1/23/2015

A vida é um trânsito caótico numa sexta-feira à noite.

Eis que chega a tão esperada sexta-feira. Você esperou a semana inteira por esse bendito dia. O calor é insuportável, mas você continua sorrindo para as pessoas, para os animais e até mesmo para as flores que trombam contigo no caminho. Está tudo relativamente bom demais porque hoje é sexta-feira e amanhã não há trabalho chato, horário pra acordar ou chefe perguntando sobre os relatórios.

Você sai do trabalho com a alma leve, o sorriso estampado pra quem quiser ver. Dá boa noite para o porteiro e cumprimenta os vizinhos no elevador. Todos notam como você está radiante e se entusiasmam com seu sorriso largo.

Você chega em casa já tirando os sapatos, joga a bolsa no sofá e já disca para a primeira amiga da lista. Depois de confirmar com as outras três amigas, você vai para o seu banho de beleza. Demora meia hora em um banho que em qualquer outro dia levaria apenas cinco minutos. Sai do chuveiro cantarolando a música pop do momento que você, durante a semana, está enjoada de ouvir, mas hoje não. Hoje é sexta-feira e aquela música é sua canção favorita no mundo inteiro.

Depois de uma hora ou duas, você está pronta. As amigas estão no saguão esperando você. Todas arrumadas como quem estivesse indo para a maior e melhor festa de suas vidas. Todos os sorrisos combinam naquele momento. Quase como se um sorriso não pudesse existir sem o outro. Você está linda! Suas amigas estão lindas. Tudo está completamente maravilhoso.

Eis que chega a hora de ir para a tal festinha. A boate, o bar, o pagode, o funk – ou seja lá para onde você esteja indo. Todas estão no mesmo carro e você está feliz por não ser a motorista da rodada porque a intenção do dia é de dar um grande pt!

O semáforo foi do amarelo para o vermelho. Biquinhos surgem dentro do carro. Estão loucas para chegar ao destino. E abre. Então os próximos semáforos parecem não cooperar e quase todos estão vermelhos quando vocês estão próximas a eles.

Como se não bastasse, há um acidente bem na rota que liga o caminho até o local de desejo. Um trafego caótico. Carros buzinam, gritaria, criança que grita no carro do lado, gente que está voltando do trabalho com caras emburradas e olhando com inveja ou desdém para o carro onde você está.

Nada anda. Tudo está estagnado. O tempo corre. Meia hora, uma hora, uma hora e meia. A impaciência está no limite. Não há como voltar ou pegar outro caminho. Você precisa estar ali! Não há para onde fugir ou se esconder. Seus pés começam a doer antes mesmo de estar dançando, suas pernas estão formigando e seu bumbum está completamente quadrado! Você só tem um leve desejo: você quer ir pra casa. 

O ar condicionado está ligado, mas isso não impede que o suor comece a rolar pelo seu rosto. A maquiagem está borrada, as amigas estão estalando a língua a cada instante e o barulho da notificação do whatsapp está te irritando muito.
Você só quer ir pra casa!

Duas horas e meia depois, vocês conseguem sair daquele trafego horrível e desmotivador. Mais meia hora para chegar ao destino. Todas estão com aquela feição de que o dia fora destruído. Não há bar que salve, não há boate que te levante, não há pagode que te melhore e muito menos funk que te anime. Você quer ir pra casa.

Ninguém mais está sorrindo ou feliz. A boate para onde decidiram ir está vazia. Há um grande show na cidade onde todo mundo parece estar. Você está puta da vida! É um dia de merda onde deveria ser um dia animado, feliz e descontraído.

Suas amigas insistem para que fique com elas quando você resolve voltar para casa. Você não está com cara de muitos amigos e acaba sendo estúpida com elas. “Melhor você ir embora”, elas pensam. E é o que você faz.

Um táxi, quarenta minutos depois e quase oitenta reais gastos, você chega em casa. Tira os sapatos, joga a bolsa no sofá e abre a geladeira pra se embriagar com o primeiro vestígio de álcool que surgir.


Um vinho e um programa de culinária depois, você está apagada no sofá da sala pensando: a vida é um transito caótico numa sexta-feira à noite. 

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