12/03/2010

Sem sorte no jogo,feliz no amor.

Vou acabar com isso agora! - Pensou Lara enquanto ia em direção a Ramon e seus amigos.
- Por que não me ligou noite passada? - Lara perguntou com uma voz meia rouca mas ainda sim bastante firme.
Ramon se virou de onde estava conversando com alguns amigos e logo quando ouviu a voz de Lara,cruzou os braços.
- Não somos namorados. Não tenho obrigação de te ligar todas as noites. - Ele sorriu de lado e deu as costas voltando a conversar com seus amigos.
- Ramon,não me deixa falando soziha! Podemos conversar longe dos seus amigos? - A voz de Lara mudara para fraca e muito rouca.
E então ele,contra sua vontade,virou-se em direção a Lara e foi andando para de baixo de uma árvore que ficava há um raio de quinze metros aonde seus amigos estavam. Chegando lá,parou e reencostou-se na árvore de braços cruzados.
- E então,o que você quer falar? - Ele perguntou tirando uma carteira do bolso.
Lara não falou,deu um suspiro tão alto que aquele silêncio já era um mar de palavras. Pobre Lara,nunca saberá que nenhum menino entende esse mar de silêncio de uma garota,exceto quando ela diz.
- E então? Vamos ficar aqui a tarde inteira?
- Estou grávida!
Ramon olhou Lara nos olhos e viu quase um brilho dentro deles mas antes que pudesse desvendar o que era,ele acendeu seu cigarro e deu duas tragadas. Observou seus amigos de longe,alguns olhando pra eles dois e outros conversando sobre outros assuntos.
- Parabéns! Quem é o pai?
- Como assim quem é o pai? - Lara arregalou os olhos. - Claro que é você. Você foi meu primeiro e único homem.
- Impossível ser meu,Lara,usamos camisinha e eu teria sentido se algo tivesse dado errado. - Outras duas tragadas.
- Não sei o que aconteceu,só sei que um filho não pode apenas cair do céu e entrar dentro da minha barriga por forças sobrenaturais,estou grávida e só tenho 17 anos. O que nós vamos fazer?
- Você fala como se você fosse a única garota de 17 anos no mundo que estivesse grávida. Baby,as coisas acontecem. Eu tenho 18 e nem por isso estou nessa maré de desculpas esfarrapadas. E enquando a "nós" esqueça,não temos e nunca tivemos nada e agora que você tá grávida acho melhor a gente parar de sair também.
- Como assim,Ramon? Estou esperando um filho seu e você me diz que não existe e que nunca existiu nós? Do que você tá falando? É uma criança,a nossa criança,vamos ser pais e você precisa me ajudar a cria-la! - Nesse momento Lara entrou em pânico,suas mãos e pernas bambeavam a todo custo,suas bochechas e o seu colo estavam muito vermelho,as lágrimas já estavam prontas pra cair.
- Larinha,meu amor,entenda: Estavamos nos divertindo. Eu não vou ajudar você com essa criança,não quero ser pai,se você quiser eu te ajudo a conseguir um aborto mas é tudo que eu posso fazer por você.
Lara encarou Ramon,seus olhos que agora jorravam lágrimas de ódio estavam tão vermelhos quanto todo o resto do seu corpo,a mistura de emoção nesse momento foi muito grande e ela não se controlou ao dar um tapa na cara dele.
O silêncio que se seguiu após o tapa aquietou todo o campo,os amigos de Ramon estavam calados,as árvores tinham parado de balançar,tudo que se ouvia era a respiração ofegante de Lara e a pulsação das veias do pescoço de Ramon quase latejando.
- Não vou abortar uma criança. Se você não quer esse filho o problema é todo seu,eu não quis mas vou arcar com as consequências e terei essa criança e serei pai e mãe. Ramon,nunca mais ouse me procurar.
Sem deixar Ramon argumentar ou reclamar sobre o tapa,Lara saiu correndo pelo campo e sumiu entre as árvores. O caminho até em casa foi repleto de perguntas,de choros,soluções,de xingamentos contra ele e contra si própria. Lara se odiava tanto naquele momento que poderia se matar mas agora ela tinha um outro alguém pra pensar além dela e era só por isso que ela estava ali naquele momento.
Ao chegar em casa com o rosto vermelho,aquela carinha de choro e querendo chutar o primeiro animal que aparecesse,a mãe e o pai de Lara a seguiram até seu quarto e tentaram calmamente manter um diálogo com ela. Lara estava nervosa,não sabia como falar para os pais sobre aquilo,afinal de contas eles eram religiosos e a condenariam para o resto da vida mas se não falasse agora os meses iam passar e sua barriga seria um problema.
Sentados na cama de Lara,os pais dela estavam preocupados e a ouvidos ao que ela tinha para contar.
- Estou grávida! - Lara falou pasando a mão pela sua barriga e caindo em lágrimas mais uma vez.
Não houve nada,nem gritaria,nem choro,nem alegria,nem tristeza... absolutamente nada. O pai de Lara levantou-se e aproximou-se de Lara e propós a lhe dar um abraço e saiu do quarto logo em seguida. Sua mãe não foi diferente,levantou-se e afagou sua mão e deu um sorriso falso e disse:"parabéns,criança."
Os dois primeiros meses logo após a conversa com os pais foram atormentados pela vaga conversa que tinham. Quase não se falavam,quase não se olhavam e pra eles pouco importava quem era o pai pois sabiam que não ia ajudar em nada saber quem foi o filho da puta desgraçado que engravidou a filha deles.
Lara continuava indo para o colégio,tinha enjôous às vezes e diversos desejos por alimentos quase sempre estranhos. Sua melhor amiga Olivia e seu melhor amigo Paul sabiam desde o início sobre sua gravidez e desde sempre a apoiaram com o bebê,sabiam que não seria fácil mas prometeram ajuda-la no que fosse necessário. Sem eles,Lara não seria nada feliz e não estaria nada legal.
Algumas vezes encontrava-se com Ramon pelos corredores da escola mas ele sempre estava ocupado conversando com outra garota ou jogando bola com os amigos,desde a conversa e o tapa na cara eles não se falaram mais e ele não mais olhara para Lara.
Três meses se passaram e Lara já estava com sua barriga um tanto a amostra,como era bastante magrinha aos seis meses de gravidez sua barriga ainda era um tanto pequena mas ainda sim já ouvia-se os comentários de que naquele barriga não havia gorduras e sim uma criança. Agora as pessoas da escola a tratavam diferentes,algumas ajudavam ela com as lições,com qualquer coisa que pudesse machuca-la ou afetar o bebê e outras pessoas olhavam e comentavam sobre uma garota tão nova com pais evangélicos ter um bebê e a recriminavam por isso. Ramon ouvira muito sobre seu filho mas nunca quis saber sobre o tal,Lara ainda era insignificante pra ele e há pouco mais de três semanas iniciara um romance com uma novata loira e toda-gostosa-pronta-pra-dar mas era obvio que aquele romancezinho não passaria daquela semana,quando ele conseguisse levar ela para o banco de trás do seu carro.
Era um menino bem forte e bem saudável que Lara carregava com ela. Ia se chamar Paul Oliver em homenagem aos seus dois melhores amigos que sempre estivera com ela. Em sua casa,agora,as coisas iam bem,sua mãe já estava acostumada a ter um neto e o seu pai até já gostava da idéia de ter uma outra criança correndo pela casa daqui há alguns anos.
Naquele dia,logo depois da escola,Igor foi até a casa de Lara. Igor era um dos melhor amigos de Ramon e soubera desde cedo que Lara era uma garota especial que apenas não foi dada o valor merecido.
- Oi! - Disse Lara surpresa ao abrir a porta com uma das mãos na porta e outra em sua barriga.
- Ah,oi! - Disse Igor,sorrindo pra ela. - Posso conversar com você?
Lara assentiu e deixou que Igor entrasse. Seus pais naquela tarde estavam na igreja e a casa,vazia.
- Então,o que sobre quer conversar? - Disse Lara sentando-se no sofá e apontando para a poltrona para que ele sentasse também.
- Ah,obrigado! - Ele sentou. - Sobre você,seu filho e Ramon.
- Ele que te mandou aqui? Por que se foi...
- Não,não! Eu vim por conta própria.
- Então,continue.
- Lara,desde aquele dia no campinho quando você contou para Ramon que estava grávida eu percebi que você era uma garota diferente,especial,não sei dizer como mas sinto que você têm algo do qual eu preciso. Então,desde aquele dia eu venho percebendo que eu sou apaixonado por você. Eu sei que é complicado tudo que você já passou e ainda passa e vai passar com essa criança mas eu estou disposto a ficar ao seu lado,ser um pai pra essa criança e cria-la como se fosse meu. Eu só queria que você soubesse que eu amo você.
(Silêncio. Olho nos olhos. Ele se levanta e vai até ao sofá onde Lara está sentanda. Ele senta ao seu lado. Olhos nos olhos,outra vez. Um beijo. Um sim como resposto. Um começo de uma nova vida.)
A tarde e a noite que se embalaram aquele beijo foi melhor do que todos os meses no qual Lara se envolveu com Ramon. Tinha carinho,tinha afeto,tinha um poço de amor sem fim e tinha o brilho no olhar de volta nos olhos daquela garota e agora,tinha também,um sorriso calmo e sincero e agora o dono daquele sorriso tinha mudado de nome e se chamava Igor.

Na manhã seguinte,Lara e Igor se encontraram em frente a escola e entraram de mãos dadas,sorrindo um para o outro e todos que ali estavam pararam para ver o que tinha acontecido e alguns se perguntaram como seria possível isso ter acontecido,outros já diziam que isso estava obvio demais,tudo estava relativamente bem até chegar aos ouvidos de Ramon.
- Ei,Lara! - Gritou Ramon enquanto Lara subia as escadas para ir a sala. Os corredores já estavam vazios,Igor já estava na aula e Lara se atrasara por causa da ligação de sua mãe.
- Ei,Lara! Não me ouviu? - Disse ele subindo as escadas correndo.
- Ouvi! O que você quer?
- Conversar,podemos? - Ele sorriu
- Não,não podemos! Não temos nada pra conversar.
- Sim,temos.
Lara então virou-se e saiu mas Ramon a segurou pelo braço e a fez voltar. Lara se assustou,Ramon ainda segurava seu braço.
- Me solta! - Ela puxou seu braço.
- Vamos conversar?
- Diga!
- Está namorando mesmo o Igor? - Ele franziu a sombrancelha.
- Sim,estou! - Ela cruzou os braços.
- Eu exijo que você termine com ele agora. Meu filho só vai ter um pai e esse pai sou eu.
- Ele só tem o seu DNA,infelizmente,mas o pai dele apartir de ontem em diante se chama Igor.
- Se você não terminar com ele eu vou fazer coisas que você não vai gostar.
Lara riu ironicamente. - O que? Vai me matar?
- Vou destruir o motivo que fizeram vocês dois ficarem juntos.
- Do que você tá falando?
- Se essa criança ai dentro foi o motivo de vocês estarem juntos,vou acabar com ele.
- Como assim acabar? - Lara estava gritando.
Ramon puxou ela pelo braço e a fez chegar mais perto dele,ela tentou ir para trás mas ele era bem mais forte que ela. Ela se retorceu,se bateu contra ele para tentar sair mas não conseguiu e quando ele finalmente a largou,Lara se desequilibrou e caiu da escada. Nesse mesmo instante o sinal da escola soou e todos os alunos sairam das suas salas.
Lara estava desmaiada e sangrando. Todo mundo que viu fez uma roda em torno dela e alguns olhavam com reprovação para Ramon. Igor chegou empurrando todos que estavam na sua frente e conseguiu chegar até Lara.

No hospital,Lara conscientizou-se da situação bem rápido. Ela havia perdido o seu bebê. Toda dor e silêncio que havia naquele quarto de hospital fizeram Lara sangrar por dentro. Ela já tinha decorado todo o quarto do seu bebê,já imaginava as primeiras fotos dele,a primeira palavra,o dia em que ele aprenderia a andar. Ela sonhava com seu filho e com seu novo amor juntos,como uma família mas o mesmo garoto que brotou essa felicidade quase sem querer a tirou por querer. Desde que Lara acordou tudo que ela queria e conseguia fazer era chorar muito e algumas vezes caia no sono por causa dos sedativos.
Na sala de espera estavam Ramon,Igor,Olivia,Paul e os pais de Lara e todos contra Ramon está naquele lugar. Assim que o médico adentrou a sala,Igor quis saber das condições da sua amada.
- Ela está bem fisícamente,o problema dela agora é apenas emocional. Nenhuma mãe fica bem depois de ter o seu bebê perdido.
- Posso vê-la? - Apressou-se Igor.
- Desculpe,senhor,mas só pode ir um de cada vez e ela me pediu pessoalmente que gostaria de falar com aquele garoto de cabelo enroladinho. - Apontou para Ramon. - Seu nome é Ramon,senhor?
Ramon levantou-se e sorriu para o médico que o desprezou e o chamou com a cabeça.
Dentro do quarto onde Lara estava havia flores,balões rosa em forma de coração e tinha alguns presentes que ela não quis abrir. Duas batidinhas na porta e Ramon adentrou a sala. Lara estava com o olhar perdido,com o rosto virado para o lado contrário da porta.
- Queria falar comigo,princesa? - Sussurrou Ramon.
- Porque você fez aquilo?
- Eu não fiz nada,você apenas se desequilibrou. Acha que eu mataria nosso filho?
- Ele não era o seu filho,era meu!
- Eu o fiz junto com você,por tanto,era meu também.
- Que seja! Mas agora ele não é de mais ninguém por que ele morreu,Ramon. Você escutou isso? Ele morreu! Você matou meu filho.
- Não fique assim,podemos fazer outro se esse é o problema.
- As coisas não são assim! Não é assim.
- Você é muito complicada. Pensei que pudessemos voltar depois disso já que você não tem mais aquela criatura dentro de você mas eu estava errado. Você e o bundão do Igor se merecem,duas criaturas nada certas. Adeus Lara.
Antes que ela pudesse falar algo,Ramon saiu do quarto e passou as pressas pela sala de espera sem se dispedir de ninguém.
Igor então saiu correndo e entrou na sala de Lara para checar se estava tudo bem. Nada de novo,seu estado emocional estava abatido e agora pior com tudo que Ramon lhe dissera mas ela,de certo modo,estava feliz. Ela tinha Igor com ela. Ela tinha o seu amor consigo,então,o mundo que se dane.

Alguns dias depois,recuperada fisicamente e meio conformada com sua perda,Lara foi para casa e seus pais a receberam junto com seus amigos e alguns familiares. Tudo naquela casa era novo pra Lara já que ela não passava por ali há muitos dias. A primeira coisa que fez foi subir para o seu quarto onde pode a voltar a ser apenas a menina de 17 anos e não a mãe que estava sendo durante esses seis meses. Trancou-se lá por algumas horas e por fim percebeu sua secretária eletrônica piscando. Apertou o botão e ouviu alguns comentários do qual dizia que ela ficaria bem,que estavam torcendo por ela,que fizeram até uma comunidade pra ela em uma página de relacionamento e que todo mundo tá procurando por ela no myspace,até um amigo dela virtual resolveu ligar para dizer que sentia falta dela. Ela sorriu e chorou de tanta emoção ao ouvir todos os recados,mas faltava um. O último. Apertou o botão novamente e ouviu. Era a voz de Emma,irmã mais velha de Ramon.
"Ei,Lara,soube da sua perda e eu sinto muito,sinto mais ainda por que sei o que houve. Estou pessima também,sei que não é do seu interesse mais mas eu só queria te avisar que o Ramon sofreu um acidente de carro ontem e não sobreviveu,o enterro foi hoje de manhã e foi horrível por que só tinha eu e minha mãe no tumúlo dele. Eu sinto muito por te contar isso e por você,espero que fique bem."
Já não bastava aquilo tudo que tivera sentido nos ultimos dias? Ainda teria que viver com a consciência de que o primeiro cara da sua vida,o que ela amou pela primeira vez,estava agora morto? Era demais pra ela mas não sabia como reagir,não sabia o que fazer mas o mundo não acaba porque uma pessoa morre,ao contrário,a vida começa pra outra pessoa que nasce.

Dois ou três meses depois de todo os icidentes e acidentes,Lara estava feliz junto com seu amor. Igor se mostrara um garoto muito bondoso,muito carinhoso,trabalhador,paciente e muitas qualidades que só se encontrara nela. Ela tinha acertado na loteria. Ele era perfeito e a amava muito. Ela era grata por ter aquele homem na sua vida. Ela estava completamente apaixonada por ele.
Com as mãos entrelaçadas na dela,Igor sorriu e perguntou:
- Ei,Lara?
- Sim? - Ela levantou o olhar.
- Você quer casar comigo? - Ele sorriu.
Ela sorriu. Sorriso grande. Sorriso que berrava um sim.
E foi assim,somente assim,que a mocinha da história deve seu final feliz.

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