7/30/2017

Canais

Penso... 
Esse é meu carma. 


Ao fundo é possível ouvir algum noticiário tendencioso mas não estou prestando atenção o suficiente para saber do que se trata. Minha mente acordou cheia e, ao mesmo tempo, vazia. Eu só queria uma calmaria e isso parece ser impossível hoje em dia. Tudo faz ruído e implora para ser ouvido e eu, mesmo ociosa, evito ao máximo ouvi-lo.

Talvez fosse mais fácil partir e deixar todo esse ruído para trás. Seguir em frente, ao som do vento, mas até mesmo isso tem sido intensamente doloroso. Minha mente sempre vacila nessa parte e eu volto a pensar sobre partir de vez. 

Quando o barulho externo não me deixa espaço para pensar em voz alta é quando tudo desmorona. Preciso de silêncio porque dentro de mim sempre está acontecendo uma guerra. Eu não consigo lidar com tanto barulho. Ioga não ajuda, tampouco meditação.

Poucas coisas acalmam minha alma em momento como esse. Só uma voz diminui meu batimento cardíaco o suficiente pra eu voltar a respirar compassadamente. E, as vezes, eu não posso ter essa voz por perto; isso machuca. 

Não sei se posso aguentar mais outra carga deste nível. No passado, quando acontecera pela primeira vez, eu me fiz forte e suportei, por pior que tenha sido e por mais que eu estivesse a um passo de distância da morte eu consegui superar. Eu não aguentaria mais uma vez, mesmo acreditando que isso não para de acontecer nunca. 

A voz sempre volta, não importa quão bem eu esteja indo na vida. E quando ela aparece a guerra dentro de mim recomeça mais forte, mais violenta, mais destrutiva. Eu não tenho mais habilidade para lidar com esta dualidade que vive em mim. 

Partir sempre me parece ser a melhor opção. 

7/07/2017

Duas batidas.

2. Sua pele clara parecia refletir o sol. Eu estava pensando no verão quando olhei para seu corpo semi nu e senti um arrepio interno. Talvez seja esse fogo ardente dentro do peito que eles chamam de paixão súbita. Essa mesma paixão que eu não poderia, nem por instante, sentir crescer.

1. Eu estava pronta pra ser a mulher dos sonhos dele. Eu sentia isso no fundo da minha alma. Eu poderia ser aquela que lidaria com todas as dificuldades e problemas porque eu sempre fui muito boa em ter paciência e sensibilidade para com a dor do outro. Eu poderia fazer isso porque, indiretamente, fui designada a melhorar a vida dele.

2. O brilho dos seus olhos castanhos não traziam tempestades; eu estava plena e incrivelmente feliz de poder olhar aqueles olhos outra vez. Eu nunca pensei que pudesse sentir tanta falta daqueles olhos dóceis e gentis. Eu senti falta de cada pedaço que ele me proporcionava, mas talvez fosse tarde demais para retê-lo para mim.

1. Gosto da curvatura do pescoço com o ombro, onde eu aplico beijos incontroláveis até que ele roce a barba em meus pescoço e faça com que eu solte gemidos abafados. É nossa melhor e maior conexão. É como a gente se entende. Não há palavras que sejam suficientes, mas quando nossos corpos entrelaçam é como se o universo tivesse nos dado uma segunda chance para conversar.

2. Suas costas me atraem de uma forma inexplicável. Mal posso respirar todas as vezes que olho para algo tão natural que, em mim, causa ondas fervorosas; eu poderia olha-lo despir-se um milhão de vezes sem que isso deixasse de parecer a coisa mais sensacional do mundo.

1. Cafés e cigarros são nossa pausa; eu poderia sentar numa varanda ao entardecer durante todos os dias que me restam se houvesse sua companhia. Tomaríamos café e fumaríamos cigarros sem muitas palavras. Aprendemos a conversar com o outro pelo olhar.

2. O sorriso me fascina de um jeito que eu mal posso descrever. Eu quero sorrir quando ele sorri. E quando ele sorri, eu sinto vontade de beijar cada músculo do corpo dele. Às vezes, me controlo para não lhe dizer tais asneiras. Isso mudaria tudo. Eu continuo querendo beijar cada parte do corpo dele como se isto fosse meu vício predileto. Eu não me importaria de ficar viciada em seu corpo.

1. Há uma parte de mim que quer coloca-lo em um pote e guardar de todas as dores e problemas do mundo e há uma parte que diz que não devo protegê-lo dessa guerra diária; mas eu queria poder tirar toda a dor do peito dele e mostra-lo a verdade, a felicidade plena, o amor como deve ser. Mas ele não escuta e isso é o que mais me dói entre nossos silêncios atemporais: o amor não vai suportar toda a corda sozinha.

6/17/2017

Um sábado frio e cinzento com café e sem você

É sábado. 
O dia está cinzento. 
A cidade está fria. 
O café continua quente. 
Você continua longe.

É sábado.
A chuva começa a cair lentamente.
O meu casaco é fino.
O café está no final. 
Você não ligou. 

É sábado. 
Raios e lampejos me assustam.
O edredom enrolado no meu corpo não parece adiantar. 
O café acabou. 
Você sumiu. 

4/02/2017

Detalhes

Eu queria ter ficado. Eu gostaria de poder ter ficado. Eu queria ter tido a escolha de ficar, mas escolhas, volta e meia, independem do nosso querer e é por isso que eu precisei partir. 

Toda vez que chove eu lembro daquele dia. Ainda ouço sua voz ecoar na minha mente perguntando, retoricamente, a razão de me desfazer de tudo aquilo. Você nunca entendeu minhas verdades, mas como poderia? Eu nunca lhe contei metade daquilo que se passava em minha mente. Mas se eu contasse, você seria capaz de entender sem julgar ou sem me fazer repensar nas minhas escolhas?

Suas lágrimas se confundiam com a chuva forte. Era a mistura perfeita de gélido e quente, pude perceber esse detalhe quando pus, em vão, meus dedos abaixo dos seus olhos numa tentativa frustada de seca-las. Você não me olhava diretamente nos olhos. Acho que não conseguia. Tudo bem, eu não te olhei nos olhos no dia em que precisei partir. E isso ainda dói. 

Suas mãos trémulas encontravam as minhas toda vez que eu alcançava seu rosto, nunca soube se pelo frio trazido pela chuva forte ou aquilo era um sinal de medo de me perder. Você nunca me contou se tinha medo de me perder, acho que não é o tipo de coisa que se pergunta ao outro e por isso eu nunca soube. Contudo, eu nunca te disse que tinha medo de te perder, também. 

Seu casaco estava ensopado quando você me envolveu nos seus braços. Ainda parecia quente ali dentro, mesmo com o tempo caótico que caía sobre nós. Você deitou sua cabeça no meu ombro e instalou um beijo em meu pescoço. Ainda lembro de me forçar a manter os olhos abertos. Aquilo, aquele pequeno ato de fechar os olhos, poderia mudar todo o rumo desta história. 

Você se afastou e entre os passos cambaleantes olhava para trás. Eu vi o seu medo derreter naquela chuva. Você sabia, ali, que era o fim. Enquanto eu ainda não via dessa forma. Não era o fim para mim, mesmo que eu não pudesse mais ficar contigo naquele momento. Três passos a frente e eu já tinha desaparecido da sua vida. Sua expressão te denunciou. 

Você se tornou um ponto no meu campo de visão a cada passo mais distante de mim, até que dobrou a esquina e eu não pude mais vê-la. A aquela altura, a chuva cessara. O céu começava a abrir espaço para o sol quente. Ao voltar meus olhos para a esquina em que vi você desaparecer, eu percebi que as coisas são assim. O que fica, o que marca, são os detalhes. 

Tomei o ônibus. A única mala que eu tinha já estava guardada há um tempo. Senti falta de ter algo nas mãos naquele instante. Talvez eu pudesse me distrair e não repassar aquele momento durante toda a viagem, mas foi exatamente o que eu fiz. Eu perdi você, você me perdeu, tudo isso de forma involuntária e fora do nosso alcance de mudança. Eu detesto lembrar desse momento e saber que eu não poderia ter mudado aquilo mesmo que quisesse. 

A vida, enfim, é isso: um emaranhado de detalhes que vão se entrelaçando, se estendendo, se moldando e se modificando com a passagem do tempo. Lugares, pessoas, histórias. Tudo isso precisa de uma renovação para continuar existindo. Não há o que se falar em perdas. Você não perde, você mantém - mesmo que no mais profundo da sua memória -, independente do tempo ou do quão vivo você permaneça na mente de outrem; algumas coisas simplesmente são fadadas a acabar e, talvez, essa seja a parte boa das mudanças. Elas dão espaços para novas histórias, lugares e pessoas. Ninguém e nada é insubstituível, mas a gente vai sempre se lembrar de um detalhe ou dois que remete a algo do passado. 

3/30/2017

Sobre os amores impossíveis que a vida me trouxe.

Talvez tenhamos sido tudo que poderíamos naquele momento e isso sempre bastou na minha reserva de memórias para mantê-lo guardado em minha história; mas será que é possível que a gente tenha se esquecido como éramos? 

A vida sempre riu na minha cara depois de me derrubar e eu me acostumei facilmente com isso depois de perceber que não há o que se fazer além de se reerguer e continuar, nunca tive problemas em cair por vezes seguidas mas sempre tive problema em dar um passo a frente depois de me levantar de cada queda. O primeiro passo sempre é o mais difícil. 

Quando você chegou, a vida estava boa e as quedas não eram tão constante como antes e isso me animava, parecia que eu tinha encontrado um equilíbrio saudável; a verdade é que eu nunca gostei de equilíbrios. Eu sou muito intensa pra gostar de qualquer coisa balanceada. Ou no oito ou no oitenta, nunca entre eles. 

Você atropelou a forma como eu via a vida, desmontou todos os meus dizeres e pressupostos; me apontou a direção contrária àquela que eu costumava ir. Você pegou minha mão e não perguntou, me levou e eu segui. Eu não me importava para onde iríamos desde que estivéssemos juntos. Eu sabia que naquele momento você poderia me arrastar para o inferno que estaria tudo bem contanto que houvesse sua mão para eu segurar no processo. 

A intensidade e a velocidade com que as coisas acontecem me assustam, mas eu não tive temor algum quando eu percebi que a gente caminhava a cento e oitenta quilômetros por hora enquanto as outras pessoas, na mesma situação, não passavam dos dez quilômetros por hora. Eu percebi que, de algum modo, com você era diferente. E foi. 

Se eu puser no papel o tempo de duração, com certeza não preencheria nem metade da folha. O fato é que a gente viveu muito em pouco tempo. E talvez tenha sido exatamente isso que estragou tudo - ou fora exatamente isso que nos levou a ter paz. 

Eu olho para aqueles dias e não sinto mágoa, apesar de tudo. Eu lembro e sorrio. Eu lembro e até sinto um pouco de falta. Porque, de algum modo, toda aquela loucura me trouxe a pessoa que eu sou hoje e isso eu sei que não é qualquer um que poderia me trazer. No fim, eu estava certa: você era diferente de tudo que eu já tinha sentido. 

Talvez não tenha sido amor, talvez não tenha sido nem mesmo paixão, talvez estivéssemos presos demais ao medo de perder que sufocamos até a o ar acabar. E o ar acabou. E quando eu pude respirar novamente, longe de você, eu percebi que o processo de aceleramento pode ser bom em alguns casos, mas pode te sufocar se não conseguir frear as coisas. 

Você é aquele amor que não emergiu, mas que guardo sempre na caixinha de memória pra volta e meia te resgatar e te lembrar o quão importante foi o seu papel na minha jornada. Não vou esquecer isso, não vou esquecer você. Não me importo que se esqueça de mim. Eu aprendi que amar alguém é isso: libertar o outro de todas as formas possíveis. 

Nunca findamos, mas não precisamos. Somos capazes de viver com o peso dessa impossibilidade sem culpa. Foi muito bonito e a gente se gostava muito, mas acabou.