10/26/2013

Por onde deve estar?

Ele pode estar em alguma mesa de bar com os amigos, brincando de virar doses de vodca pura pra amenizar o ardor no coração. Ele pode estar com outra mulher também, por que não? Ele pode estar em qualquer lugar do mundo agora. Do outro lado, estou eu. Solitária, como de praxe. Esperando a noite acabar para ir dormir profundamente incomodada com o fato de eu não saber por onde ele andou o dia inteiro. Uma miscigenação de ciumes, de raiva, de magoa, de rancor. Uma coisa que a gente não sabe colocar em palavras mas entende perfeitamente quando sente na pele. Ele pode estar apenas solitariamente arrumando um modo de me deixar maluca - por que ele sabe que esses sumiços me fazem querer arrancar os cabelos - e me fazer ir atrás. E eu vou! E eu busco! Não me acho uma babaca por ir atrás. Não me acho a otária que todo mundo se julga ser quando o quesito é voltar atrás por quem se ama. Se for recíproco, volto um milhão de milhas. Mas a diferença é que eu também posso! Eu posso estar em alguma mesa de bar bebendo descaradamente enquanto paquero o rapaz da mesa ao lado, eu posso estar sozinha em meu quarto prendendo a respiração para não chorar. Eu também posso estar com um homem. Por que não? Por que me privar do mundo? Eu fui atrás, eu corri, eu percorri um milhão de milhas e de nada adiantou. Agora ele que venha atrás. Um dia de boba, um dia de esperta. Cada um faz seu papel, mas eles podem se inverter.

Pensamentos Soltos Que Não Se Soltam.

Parece que o chão sob meus pés está cedendo. Me sinto estagnada meio a areia movediça. Cada novo passo é mais um passo que eu dou para me afundar. Estou terrivelmente destinada a fracassar. As coisas, como aparente, não andam bem pelo lado de cá. Tudo tem chegado a mim com uma súbita força violenta, fazendo cada parte do meu corpo sentir a pancada e cada pequeno espaço da minha mente se encher de dúvidas. Minhas memórias agora parecem estar esfoladas, como se eu já não mais habitasse esse corpo que me pertence. Vejo que as coisas estão indo de mal a pior e eu estou tentando não fraquejar ou parecer aquela frágil garota que eu costumava ser. Estou disposta a seguir em frente só para ver até onde o meu próprio abismo pode me levar. Se eu cair, um dia ei de aprender a me levantar. Mas se eu continuar em pé, ah... se eu continuar em pé não haverá mais nenhuma força súbita que possa me fazer duvidar da força e do poder que eu tenho sobre mim mesma. Muito menos sobre minha vida. 

10/20/2013

Nós somos os escolhidos.

Há um mês atrás eu acordei sozinha em um espaço rural onde, até então, eu jamais estivera. Acordei de bruços em meio ao pasto, próxima a um celeiro abandonado. Lembro-me bem daquele momento, afinal de contas eu não sabia como tinha chegado ali ou o que estava fazendo ali. Corri por todo o cenário rural afim de encontrar alguma coisa ou alguma pessoa que pudesse me explicar tudo aquilo. Minha mente girava, meus olhos cansavam-se por conta do sol quente e da mente perturbada que procurava explicações racionais para tudo aquilo. Lembro que senti uma sede como jamais havia sentido. Eu implorava por água, pra mim mesma. Eu gritaria, se minha boca não estivesse tão seca e meu corpo não estivesse tão cansado. Andei, meio zonza, até o celeiro abandonado. Como eu imaginei: um cenário ideal pra um massacre. Agradeci por ser dia, ainda, embora soubesse que isso não diminuía a probabilidade de eu ser sequestrada, esquartejada ou qualquer coisa diabólica que a mente humana pudesse pensar. Pro meu desgosto, não havia nada ali que pudesse me explicar o que estava acontecendo. O celeiro era tipico de um cenário rural dos anos 60. Fenos espalhados por toda a parte, misturado com fezes de alguns animais e um aroma de envelhecido com podridão. Como se não bastasse meu tormento, senti que aquele lugar cheirava a morte. Sem sangue, sem vida humana, sem água, sem comida, provavelmente muito longe de casa... aquele celeiro parecia o fim do mundo. Eu me sentia triste, cansada e atormentada, queria explicações mas não sabia a quem recorrer. Não havia a quem recorrer. A última coisa que eu lembro daquele dia foi uma pancada forte na minha nuca e acordar no hospital.

Desde que acontecera o dia mais grotesco da minha vida, eu e minha mãe nos mudamos de Jacksonville. Viemos morar com meu tio, Charles, no Arizona. Minha mãe, desde o que me acontecera, preferia não conversar ou comentar a respeito do mesmo comigo. Eu não entendia muito bem já que a maior vítima dessa história era eu e, ainda sim, eu queria saber ou tentar descobrir alguma coisa do que ocorrera naquele dia. 
Tio Charles foi receptivo ao nos buscar no hospital assim que me deram alta. Ele nunca perguntou a mim o que havia acontecido, eu nunca quis contar-lhe, também. Não eramos muito próximos. Eu via tio Charles apenas nas datas comemorativas em família. Não era alguém que eu considerava exatamente da família, mas ele tinha meu sangue e, pelo visto, tinha também um coração bondoso e acolhedor. 
O Arizona não era exatamente um lar pra mim. Eu sentia falta de Allie e Scott, meus melhores amigos, sentia falta do colégio, sentia falta de tudo e qualquer coisa que me lembrasse a Jacksonville. No Arizona, eu me sentia uma estranha em um mundo que nunca me pertenceria. 
Como se não bastasse todo o tormento de uma cidade nova, mais um membro familiar para dividir o banheiro e o calor infernal que costumava fazer desse lado da cidade, eu teria que me integrar a uma nova sociedade. E lá estava eu em meu primeiro dia de aula no Greenway.
Era um colégio grande e sofisticado, aos meus olhos humildes de Jacksonville e Englewood. Tudo ali se movia muito rápido. As pessoas andavam apressadas, corriqueiras e dispersas. Eu ficava enjoada apenas de olhar os passos rápidos de todas aquelas pessoas. Eu precisava de ar, precisava ficar longe dessa novidade imensa. Era tudo muito novo e estava acontecendo tão depressa que eu senti um nó na garganta se fazer. Quando dei por mim, estava sentada em baixo de uma grande árvore que ficava ao norte da saída principal do colégio, chorando a prantos, fanha e em soluços. Eu só queria minha vida e meus amigos de volta. 

- Ei, menina! Você está bem? - Ouvi uma voz próxima a mim mas não virei de imediato para olhar, quis acreditar que não era comigo. - Ei, você me ouviu? Está bem? - E, então eu me virei - Oh meu Deus, você é a garota da TV. A sequestrada. Meu Deus. - A garota que não respirava para falar me deixou assustada.
Eu não era boa em me comunicar com as pessoas. Minhas redes sociais foram apagadas há alguns anos e o único contato que eu tinha, desde então, era com os livros. Odiava assistir TV, odiava falar ao celular ou ter que checar e-mail. Por tanto, aquilo me soava psicótico e maroto. Eu? Na Tv? Eu, sequestrada? 
As palavras chegaram aos ouvidos mas não queriam ser captados pela mente. Respirei fundo. S-E-Q-U-E--S-T-R-A-D-A. Suspirei, respirei. Sequei os olhos e me levantei.
- Eu? Sequestrada? Eu realmente acho que você está enganada. - Eu disse, enquanto pegava minha bolsa do chão. 
- Não. Eu raramente me engano. Seu rostinho apareceu em todos os jornais internacionais. É impossível. É você. Você era a garota sequestrada. Meu Deus, que bom que você está bem! - Ela me abraçou forte como se fossemos amigas de infância - Me diz, seus pais pagaram muito caro para lhe trazerem de volta? Eu, na época, fiz uma aposta alta com alguns amigos do Campus e chutei uns cem mil dólares mas nunca divulgaram essa nota e não tínhamos o que debater, ficamos por isso mesmo. - Ela parou de falar por um tempo, me analisou da cabeça aos pés e voltou a tagarelar infinitamente. - Então, eu apesar de saber da sua vida e tudo o mais, não sei o seu nome. O meu é Nicole, mas chame de Nic. Todos chamam de Nic.
- Ah, certo! Então... Nicole. - Eu parei depois do olhar desaprovador dela. - Hum, Nic... - Ela sorriu, esperando minha conclusão. - Me chamo Kaya . E eu realmente não fui sequestrada. Eu não tive de pagar nada, nem meus pais. Você deve ter me confundido com alguém. A menina sequestrada deve ser parecida comigo, apenas isso.
- Hum... - Ela parou analisando o que eu acabara de lhe contar. - Sei não! Mas pode ser. Mas se for, uau! Uau, mesmo! Você se parece muito com ela. Muito mesmo. Enfim, estou indo para minha primeira aula do dia. - Ela se desculpou enquanto dava pequenos passos para trás. - Biologia. Sou péssima! Não posso ficar conversando muito, preciso ir! Mas quero mesmo conhece-la melhor, parece ser uma menina incrível. - Ela sorriu e me deu as costas.
Eu bufei, enquanto a via se afastar. As pessoas daqui não deviam ser tão... descontroladas. Ela falava muito, mas eu acabei realmente gostando de ter aquele momento receptivo logo pela manhã. Peguei minha bolsa e retirei um envelope que minha mãe me entregara no dia anterior com toda minha grade escolar da semana. Passei os olhos pela folha branca. Era Terça-Feira e hoje eu teria... Biologia.