Sempre odiei cheiro de cigarro. Aquela porra parece que
gruda em qualquer coisa que possa alcançar: cabelo, roupa e paredes. Tudo fica
completamente impregnado e o ar passa com mais dificuldade pelos meus pulmões
quando o ambiente está carregado com aquelas substâncias tóxicas usadas para
matar ratos, mas eu fumo.
Sempre penso em quão contraditório os humanos podem ser,
começando por mim. Fumo pelo prazer de me ver morrer a cada tragada. Gosto de
prender a fumaça do cigarro por mais tempo que os fumantes costumam prender.
Isso faz com que eu quase consiga ouvir meus pulmões implorando pra que aquela
fumaça se dissipe de mim. Eu demoro com a fumaça dentro do pulmão porque
acredito que é o único espaço onde há rejeição e aceitamento sobre um mesmo infortúnio,
mas meus pulmões estão pouco se fodendo para esta lógica que eu criei dentro da
minha mente. Eles precisam de ar, precisam sentir o ar – mesmo que impregnado –
e eu solto a fumaça.
Dizem que a cada cigarro fumado perdemos cinco minutos de
vida. Eu acredito que estou mais perto da morte a cada instante (e não estamos
todos, afinal?) por conta deste processo irredutível de aspirar e manter a
fumaça por mais tempo que o costume. Talvez seja a minha vez de entender melhor
o outro lado. Mas eu não morro.
Fumo há sete anos. Há quatros anos fumo todos os dias. Um
maço por dia. Vinte cigarros por dia. Cem minutos de vida perdidos. O tic tac
do meu relógio interno é mais rápido que o do restante que me rodeia. Gosto da
ideia de que em breve não estarei aqui para poluir mais o ar, mas ainda sinto
uma profunda infelicidade ao pensar que outros estarão para me substituir. Como
eu poderia morrer mais rápido senão fumando como uma pessoa de quarenta e
tantos anos, quando tenho metade disso, e me oxidando de dentro para fora? Eu
não. Todo santo dia busco uma maneira lenta e menos dolorida, ainda não achei
algo forte o suficiente para que isto aconteça. Continuo tentando.
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