8/01/2012

Mil vezes eu.


Na boca três gostos indiscutíveis ficaram: o de café requento, o de cigarro barato e a lágrima matinal. Eu havia me esquecido o quanto era doloroso, para mim, sobreviver de migalhas, de restos mortais de um sentimento que há algum tempo já não finda. É sempre o vazio que nos atormenta, é sempre aquele espaço em branco que nos deixa assim, parados, pensando em como chegamos a beira de um novo abismo. Chega a ser gozado como a vida nos prega peças tão dilacerantes, a gente pensa que não vai agüentar chegar a beira de outro abismo e continuamos chegando a beira de todos os nossos próprios abismos. A diferença de antes e agora é que nesses abismos eu não caio mais, apenas fico ali, parada, olhando para o fundo do meu próprio eu pensando em como é reconfortante estar no lugar mais alto de si mesmo e não ter aquela vertigem ou aquela imensa vontade de criar asas e jogar-se ali. Outrora teria me dado asas e voado. Ou apenas caído. É tudo o que venho feito ao logo desses anos: me atirado nos meus problemas sem saber como sair deles. Mas problemas vem e vão, a todo o tempo. Alguns são mais surrados, outros são pequenos detalhes que podemos consertar. Tenho visto que os problemas nos quais eu me aprofundava não eram, de fato, problemas gigantescos, a gente sabe quando é um problema grande mas na hora só pensamos nas nossas dores e ninguém pode sentir isso por nós pois cada dor é única, não importa quantos psicólogo formos, ou quantos abraços aconchegantes temos: nossa dor é só nossa, intransferível. Descobri que o problema dos meus problemas sou eu, sem desculpas e sem culpas, cansei de acusar pessoas das minhas próprias dores. Sou eu,  apenas, tentando dar o melhor de mim para mim mesma e fracassando. Sou eu, apenas, tentando achar as soluções dos meus problemas gigantescos e não percebendo que o maior erro meu foi deixar meu coração na mão de quem não consegue administrar nem sua própria vida. 

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