12/27/2013

O mundo aqui dentro.

O despertador tocava alguma canção sussurrada da Sarah Jaffe enquanto eu relutava para abrir os olhos e levantar daquela cama quente e deliciosa, como ficam em dias chuvosos que precisamos sair e enfrentar o mundo. As persianas, do outro lado do quarto, abriram-se violentamente e deixando a claridade do dia adentrar o quarto enquanto aquela luz ainda machucava meus olhos não acostumados com aquela claridade e por um momento quase quis xingar baixinho mas só ronronei e virei para o outro lado, pondo um travesseiro sobre o rosto na tentativa de escurecer um pouco as coisas mas Sarah Jaffe ainda estava ali e seu tom tornava-se mais alto e claro e ouvi uma risada explodir do outro lado do quarto, junto as persianas. Era ele. 

Com seu cabelo bagunçado, sua barba por fazer, seus incríveis olhos azuis, cruzando os braços sob o peito enquanto vestia apenas um moletom e sorria travesso para mim. Relutava para levantar e quando minha mente fazia menção em levantar, meu corpo recuava e eu caia com tudo na cama outra vez.
Ele atravessou o quarto com passos largos, seus pés estalando pelo piso de madeira, e ajoelhou-se no chão enquanto debruçava-se na cama. E ficou ali, com as mãos estendidas próximas ao meu rosto e o afagou devagar e sutil. 

Ele tinha essa maneira de me mostrar que me amava. Não precisávamos de palavras para mostrar ao outro e fazê-lo entender que era amado, nós éramos um tanto que maior que isso. Conversávamos por olhares. Olhares que se encontravam, se esbarravam, se entreolhavam a cada instante só para mostrar ao outro o quão apaixonados éramos um pelo outro. E naquele momento eu percebi que não queria sair daquela cama. Eu não queria levantar e enfrentar a cidade lá fora. Eu queria ficar aqui, com ele debruçado sob a cama enquanto afagava cada parte do meu rosto. Era duma forma tão sutil que me faziam sorrir e fechar aos olhos, como se eu estivesse indo adormecer outra vez e fosse sonhar com algo bom.

E eu não queria levantar, tomar café, tomar banho e ir à cidade. Eu não queria enfrentar o dia frio, eu não queria enfrentar o trânsito, eu não queria enfrentar a fila na hora de ir comprar um café, eu não queria enfrentar o escritório, eu não queria enfrentar pessoas de terno e gravata e mulheres de salto às oito da manhã. 

Eu queria ficar ali deitada sentindo todo o amor do mundo em alguns toques e em olhares profundos e misteriosos. Eu queria porque éramos incríveis dessa forma, nunca soubemos dizer um ao outro o quão importante éramos porque as palavras pareciam pequenas e tolas perto do que sentimos, a verdade é que nenhuma palavra no mundo, nenhum livro romântico, nem uma frase feita serviria para começar a explicar ao outro o que se sente.

Então, ele me traz de volta a realidade e senta ao meu lado, puxa meu corpo ainda fraco para perto de si e deita minha cabeça em seu colo, enquanto ele percorre meu rosto com seus lábios macio mas sem beijar nenhuma parte. Seu aroma era doce e seu hálito gelava cada parte do rosto por onde seus lábios percorriam. Aquilo hábito era incrível e mágico para mim e tornou-se algo rotineiro, o fato dele fazer isso todas as manhãs é que me fazia não querer enfrentar o mundo lá fora e me refugir em seu peito quente e macio. Suas mãos fortes e grandes acarenciava a área entre o pescoço e o ombro e deslizava até a altura do meu seio e depois voltava, repetindo o ciclo dezenas vezes. E aquilo me faz lembrar que Sarah Jaffe ainda ecoa pelo quarto, cantando a minha canção favorita, e dizendo para nós “Agora eu me sinto diferente”. E era exatamente assim que eu me sentia: eu me sentia diferente e sei que ele também sentia-se assim.
Era por sentir-me diferente que eu não queria sair daquele quarto.

Por que o diferente, para nós, era o amor. E eu me sentia amada. Ele nunca me apressava ou me dizia que íamos nos atrasar para algum compromisso, ele sempre esperava minha vontade de levantar aparecer enquanto me fazia cafunés infinitos e deliciosos. Eu queria aquilo todos os dias, todas as manhãs, todas as horas e a todo o momento e ele sabia disso e era por saber daquilo que ele se punha a fazer. Então levanto com uma relutância fora do normal e me tranco no banheiro e só saio de lá com a cara limpa e com aroma de frutas vermelhas.

Ele parece sentir pois assim que saio do banheiro lá está ele, do lado de fora, esperando e me sorri com aquele sorriso mais bonito no mundo todo e me puxa suavemente deixando a toalha deslizar sob o meu corpo até alcançar o chão. Eu adoro a gravidade. E olha nos meus olhos como quem tivesse tanto a dizer mas não sabe como dizer tanta coisa e só olha porque olhar não cria duvidas e não te faz duvidar, ele me olha porque ele sabe a importância de um olhar profundo enquanto envolve meu corpo com seus braços fortes e morenos e me arranca suspiros só de me abraçar um pouco mais forte que o normal e me faz arrepiar os pelos da nuca. Ele, então, me beija.

Me invade de uma forma doce e sensível, como nenhum outro homem já fez antes. Seus lábios macios roçam os meus e eu perco o fôlego a cada vez que ele chega tão perto assim. E pega as minhas duas mãos e vai andando ao encontro da cama, ainda virado para mim. Senta e espera alguma divindade acontecer mas só existe nós ali, só existe nossas almas e nossos corações batendo tão rápido e alto que eu quase posso ouvir. Por fim, se deita e me olha. Me olha com aquele olhar de desejo que nenhum outro cara no mundo lá fora tem, me olha como quem precisa de mim agora mesmo. E eu não sei como parece ser o meu olhar para ele mas eu retribuo o olhar de desejo. Por que eu preciso dele, também, e eu preciso dele agora mesmo.

Nenhum comentário: