2/24/2012

Adeus, estranho!

- Seus pulsos são muito bonitos para você mutila-los. - Disse o moço que sentava na cadeira ao lado da minha enquanto eu fumava um cigarro na varanda do consultório médico.
- Às vezes a dor de dentro da gente é maior do que a gente consegue aguentar. - Eu disse enquanto tampava meus pulsos com o casaco de algodão branco.
- Nenhuma dor pode ser tão grande que não possa ter uma cura. - Ele disse enquanto tragava mais uma vez seu cigarro.
- Ainda há cura para alguém depressiva? - Eu sorri de lado numa tentativa de que ele pudesse sorrir de volta e me deixar menos constrangida.
- Sempre há cura, sempre. Você só tem procurando por ela em lugares errados. - Agora ele sorriu, um sorriso bobo e infantil como de uma criança que acabara de ser repreendida mas não ligara.
- Na verdade, nunca procurei uma cura. Cura são para doenças, não acho que depressão seja uma doença pra mim. - Dei mais um trago no cigarro.
- Depressão é a doença mais triste que existe, moça. Porque todas as outras doenças, mesmo que não tenham cura, podem faze-la permanecer viva por dentro e a depressão tem matado-a por dentro e com o tempo vai matando-a por fora.
- Gosto da ideia de morrer. - Olhei pro céu nublado que pouco se enxergava por tantos prédios altos ao seu redor.
- Você gosta da ideia de morrer com dor? - Ele perguntou enquanto procurava o mesmo ponto que eu enquanto olhava para o céu nublado.
- Gosto da ideia de morrer, com ou sem dor. Morrer deve ser mais fácil, existir é sempre complicado. - Eu pus meus olhos nos olhos dele que automaticamente encontraram os meus.
- Seus pulsos... tentativa de suicídio?
- Tentativa de manter-me viva.
- Não entendi!
- Eu já não sentia nada, a dor que eu causava em minha pele fazia com que eu lembrasse que ainda podia sentir, mesmo que fosse a dor a unica coisa que eu pudesse sentir. Mas agora, eu sinto demais e quando eu sinto demais é hora de parar.
- O que quer dizer com isso?
- Que estar na hora de eu partir.

2/17/2012

Me auto-deteriorando.

Depois de tanto insistir em dizer que o amor ainda existe, me calei perante tudo aquilo que ouvia você dizer enquanto arrumava as malas e partia para sua nova vida. Logo eu que sempre acreditei que o amor era a única coisa que nos prendia a outro ser humano o bastante para que pudessem viver juntos até o fim de suas vidas, logo eu que sempre olhei para o céu em busca de respostas sobre o porque de eu sempre amar primeiro e do modo mais errado, afugentando assim todos aqueles que eram queridos por mim. Eu sempre costumava dizer que o amor era a única coisa que podia salvar ou destruir o mundo de alguém e agora sei que nunca estive tão certa quanto a isso, o problema é que eu vivia na esperança de que o amor me salvasse e não me destruísse mas foi, acidentalmente, ao contrário de tudo que um dia sonhei. O amor me deixou em cacos - o amor não, a falta dele - e tudo em que eu costumava acreditar correu para longe para nunca mais voltar. Enquanto você surtava e despejava palavras grosseiras pelo quarto, eu me vi sentada no chão da cozinha com mais um litro de vodka puro e um maço de cigarro na tentativa de que você me vendo na pior pudesse ficar mais um pouco. Erro meu! Erro meu de achar que eu poderia prender alguém que um dia me amou por me ver deteriorando em mim mesma, erro meu achar que naquele momento você pudesse me pedir desculpas, desfazer as malas e compartilhar do meu cigarro e da minha bebida enquanto tocava minha mão suavemente, olharia pra mim e riria enquanto me pedia desculpas. Erro meu achar que a minha vida poderia ser destaque dos cinemas, que tudo pudesse parecer fantasia, mas ainda vivo a realidade de sempre. Hoje eu já não sei o que fizeram com você, já não sei quem és ou onde vive, já não existe mais vestígios de onde posso encontrar-te, tudo que restou foram as fotografias, o eco da minha voz pela sala, meus cigarros e a metade de uma vodka. Descobri que amar demais é mesmo uma merda.

2/15/2012

Aos navegantes, todo o mar.

Um pequeno-grande aviso aos tripulantes desse navio: amar não dói nem um pouquinho, aquilo que dói, machuca e às vezes fere a alma é o amor que você não dar, é o amor que você não receber, é o contato que você não teve. Olha, o mar - ou o amor - é grande suficiente pra caber todos os navegantes e se em algum momento observar que o navio tá quebrado não pense duas vezes e ponha-se a nadar. Nada disso de nadar, nadar e morrer na praia, quando a gente chegar lá que é a hora de viver outra vez. A gente possui tantas maneiras diferentes de morrer todos os dias e não é o mar - nem o amor - que vai fazer a gente se afogar, ao invés disso vamos nadar até quando nossos braços não puderem mais, até nossas pernas tremerem de dor, mas só vamos parar de verdade quando nosso coração parar de bater. Nada de morrer de fome, de sede ou de qualquer outra coisa assim que chegarmos na praia, é lá que vamos viver se esse navio quebrar mas estamos apenas botando em suposição sua quebra, e se o navio não quebrar, meu bem, continue navegando até onde seus olhos puderem avistar terra! Continue, porque é preciso continuar mesmo que tudo ao nosso redor nos diga que é impossível, no amor e na guerra tudo é possível, mas não se deixa morrer ou se abater nem nesse mar, nem num riacho e nem no peito de alguém. Reme, nade, construa novas pontes e novos artifícios para que não pense em parar nem de amar e nem de remar. Porque de um jeito estranho mas muito bonito o mar e o amor estão sempre juntos: ninguém consegue descreve-los, ninguém consegue calcula-los, ninguém os entende mas todos, os navegantes e os amantes, o admiram da forma mais bonita possível. Por isso, reme e ame que é pra um dia não acordar numa ilha sem rumo e sem amor.

2/14/2012

O teu peito poderia muito bem ser a minha moradia.

Fiquei quase duas horas deitada na cama e olhando para o teto em branco na esperança que meus pensamentos pudessem me teletransportar para o seu lado, ideia boba de mais uma entre tantas apaixonadas mas sempre que sinto saudade, sempre que aquela dorzinha chata chega e incomoda o peito, penso em você com todo o afeto e carinho de sempre, e às vezes até mais, até mesmo quando não merece. Eu sei que foi obra do destino, do acaso, da coincidência - ou obra de qualquer método que eu possa um dia acreditar - te levar pra tão longe de mim mas sei também que quando eu penso, repenso e trepenso em você, mesmo com lágrimas nos olhos e um urso sendo esmagado, sinto que posso estar contigo a todo e qualquer momento. Quando se foi, quando simplesmente arrumou aquelas malas e partiu, senti como se o mundo fosse desabar sobre a minha cabeça, perdi até mesmo o meu chão - logo eu que sempre me julguei forte demais pra aguentar qualquer pancada que a vida me desse - e de um jeito inapropriado eu quis você mais do que sempre quis um dia. Os dias se arrastaram, a saudade incomodava tanto a ponto de eu não mais aguentar e chorar por horas enquanto olhava para o mesmo teto branco. O engraçado é que tudo ao meu redor me lembrava a você, das músicas mais cafonas até objetos inanimados, tudo aquilo que estivesse ao alcance dos meus olhos me fazia automaticamente pensar em você. Diferente de outros, não quis prosseguir a vida sem você, estávamos ligados demais para que eu pudesse dar um passo a mais sem você. Tudo girava ao seu redor e eu já não me importava mais se era eu quem estava errada ou você, eu apenas queria dar um basta em tudo isso e fazer você voltar para o lugar de onde nunca deveria ter saído: do meu lado. E depois de quase uma vida, pra mim, você volta com aquela cara de quem sentiu saudade, com aquele abraço de quem segura a coisa mais importante da vida ali, com aquele beijo apaixonado, com aqueles olhos brilhando querendo me dizer tanta coisa mas no momento a garganta sempre trava e é preciso aprender a ler os olhos. Não é preciso mais que isso, aprendi a ler teus sinais, entendi o que era importante pra você e quando chegou e me tomou em seu abraço percebi tudo aquilo do qual um dia duvidei: é de mim que ele precisa, é em mim que ele pensa antes de dormir, é comigo que ele sonha. E, sim, é com ele que eu quero passar todos os dias da minha vida.

2/10/2012

Alimente-se, usufrua, liberte-se!

E a sociedade dos poetas - o pouco que restou deles - passa fome! Não digo do alimento que alimenta a carne humana, digo do que alimento que alimenta a alma. Para nós, pobres e sonhadores escritores, nada é tão importante quanto escrever, quando escrevemos passamos a libertar nossas almas de uma forma incrivelmente épica, quando nós escrevemos - seja um texto ou uma frase - nossa alma se alimenta, o único problema disso é que a fome da alma nunca sacia, ela sempre quer e pede mais. Então nós damos o que nossa alma pede e escrevemos, entra dia e sai noite e estamos logo ali, sentados em um café escrevendo sobre coisas que ainda não conseguimos entender. Quando a alma diz ter um pouco de fome, nós a alimentamos com a boa leitura e, quase sempre, ela sente-se satisfeita mas nunca é a mesma satisfação de quando somos nós quem escrevemos algo. Para a alma não importa sobre o que ou sobre quem escreveu, não importa se sua escrita é curta ou longa, tudo que importa é que você a sacie com sua escrita. Tenho pra mim que muitos poetas morreram de fome, não alimentaram suas almas e precisaram ser levados para um outro mundo. Acredito que todos tenham muito o que dizer só não acharam a maneira correta de faze-la, sei disso porque aprendi a entender o silêncio das pessoas através do meu próprio silêncio, aprendi a ler sorrisos e olhares e percebi que todo mundo tem sempre algo pra dizer, mas não sabem como. É nessas horas que a alma implora por alimento, é nesse momento que a alma lhe trás a ideia do que escrever. Sempre penso que a escrita tem pouco a ver com a imaginação e sim com o tamanho da fome que a sua alma tem. Por isso, caros poetas sobreviventes desse caos, alimentem suas almas! Alimentem a vocês mesmos com suas escritas, com boas leituras e nunca, nunca mesmo, deixem de escrever o que precisa ser escrito. O que escrevemos hoje, em um papel ou em um site, ecoará eternamente pelo nosso e por outros mundos.