceto o seu vestido. A tarde caia atrás do edifício presidencial na quinta avenida e parecia que o dia tinha acabado de começar.
Peguei o elevador as pressas e parei no décimo quarto andar onde ficava nosso apartamento,Alice escolhera o último andar por que a paisagem era melhor e ela gostava de se sentir enjoada quando olhava pra baixo e eu concordei.
Quando cheguei,ela me esperava no nosso sofá recém comprado que ainda estava plastificado. A sala ainda estava vazia mas senti que Alice,agora,também estava vazia.
Antes mesmo de me sentar ou jogar a pasta no sofá e atacar Alice com meus beijos massacrados pela saudade de algumas horas,ela me olhou de cima a baixo,um dos sinal que Alice emitia quando ia falar sobre algo grave.
- Estou te deixando. - Continuou sentada,de pernas e braços cruzados,olhando para a mesa de mármore.
Meus dedos dos pés se retraíram,minha espinha sentiu um forte impacto como se eu estivesse levado uma pancada,meu coração estava acelerando a cada segundo vazio que se passava depois daquela frase. A minha pasta caiu,minha imagem de chefe executivo e um futuro bom marido e pai estava arruinada depois dessas palavras.
- Por que? Está com medo? Podemos adiar um pouco mais,eu não me importo. - Fui sentando do lado dela a cada palavra dita.
- Não quero adiar. Quero te deixar! - Ela não me olhava,ainda.
- Por que? - Meus dentes apertavam um contra o outro enquanto todos os músculos da minha boca trabalhavam junto com meu cérebro para não mandar Alice se foder.
- Encontrei outro alguém. - Então virou-se para mim,olhando nos meus olhos e logo depois se desfazendo dos braços cruzados.
A janela aberta recebia um vento calmo,dava pra se ouvir a sua serenidade depois dos segundos de silêncio que se estendeu ali,o cabelo curto de Alice,agora,bagunçado com o vento e me fez sentir o cheiro da colônia que ela usava.
- Há quanto tempo está com ele? - Entrelacei a mão uma na outra.
- Dois meses.
- Você o ama?
- Sim.
- Você me amou?
- No começo sim mas não amo mais. - ela se levantou,desfazendo a postura de menina composta.
Alice adentrou o quarto e demorou alguns minutos,o que me deu pouco tempo pra digerir toda a história e aceitar ao mesmo tempo mas minha mente e meu coração estavam trabalhando juntos e soavam na minha cabeça:"NÃO,NÃO,NÃO!"
Ouvi um barulho se arrastar pelo chão de madeira e aumentar a cada instante. Era ela com uma mala azul marinho e uma bolsa preta de lado. Ela parou para me encarar alguns instantes e virou-se em direção a porta.
- Você vai mesmo embora?
- Vou.
- E o nosso casamento?
- Cancele.
- E o nosso apartamento?
- Venda-o!
- E nossas vidas?
- São separadas,agora.
- Eu te amo,Alice!
- Não posso ficar pelo seu amor. Adeus,Arthur!

Um silêncio chamado dor invadiu a sala do apartamento,invadiu os quartos,a cozinha,o banheiro e até o corredor. A batida daquela porta não era como se alguém tivesse ido embora,era como se eu tivesse ido embora de mim mesmo. Eu e Alice eramos uma espécie de amantes,nos completavamos,eramos perfeitos um para o outro mas Alice me deixou. Quando meu cérebro recebeu tal mensagem,automaticamente,começou a chover e fui em direção a janela sem mais nem por que,só pra ver se a chuva levava embora a dor da perda mas a unica coisa que pude ver lá do último andar foi Alice entrando em um jipe verde-cana anos oitenta.
Fechei a janela,fechei toda a casa e deitei no sofá. Não pensei em mais nada o dia inteiro apenas na seguinte frase:"ela me deixou" e essa frase estava na minha mente como a cópia de um documento importante que tiramos xerox para garantir que não irá se perder.
Eu estava perdido,essa era a verdade. Eu me apeguei tanto aquela mulher que não vivia mais sem ela,eu não respirava mais sem ela e,se longe,procurava saber da sua rotina e trajetos. Alice e eu estavamos há três anos e meio juntos e pensavamos em casar e alguns meses depois termos um filho.
O trovão lá fora me acordou da fantasia e eu voltei para a realidade,a minha nova realidade sem ela aqui e eu entendi que era de verdade,que eu estava mesmo sem Alice e então eu chorei como um menino que perdeu seu melhor brinquedo.
Eu não dormi naquela noite e não dormi noite nenhuma nas duas semanas seguintes. Eu faltei ao emprego quase uma semana e não dei uma desculpa sólida e quando apareci,já não era mais eu,era apenas alguém sem fé e sem alma,alguém morto.
As semanas se estendiam e tudo que abastecia minha geladeira era uma vodka barata,um vinho que eu tivera comprado pra Alice um dia antes do nosso fim e um ou dois ovos.
Ninguém sabia que Alice e eu rompemos e por isso ninguém tinha vindo "nos" visitar durante esse período até que perceberam a movimentação dela pela cidade em um jipe verde-cana com um cara alto,forte,loiro e com barba feita.
O que há de errado comigo? Ela sempre me disse que adorava meu cabelo castanho claro,que não ligava se eu fosse magro demais ou se eu tivesse uma barba por fazer,ela apenas dizia que eu era um cara especial para ela.
Que porra significa ser especial para uma mulher? Significa ser o capacho dela por alguns anos enquanto ela não consegue arrumar outro e quando isso acontece ela te dá um pé na bunda levando a camisa da sua banda preferida naquela mala imunda que por ventura era sua,também?
Alguns telefonas começaram a surgir,sms e emails mas eu sem paciência e sem Alice para me ajudar a organizar tudo era difícil eu me concentrar em fazer algo além de pensar no nosso fim.
Com o passar do tempo eu fui atendendo as ligações de alguns amigos e explicava pra alguns a história e parava,respirava fundo,então dizia a frase que eu temi por todos as frações de segundos desde então:"Alice me deixara."
Algumas vezes logo depois que eu mencionava isso eu ouvia do outro lado um silêncio constrangedor,uma vontade de desligar por não saber o que dizer e logo depois um pedido de desculpas por tocar no assunto.
Eu conseguia dormir algumas horas por causa de alguns remédios que Alice deixara na gaveta dela antes de partir,muitas vezes misturei com bebidas e muitas vezes fiquei bêbado e antes de cair no sono profundo eu chorava feito uma criança,soluçava e culpava a Deus pela minha dor,mas logo caia no sono e era quando,às vezes,me livrava da tristeza da minha vida,isso quando ela não entrava lá pra tirar minha paz até em outro estado de espírito.
As semanas e os meses seguintes foram péssimos,eu pedi férias do trabalho e o que eu recebi foi uma demissão por falta de empenho nos últimos dias que eu estivera lá; as luzes foram cortadas e a água também,fiquei a base de velas por algum tempo até meus pais me mandarem dinheiro para que eu fosse pagar as contas.
Certa vez,cansado de ficar bêbado,chorar e ir dormir,fui caminhar pelas noites vagas da cidade de São Paulo,caminhei por ruas que eu nem sabia que existiam,andei e corri a noite inteira e sentei em uma praça esperando a luz do dia chegar e me mandar embora pra casa para que eu pudesse morrer de cirrose,fome ou de depressão.
Quando no caminho de casa,com as mãos nos bolsos e olhar abaixado,ouvi um barulho familiar e levantei a cabeça e a girei para o lado. Era Alice rindo. Era ela. Ela estava na minha frente rindo com sua gargalhada de sempre.
Senti aquele mesmo arrepio na espinha quando ela me deixou e fiquei ali paralisado olhando ela gargalhar com alguma amiga que eu não quis saber quem era. Ela não me viu e atravessou a rua de mãos dadas com a garota.
Alice deixou o cabelo crescer e pintou as unhas de vermelho e estava de salto alto,coisas que nunca fizera antes mas o que me agradou em vê-la,mesmo que de relance,foi por saber que alguns costumes não vão mudar... como seu riso. Incrível como vou lembrar do seu riso,do seu sorriso,do seu olhar e das suas caretas.
Continuei andando em direção ao meu apartamento e subi até o último andar e quando adentrei a sala e senti o cheiro de colônia de Alice no fundo daquela casa eu tive certeza que alguma coisa nela seria para sempre. Ela seria para sempre.
Um ano e meio se passou desde que Alice me deixou. Estou bem,de verdade. Consegui meu emprego de volta e estou pagando as contas normalmente. Me mudei para o edifício da frente onde o aluguel é mais barato e eu moro no primeiro andar,o apartamento cheira a velharias da minha avó e a geladeira aqui anda cheia. Parei de beber e fumar,também. Consigo rir de piadas que me contam e tive um encontro com uma garota nessa semana,ela é interessante e tem um riso diferente de Alice,aliás,ninguém chegará perto do que ela foi para mim. Alice foi minha vida e se voltasse para mim continuaria sendo. Só queria que ela soubesse que se quisesse eu a aceitaria de novo,para todo o sempre.

10/04/2010

Culpando a insônia.

Já é segunda-feira e particulamente eu até gosto desse dia. É o dia onde tudo começa... a nova semana,a nova desculpa para uma nova dieta,dia de lembrar do porre do domingo. Mas,pra mim que ainda não dormi,ainda é domingo,ainda é aquele dia chato onde pessoas chatas ficam em casa assistindo programas humorísticos (sem graça,com certeza) sem esperar nada daquele dia. Dia de almoçar com a família,de ver um filme sem sentido,dia de pular de canal em canal até achar um tão chato que faça você cochilar no sofá. Pra mim,é dia de insônia. Tenho insônia com dia marcado,sim,ela só chega aos domingos e eu reluto contra ela pra ver se consigo dormir para o dia do começo de tudo (a tal segunda-feira) mas não hoje. Hoje eu quero mesmo sentir essa insônia.
Só faz alguns minutos desde que deixei meu lugar predileto:A cozinha. Não é bem meu lugar preferido mas é o mais solitário durante a madrugada,é onde me abrigo quando vem a insônia e foi lá que eu acendi um cigarro pra tentar encher os pulmões de vida,mesmo sabendo que ao contrário de encher-me de algo estará a me tirar cinco minutos de vida a cada cigarro tragado,mas não ligo...
Fumei esse cigarro como um viciado em reabilitação fumaria depois de tanto tempo: angústia,tremor,medo. Senti minhas pernas fraquejarem,bambearem,fugirem de mim. Quando dei por mim estava tonta,segurando nas paredes para não cair,minha mente rodava e eu tentava me concentrar em algum cômodo para não cair,andei até a porta da frente e me segurei na grade,respirei o ar da noite e voltei,ainda tropeçando no vento,para a cozinha. Assaltei a geladeira e comi alguma coisa que se alguém me perguntasse o nome eu não saberia responder,só sei que repeti três vezes e pelo gosto amargo do cigarro na boca pós dentes escovados e,lá no fundo,o gosto do que comi,diria que era uma fruta.
Acho que estou doente. Embora eu seja compulsiva para remédio,reneguei todos e deixei que a mãe natureza me curasse por si própria. Tentativa inválida.
Dei na cama e me cobri,rolei para um lado e para o outro,fechei os olhos e pensei em alguém que eu queria naquele momento,abri os olhos e levantei. Fui tomar um banho. Banho demorado,onde você parece mais lavar a alma do que só o corpo.
Minhas pálpebras querem se fechar mas algo na minha mente bloqueia o meu sono não querendo que elas fechem,como se eu precisasse me manter acordada para ver algum espetáculo.
Sinto meu nariz escorrer mas eu não cheirei cocaína,nunca cheirei,na verdade. Só parece. Meu estômago ainda luta por comida que apesar daquelas "frutas" não se viu nada o dia inteiro,exceto o almoço,e pede um pouco de comida.
Minha cabeça dói e pesa,como se eu precisasse mantê-la sustentada ali por um decreto e não por só ser parte de mim.
A verdade sobre a insônia é que eu não consigo suporta-la,embora quisesse de verdade tê-la hoje.
Deitei minha cabeça em cima da escrivaninha e na minha mente apareceu alguém. Quem? Ele! É,ele. E eu descobri o por que da minha insônia.
Ele é o motivo da minha insônia.
Ele só não sabe disso.
Talvez,nunca saberá.
Morre aqui esse sentimento.
É o fim.

10/02/2010

Os detalhes.

Tenho um vício incontrolável:Gosto de me apaixonar de cara pelas pessoas. Sejam elas limpas,sujas,novas,velhas,estudantes ou vagabundos. Gosto mesmo é de me apaixonar cada dia por um tipo de pessoa diferente. Gosto de descobri-la,de encontrar os detalhes,reparar como e quando os pêlos do seu corpo se atiçam,observar calmamente cada sinal há no seu rosto e os vários modos como essa pessoa pode sorrir. Gosto de imaginar as cenas com essas pessoas,cenas em qual eu estou,cenas de como eu poderia revirar o mundo de alguém e parar de me apaixonar todos os dias por pessoas diferentes e passar a me apaixonar todos os dias pela mesma pessoa.
Um dia desses,num desses dias normais que você nunca espera mais que uma rotina cansada,me deparei com um rapaz jovem,bonito,barba por fazer,olhos claros,cabelos castanhos. Entre seus dedos um único utensílio:um cigarro. O vi andar e rodar o mesmo local umas duas vezes até sentar no banco da praça e tirar da mochila azul-marinho um caderno completamente acabado e uma caneta; suas mãos se movimentavam mais rápido do que meus olhos poderiam acompanha-lo,como se ele soubesse exatamente sobre o que estava escrevendo e pensei que não fosse nada pra alguém,era apenas algo dele,que ele jamais mostraria pra alguém... frases que escrevemos e não mandamos,que mofam no fundo do nosso caderno com letras borradas e riscos por cima de palavras que não deveriam pertencer aquela folha.
Ele então parou e olhou pro lado,vi uma menina se aproximar dele mas esse já não teve reação. Nenhum sorriso,nenhum olhar penetrante,nenhuma expressão de amor ou ódio. Deu a última tragada no cigarro antes de lança-lo ao chão e pisoteá-lo.
A moça,que de longe parecia alta,dos cabelos curtos e loiros deu um sorriso na direção do rapaz e sentou-se ao seu lado. Fitou o horizonte por alguns segundos antes de abrir a boca e fecha-lá sem dizer nenhuma palavra e voltou a faze-lo,dessa vez saindo alguma coisa.
De longe não pude ouvir quase nada a não ser um "Ok","tudo bem","eu ficarei bem","eu te ligo outro dia". A expressão do rapaz era incrédula quando a moça levantou-se e saiu sem falar nada,sem dois beijinhos ou uma afagada em suas mãos ou ombro.
Dessa vez ele fitou o horizonte por algum tempo,puxou a mochila a tira colo e puxo um cigarro e tirou do bolso da calça um isqueiro. Acendeu seu cigarro como se acendesse uma vela para sua morte. Tragou uma,duas,três... foi o cigarro mais rápido que eu vi alguém fumar. Abriu a mochila e tirou outro cigarro e iniciou o ciclo novamente.
Deixou o caderno de lado e colocou suas mãos entre seu rosto,como se algo de muito ruim estivesse lhe acontecido. Ele respirou mais alto do que acho que gostaria,tanto que pude ouvi-lo. E ele me olhou.
Que olhos eram aqueles?Como se algo nele estivesse suplicando perdão a alguém e com certeza não era pra mim ou pra aquela moça que acabara de sair dali. Ele nem se quer a olhou nos olhos e quando a olhou da primeira e última vez naquele quase-encontro seus olhos não transpareciam aquela dor.
Ele agora guardava seus pertences na mochila e levantava. Voltei a rabiscar alguma coisa no caderno pra transparecer que ele não era o alvo da minha tarde. Tarde demais. Ele vinha caminhando na minha direção. Franzi o lábio e ergui a cabeça pra olha-lo.
- Posso me sentar? - Perguntou ele.
- Pode. - Assenti chegando para o lado e levando comigo a minha bolsa.
- Posso saber seu nome? - Ele olhava para o chão.
- Por que?
- Quero saber o nome da garota que passou quase duas horas me observando.
- Eu... não... - Minha voz falhou completamente.
- Ei,eu gostei. Nunca vi ninguém me observar tão detalhadamente.
- Qual o seu nome? - Desviei o olhar para o caderno.
- Gabriel. Não vai dizer o seu? - Ele acompanhou o movimento que minhas mãos faziam na página em branco do caderno.
- Yasmin. Me chamo Yasmin. - Olhei pra ele. - Posso te fazer uma pergunta?
- Quantas você quiser. - Ele sorriu,não um sorriso que eu pudesse ver os dentes dele,só um sorriso bobo jogado na cara.
- Era sua namorada?
- Era.
- Vocês terminaram?
- Ela terminou.
- Você está bem?
- Estou. - Ele sorriu,dessa vez,mostrando os dentes.
- Está? - Desconfiei.
- Não eramos um para o outro.
- Tudo bem. - Dei de ombros.
(Um período de dois minutos de silêncio fez com que o ar parecesse dois anos)
- Tá escrevendo o que? - Perguntou ele puxando assunto.
- Um texto.
- Fala sobre o que?
- Sobre você.
- E o que você escreveu sobre mim até então?
- Coisas que você nunca vai ler.
- Por que?
- São minhas palavras e ninguém vai entende-las.
- Eu posso tentar.
- E se fracassar?
- Vou estar tentando de qualquer forma.
- Não posso.
- Por que?
- Mostraria a você minha alma.
- Você escreve com a alma? - Ele riu.
- Escrevo. Gosto de mim,assim,transparente.
- Podemos entrar em um acordo?
- Qual?
- Mostre-me sua alma que lhe mostro a minha.
- Qual foi seu último texto?
- Há umas duas horas.
- Sobre o que?
- Sobre você.
- Então não quero ver sua alma.
Ele riu. - Não gostaria de saber como vejo você?
Pensei,repensei. Espaço grande de silêncio. Me entreguei.
- Dei-me seu caderno. - Sorri,fraquejei.
Ele então tirou da sua mochila o seu caderno quase destroçado e deu um sorriso que mais parecia um pedido de desculpas do que um modo de mostrar afeição,passou o caderno pro meu colo na página rabiscada cujo título era "te encontrei por aqui" e logo que me distrair com com o caderno em mãos ele tomou do meu colo o meu caderno e começou a ler. E eu li coisas sobre mim que eu nunca,jamais,achei que alguém estivesse ciente além de mim.
- "... observadora nata,não parou de me olhar e não retribuir o olhar com medo de que parasse de me observar. Seu tênis estava sujo,se eu tiver tempo vou dizer isso a ela se eu parar pra conversar com ela." - Eu ri relendo trechos do texto dele.
- Eu gostei do seu texto sobre mim. - Ele sorriu e passou o meu caderno para meu colo,em contra partida,pegando seu caderno.
(silêncio,um duro silêncio)
- Preciso ir. - Sussurrei sem querer dizer essa frase.
- Pra onde?
- Pra casa.
- Posso te ver de novo?
- Eu vou estar aqui amanhã no mesmo horário.
- Eu estarei também.
Levantei devagar e coloquei minhas coisas na bolsa,afaguei seu ombro enquanto dava a volta no banco e me vi sumir dali em poucos segundos. Sumi,sumindo,me virei pra ver se havia vestígio dele. Nada. Fui pra casa e dormi.
Desde aquele dia tenho me levantado cedo,tomado café com edulcorantes e tendo inspiração para escrever textos.
Todos os dias,às três horas,encontro Gabriel e conversamos sobre coisas,sobre pessoas,sobre literatura e verdades.
Nunca conversamos sobre amor... mas se me perguntassem qualquer detalhe sobre aquele rapaz eu saberia responder.