1/02/2015

Apatia.

Já tinha pena dos homens que restaram na humanidade. Não porque era boa demais para eles ou se achasse superior em algo, mas sabia – lá no fundo – que nenhum deles poderia acrescentar mais nada. Tudo que havia pra sentir, já havia sentido. A dor, a perda, o amor, a paixão, as malditas borboletas queimando suas entranhas e divertindo-se ao deixa-la acordada noites à fio.

O que lhe restava para degustar de cada homem era o prazer sexual e admirável. Ela gostava de admira-los por muitas horas. Após o coito, acendia um cigarro enquanto sentava-se no parapeito da janela e ficava observando o rapaz da vez deitado em sua cama, coberto com seu lençol, sorrindo de lado para aquela figura estranhamente pálida ao reflexo lunar.

Não era capaz de sentir coisas novas, ela sabia. Odiava a si mesma por isso. Fora, inclusive, um dos motivos para desacreditar dos Deuses: ela não conseguia sentir felicidade ao estar na presença de outro homem. O amor não existia para ela. O carnal existia e esse vingava, mas isso era tudo.

Ainda sentada naquele parapeito do seu apartamento, conversava secretamente com a lua a questionar tal problema. Se achava estranha, doente até. Se achava louca! Como poderia um ser humano não sentir prazer algum na companhia de um rapaz? Ela os achava entediantes a partir do momento em que eles começavam a lhe contar suas histórias infantis.

Era sempre tudo tão igual. Os homens eram diferentes. Ela tentava, tentava mesmo! Queria muito sentir alguma coisa, seja o que fosse. E ela sentia mas nunca o que esperava. Desprezo era tudo que sentia. Às vezes, pré-sexo já estava entediada do rapaz da vez mas o carnal falava mais alto naqueles momentos e ela prosseguia. Talvez, por descuido do destino, ele fosse o rapaz pelo qual ela sentiria alguma emoção.

Talvez esse fosse o maior problema dela: tentar demais. Dizem que quando tentamos muito algo, conseguimos. Talvez com ela seja exatamente o inverso. Ou, tratando-se de sentimentos, seja exatamente isso: não correr atrás porque um dia chegará para ti. No fundo, ela também sabia disso. Só não aguentava mais esperar pelo dia que alguém lhe traria alguma emoção.


Não contente com o destino, eis que resolveu ir em frente. Seguiu uma rota antes jamais feita. Decidiu arrumar as malas e foi embora. Não tinha destino, não tinha dinheiro, não tinha ideia. Só sabia que precisava ir. E foi! Sabe lá Deus qual fora o destino final dessa pobre moça mas fiquei sabendo que houveram mais rapazes em sua vida. E absolutamente nenhum deles lhe trouxe suas malditas e amadas borboletas estomacais outra vez. 

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