12/24/2010

O baile.

Ao fundo uma música brega decorava o ambiente e inundava a sala com o tédio profundo,debruçado na quina da janela foi onde estava quando o encontrei. Reencontrei.
De primeira não soube quem era,seus cabelos estavam curtos,sua roupa era diferente das quais usava antes e adaptou pelo costume que era meu: cigarros.
Eu não sabia,ele não sabia mas eramos nos de novo e então a década de oitenta voltou a minha cabeça como um flash e me lembrei daquele verão que passamos juntos no acampamento quando tínhamos oito para nove anos,foi quando nos conhecemos.
- Ei,Elli - Uma voz atrás de mim chamou
Girei antes que o moço da quina da janela pudesse olhar junto. - Sim?
- Sou Troy,amigo do seu irmão. - Dois beijinhos,sorriso sem dentes.
- Prazer,Troy!
- O prazer é meu! - Ele segurou minha mão e a levou ao alcance dos seus lábios e a beijou.
- O que posso fazer por você? - Perguntei recuando a mão e o corpo.
- Uma dança? - Ele estender a mão ao vento.
- Ah! - Eu suspirei. - Bom,sabe o que é?Meus saltos estão me matando e eu tô achando essa festa um saco e como você é o filho da dona da festa eu não quero mentir sobre a mesma,então,acho que essa dança fica pra depois.
Ele não sorriu. Eu sorri. O cara da quina da janela,que agora estava de frente para mim e Troy (com os cotovelos apoiados na quina),gargalhou baixinho.
Troy adentrou o salão de festas e sumiu entre as pessoas antes que eu pudesse fingir solidariedade e conceder uma dança. Me senti aliviada,de fato.
- Você é Elli? - O moço da quina perguntou.
- Sim? - Não era para ser uma pergunta,reformule isso,idiota. - Digo,sim,sou Elli. A gente se conhece?
- Talvez não lembre de mim. Sou Nate. Nathaniel,na verdade. A gente estudou juntos no ginásio e passamos uma porção de férias de verão juntos. - Ele sorriu
- Sim,eu me lembro de você,apenas não tinha reconhecido. Como vai? - Eu sorri junto.
- Bem,bem e você? Parece ótima.
- É,estou bem. O que trás você de volta a Maddri?
- As coisas não deram muito certo no Brasil e eu voltei com a Mayra.
- Mayra? Sua esposa? - Essa doeu,heim?
- Ah,não,Mayra é minha irmã mais nova. E você,está casada,namorando,enrolando?
- Ah que isso,não estou nenhuma dessas coisas que você mencionou.
Rimos juntos,na mesma freqüência,sua mão tocou meu ombro e eu estremeci.
- Ei,Elli,a gente costumava sair no ginásio,lembra disso?
- Oh,sim,claro! Saiamos sim. Principalmente pra ir na sorveteria ao lado da sua casa. - Eu sorri e corei.
- Ah,vamos,era um encontro. Naquela época tocar na mão de uma garota já era um encontro.
- É verdade! (...) Se lembra quando você me mandou flores pela primeira vez e eu sai correndo chorando? Nunca me esqueço.
- Como esquecer? Eu gastei minha mesada toda comprando aquelas flores e você nem agradeceu.
- Obrigada pelas flores.
- Não por isso.

Durante horas eu e Nath ficamo ali parados conversando sobre todas as coisas que vivemos juntos,tantos planos que fizemos juntos e não realizamos nenhum,tantas noites mal dormidas por um cara,tantos choros de saudade que pareciam acabar naquela noite. Nath e eu eramos iguais,ainda,parecia que nada havia mudado exceto pela altura,corte de cabelo e charme mas ainda sim era o "Ellizinha" e o "Nathzinho",o casal mais zoado da turma por eu ser dois centímetros maior que ele mas ele cresceu e eu estou há uns dez centímetros de alcançar ele.
A noite corria,voava,o tempo não dava chance nem trégua e o dia logo chegou. Amanheceu em Maddri e o céu quentinho misturado com o ar gelado me fez bater o queixo.
- Aqui,tome. - Nath tirou seu casaco e passou pelo meu ombro.
- Obrigada. - Eu tentei sorri com os lábios trêmulos mas não deu.
- Ei,se lembra da nossa formatura?
- Sim,o que tem ela,Nath?
- Naquela noite a gente terminou o namoro e você dançou com o Oliver,aquele garoto que todas as meninas babavam e você acabou dando o seu primeiro beijo nele.
- É verdade,tinha me esquecido.
- Ainda estamos em um baile. Bom,o seu vestido não é de princesa mas é bem melhor,a música daqui é meio brega mas ainda sim é um baile.
- O que está sugerindo?
- Elli,quer dançar comigo?
Sorrindo eu respondi que sim e caminhamos ao meio do salão onde mais ninguém estava disposto a dançar e dançamos. Pela primeira vez em nossas vidas juntamos nossos corpos e sentimos o coração um do outro. E pela primeira vez em muito mais de quinze anos,eu e Nathaniel nos beijamos pela primeira vez.

Nenhum comentário: