10/22/2012

De quem é a culpa?


Não quero ser mais uma Madre Tereza de Calcutá, não quero ser Deus e morrer numa cruz para pagar os pecados de toda humanidade, tenho pago pelos meus pecados em vida e isso, acredite se quiser, tem sido muito mais doloroso do que morrer pelos erros dos outros. Dizem que nossos erros nos fazem, que são ele a cura e o veneno de todo bem e mal que aqui reina, que eles são cometidos para que possamos aprender com eles e não repetir mais o erro. A verdade é que não aprendemos isso em escolas, em livros ou em jornais, aprendemos isso no nosso dia-a-dia, aprendemos isso caindo e levantando do chão diversas vezes. A outra verdade é que além de não sermos preparados para errar e pagar a conseqüência dos erros, tendemos a errar cada vez mais, alguns com a desculpa de que com o erro aprendemos lições, outros com a desculpa de que foi a última vez. Nunca saberemos, de fato, quantos erros ainda cometeremos, sabemos que ainda serão muitos mas mentalizamos para que isso não ocorra. Mentalizamos, inclusive, que não podemos errar com quem mais nos ama e com nós mesmos. Às vezes, passamos a nos torturar por um erro que não precisava de tanta atenção, que não precisava de tantas lágrimas e sofrimento e quando a lastima passa a gente percebe que o erro maior foi dar tanta importância a alguém que nunca tentou, ao menos, compreender a situação, por mais difícil que fosse. Sabe aquela história do “juntos até o final”? A história acaba assim que você comete seu primeiro erro. E, apesar de tudo, quero deixar bem claro para o resto: poucas são as vitórias que ficam, o que entra mesmo pra história são os erros e os julgamentos que cada qual apresenta diante daquela situação. E no fim das contas você ainda se pergunta: vale a pena mesmo se martirizar por um erro do qual todos ao seu redor já o cometeram? 

9/13/2012

Do alto da cidade.

Mas a saudade é um balãozinho 
Voando alto, pra longe da cidade
E do alto vemos o balãozinho
"Cheinho" de saudade
E nos dá uma dó 
Balãozinho solitário
Do alto do mundo
Carregando saudade
E quando perde força
Balãozinho vai caindo, violentamente 
Queimando tudo, destruindo a todos
E a saudade, que habitava o balãozinho,
Caí sem força, sem gracinha 
Mas destrói tudinho
Um planeta inteirinho 
Pobre saudade agonizante
Pobre balãozinho maçante.

8/22/2012

A loucura que a loucura causa.


Tenho ido ao psicólogo. Consulto-lhe duas vezes na semana e ainda sim pareço desesperado. Perguntei-o outro dia se eu precisava de remédios para insônia e meu psicólogo riu, torceu a boca duas vezes antes de me responder e soltou, suavemente, a pior frase que eu havia escutado: tu estás enlouquecendo, meu caro. Quase caí da cadeira naquele momento. De fato, eu andara triste por ruas e vielas na qual me perdia quase que todas as noites, eu havia bebido mais que o esperado para todo o mês e até ultrapassei a cota de cigarros estimada para a semana, mas eu não me sentia louco. Eu não queria estar louco. Eu não podia enlouquecer, não agora. Eu andara triste, muito triste, como já havia lhes dito, mas era um triste tão doce... do tipo que qualquer literatura barata me animava ou qualquer comédia romântica me fazia chorar almejando um amor novinho em folha e duradouro. Mas não era isso que eu queria. Eu só queria ficar ali, paradinho, eu e minha tristeza na minha enorme sala de estar tomando meu chá às cinco da tarde numa quinta-feira cinzenta de agosto. Eu não queria estar louco. Por que eu teria de estar louco justo agora? Agora que eu comprei um carro novo, roupas novas e até mobiliei o quarto de hospedes, agora que eu tomei café com a moça da lanchonete da outra rua que me deu seu telefone. Por que, meu Deus, justo agora eu tinha de enlouquecer? Que bosta de psicólogo ri da tua cara e lhe diz que ficara louco, assim, na lata? Eu não esperava aquilo, na verdade eu não esperava voltar ao psicólogo. Eu não esperava uma porção de coisas e todas as coisas esperavam por mim. O fato de saber que estou enlouquecendo acelera o processo da loucura, me deixando louquinho por pensar que há alguns meses ou anos estarei, de fato, um louco varrido. E terei de tomar inúmeros remédios. Sei que tomo muitos remédios agora: pra depressão, pra insônia, pra diabetes e tantos outros, mas remédio pra louco é outra história. Minha vontade imediata era mandar aquele psicólogo ir se foder. Sim, eu quase falei mas meus lábios cerraram-se e o meu bom-senso (pré-loucos possuem bom senso?) não me permitiram. Ele então levantou da sua cadeira inclinável, rodopiou a sala em um sapateado engraçado e me disse, mais uma vez: tu vai enlouquecer. Tu vai ser igualzinho a mim. Estou louco, não vê? Quem, por diabos, lhe diria que está louco se não você mesmo? A gente sabe quando essas coisas acontecem, meu caro, e não sou eu ou nenhum outro analista que poderá lhe dizer. E então sorriu outra vez, um sorriso meio louco. Eu sorri. Gargalhamos juntos numa sala vazia de almas corretas. Naquele instante eu percebi: loucura mesmo é apontar o outro de algo que não lhe é capaz de entender. Por tanto somos todos loucos para todos os outros, menos para nós mesmos.

8/01/2012

Mil vezes eu.


Na boca três gostos indiscutíveis ficaram: o de café requento, o de cigarro barato e a lágrima matinal. Eu havia me esquecido o quanto era doloroso, para mim, sobreviver de migalhas, de restos mortais de um sentimento que há algum tempo já não finda. É sempre o vazio que nos atormenta, é sempre aquele espaço em branco que nos deixa assim, parados, pensando em como chegamos a beira de um novo abismo. Chega a ser gozado como a vida nos prega peças tão dilacerantes, a gente pensa que não vai agüentar chegar a beira de outro abismo e continuamos chegando a beira de todos os nossos próprios abismos. A diferença de antes e agora é que nesses abismos eu não caio mais, apenas fico ali, parada, olhando para o fundo do meu próprio eu pensando em como é reconfortante estar no lugar mais alto de si mesmo e não ter aquela vertigem ou aquela imensa vontade de criar asas e jogar-se ali. Outrora teria me dado asas e voado. Ou apenas caído. É tudo o que venho feito ao logo desses anos: me atirado nos meus problemas sem saber como sair deles. Mas problemas vem e vão, a todo o tempo. Alguns são mais surrados, outros são pequenos detalhes que podemos consertar. Tenho visto que os problemas nos quais eu me aprofundava não eram, de fato, problemas gigantescos, a gente sabe quando é um problema grande mas na hora só pensamos nas nossas dores e ninguém pode sentir isso por nós pois cada dor é única, não importa quantos psicólogo formos, ou quantos abraços aconchegantes temos: nossa dor é só nossa, intransferível. Descobri que o problema dos meus problemas sou eu, sem desculpas e sem culpas, cansei de acusar pessoas das minhas próprias dores. Sou eu,  apenas, tentando dar o melhor de mim para mim mesma e fracassando. Sou eu, apenas, tentando achar as soluções dos meus problemas gigantescos e não percebendo que o maior erro meu foi deixar meu coração na mão de quem não consegue administrar nem sua própria vida. 

3/27/2012

A nossa dança.

Acordei cedo, por volta das sete e meia numa manhã de domingo, coisa rara. Tomei um banho quentinho e fui comprar pão na padaria mais próxima, do outro lado da rua. A fila estava um tanto grande, fui para o final e enquanto o tempo e as pessoas demoravam para serem atendidas fiquei mexendo no celular.

- Menina, me perdoe a noite passada! Não pude ficar. Esqueci alguma coisa aí, tenho certeza, mas não lembro bem o quê. Acho que foi meu coração, guarde-o com cuidado porque talvez eu demore um pouco pra pega-lo de volta.

Uma mensagem dessas faz qualquer ser humano no planeta terra dar aquele sorriso no canto da boca e sentir um fervor no estômago, quase querendo gritar ali mesmo. Mas sou pacifica, esqueci a fila do pão e fui para casa. Gritei por vinte minutos seguidos! A sindica do condomínio precisou me lembrar que ainda não passava das oito, eu pedi desculpas mas não me senti nem um pouco envergonhada. Em outras circunstancias essa seria minha deixa para abandonar o apartamento em menos de dez minutos mas não naquele momento, aquele momento era completamente meu e eu não iria deixar que nenhuma filha da puta sem alma e coração o tirasse de mim.

Quis responder a mensagem, cheguei a escrever e apagar umas cem vezes, não sabia o que responder. Aliás, o que responder? Há respostas para essas coisas? Pensei que havia, eu queria que houvesse, eu quis tanto isso que eu achei minha própria resposta e o enviei:

- E se, por um acaso, eu nunca mais quisesse devolve-lo para ti, conseguirá viver sem coração?

Um minuto. Dois minutos. Dez, quinze, vinte! Droga, responde essa porra antes que eu coma meus dedos porque as unhas feitas já foram. Quase arranco os cabelos de tanta ansiedade.

- Então, guarde-o bem guardadinho. Para sempre, pequena! Por onde andas que ainda não esta aqui comigo?
Preciso dizer que enlouqueci? Preciso dizer que eu pus a primeira roupa limpa e menos amarrotada do armário e calcei o primeiro par de saltos que vi? Preciso dizer que nem tive o cuidado de troca a bolsa para combinar com os sapatos? Passei em disparada pela porta do apartamento, quase que esquecendo-o de trancar. A sindica riu de mim enquanto conversava com uma das faxineiras do prédio.

- Tendo um dia bom ou só um dia apressado, Rafaela? – Ela gritou enquanto eu voava pelas escadas.

- Posso ter os dois ao mesmo tempo? Só hoje, por favor? – Eu dizia em uma voz infantil, esperando que ela fosse ainda me responder.

- Vai com Deus, menina! – Ela sorriu pra mim enquanto eu já estava lá em baixo.
Peguei um taxi. Nunca gostei de dirigir o meu carro, eu não consigo, por mais que eu queira, sair do 60km por hora. Sempre tive medo de velocidade. Peguei o taxi com um velho senhor negro com barba e cabelos longos e grisalhos. Se eu não estivesse tão ansiosa brincaria com ele perguntando se nunca pensara em ser um Papai Noel em algum shopping. Ri da idéia tosca.

Vinte minutos depois – quase vinte anos depois – eu desci as pressas do taxi. Joguei uma nota de cinqüenta. Nem se quer sabia se era menos ou mais. O velho senhor perguntou se eu queria troco e eu disse que não enquanto atravessava a rua sorrindo para ele.

E lá estava eu, a dez metros de distância da tua casa, do seu cheiro, dos teus livros e de você. A cada passo que eu dava meu coração aumentava a pulsação, eu quis pensar em coisas bonitas e cenas de novelas para realizar contigo naquele momento. Nada me veio a mente. Eu estava ali, as borboletas no estômago estavam ali, meu coração estava ali mas a minha mente já estava dentro da tua casa, sentada na tua sala de estar rindo com você. Toquei a campainha. Mais 10 segundos cruciais.

- Você veio! – Ele disse surpreso como quem não esperasse minha chegada.

- Eu vim! – Eu sorri enquanto esperava alguma reação dele além da surpresa.

Então, ele sorriu também. E me abraçou. Abraço apertado, sabe? Daqueles que parecem final de tarde vendo o sol de pôr. Beijou minha testa inundada de suor. Eu sorri sem graça por isso. Ele deu outro sorriso e entrelaçou uma das mãos no meu cabelo e a outra em minha cintura. Eu não sabia o que fazer com as mãos e elas automaticamente envolveram o pescoço dele.

- Um beijo, agora? – Uma pergunta dessas não se faz, nesse momento ações se fazem, eu pensei.

- Um beijo agora! – Ele selou seus lábios nos meus. – E agora! – Outro selo. – E agora! – Mais um. – E para sempre!
- Você caiu do céu, só pode. – Eu sorri enquanto continuávamos entrelaçados um no outro.

- Talvez. Mas, você sabe... no céu há anjos e anjos possuem asas e pouco utilizam suas pernas. Eu preciso utilizar-las. – Ele sorriu de lado.

- Sobre o que você esta falando? – Minha sobrancelha automaticamente se franziu

- Estou pendido que dance comigo. Você aceita dançar comigo agora? – Ele me olhou nos olhos.

- Eu aceito. Agora. Amanhã. E depois. E para sempre!