8/22/2012

A loucura que a loucura causa.


Tenho ido ao psicólogo. Consulto-lhe duas vezes na semana e ainda sim pareço desesperado. Perguntei-o outro dia se eu precisava de remédios para insônia e meu psicólogo riu, torceu a boca duas vezes antes de me responder e soltou, suavemente, a pior frase que eu havia escutado: tu estás enlouquecendo, meu caro. Quase caí da cadeira naquele momento. De fato, eu andara triste por ruas e vielas na qual me perdia quase que todas as noites, eu havia bebido mais que o esperado para todo o mês e até ultrapassei a cota de cigarros estimada para a semana, mas eu não me sentia louco. Eu não queria estar louco. Eu não podia enlouquecer, não agora. Eu andara triste, muito triste, como já havia lhes dito, mas era um triste tão doce... do tipo que qualquer literatura barata me animava ou qualquer comédia romântica me fazia chorar almejando um amor novinho em folha e duradouro. Mas não era isso que eu queria. Eu só queria ficar ali, paradinho, eu e minha tristeza na minha enorme sala de estar tomando meu chá às cinco da tarde numa quinta-feira cinzenta de agosto. Eu não queria estar louco. Por que eu teria de estar louco justo agora? Agora que eu comprei um carro novo, roupas novas e até mobiliei o quarto de hospedes, agora que eu tomei café com a moça da lanchonete da outra rua que me deu seu telefone. Por que, meu Deus, justo agora eu tinha de enlouquecer? Que bosta de psicólogo ri da tua cara e lhe diz que ficara louco, assim, na lata? Eu não esperava aquilo, na verdade eu não esperava voltar ao psicólogo. Eu não esperava uma porção de coisas e todas as coisas esperavam por mim. O fato de saber que estou enlouquecendo acelera o processo da loucura, me deixando louquinho por pensar que há alguns meses ou anos estarei, de fato, um louco varrido. E terei de tomar inúmeros remédios. Sei que tomo muitos remédios agora: pra depressão, pra insônia, pra diabetes e tantos outros, mas remédio pra louco é outra história. Minha vontade imediata era mandar aquele psicólogo ir se foder. Sim, eu quase falei mas meus lábios cerraram-se e o meu bom-senso (pré-loucos possuem bom senso?) não me permitiram. Ele então levantou da sua cadeira inclinável, rodopiou a sala em um sapateado engraçado e me disse, mais uma vez: tu vai enlouquecer. Tu vai ser igualzinho a mim. Estou louco, não vê? Quem, por diabos, lhe diria que está louco se não você mesmo? A gente sabe quando essas coisas acontecem, meu caro, e não sou eu ou nenhum outro analista que poderá lhe dizer. E então sorriu outra vez, um sorriso meio louco. Eu sorri. Gargalhamos juntos numa sala vazia de almas corretas. Naquele instante eu percebi: loucura mesmo é apontar o outro de algo que não lhe é capaz de entender. Por tanto somos todos loucos para todos os outros, menos para nós mesmos.

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