12/17/2013

Coisas que eu nunca te disse.

Eu gostava daqueles olhos castanhos grandes e brilhantes. Eu gostava daquelas pintas perto da boca e dos olhos. Eu gostava daquele sorriso meio mágico, meio safado, meio menino. Eu gostava daquele cabelo rebelde que você sempre me dizia que iria pintar e eu reprovava. Eu gostava daquelas pequenas partes de você que mais ninguém no mundo conhecia, apenas eu. Eu gostava do mau humor matutino que logo transformava-se em sorriso quando eu afogava minha boca na sua. Eu gostava daquela cara de sono, daquelas olheiras profundas e do sorriso matinal que me dava e me dizia “bom dia, amor!” e virava pra dormir mais um pouco. Eu gostava quando você choramingava pra eu te deixar dormir mais um pouco. Eu gostava do fato de eu ser baixinha o suficiente pra minha cabeça ficar na altura do seu ombro, tão perto do coração e tão perto do abraço – e eu podia ter os dois ao mesmo tempo: teu abraço e teu coração batendo mais forte. Eu nunca te disse essas coisas por que sempre soaram-me tão bobas e inúteis, coisas que eu achei que você sabia e eu não precisava mais te falar. Mas você nunca soube dessas e das outras coisas que eu gostava em você. Eu gostava do modo como se preocupava comigo e me deixava chorar no seu colo, mesmo que você nunca soubesse direito o que fazer ou o que me falar. Eu gostava do modo como você se refugiava da vida, buscando felicidade em pequenas coisas pra desfazer-se do mundo real tenso que vivia. Eu gostava do modo como falava de nós e de como nos via no futuro, mesmo que ainda não estivesse pronto para o tal futuro. Eu gostava tanto de quando falava sobre como seria o filho que nunca tivemos. Eu gostava de quando saia do banho enrolado na toalha e sorria pra mim pelo reflexo do espelho. E aquele era o meu sorriso favorito no mundo inteiro. E eu gostava tanto, tanto, do fato de que ao sair de casa a primeira coisa que você fazia era me dar a mão e me deixar andar pela calçada para que eu ficasse um tantinho mais alta. Eu gostava daqueles beijos de ponta cabeça, dos selinhos, dos beijos no nariz, na testa, na mão, no cantinho da boca, no pescoço, no lóbulo da orelha. Eu gostava do seu modo de me abraçar – e eu sei, eu talvez, em algum momento desse texto, já tenha dito isso mas é que eu realmente gostava muito disso. Eu gostava, também, das nossas brigas. Do modo que eu ficava tão furiosa e berrava e você sempre me perguntava em tom calmo porque eu estava gritando. E eu gostava do modo que um dos dois perdia a graça, o jeito e o orgulho e partia pro colo um do outro. Eu gostava dos dias chuvosos preguiçosos que duravam uma eternidade. Eu gostava dos dias nos fast-foods afora porque tínhamos preguiça de cozinhar alguma coisa. E eu gostava dos filmes na TV nos fins de semana, mesmo que estivesse acontecendo a maior festa do ano. Eu gostava  da maneira como não gostávamos mais de sair de casa como antes ou de nos socializar com pessoas além daquelas que já conhecíamos. Eu gostava do fato da sua mão sempre procurar a minha enquanto a outra continuava no volante. Eu gostava do modo como você fechava os olhos e sentia meu carinho pelo seu rosto e sorria tão suavemente que às vezes achava que iria adormecer. E eu gostava tanto, tanto, de você. Eu gostava da maneira que éramos um com o outro. Eu o amava. Do fundo do meu coração. Mas eu amanheci num dia comum e você amanheceu num dia decisivo. E se foi. E partiu meu coração. E levou parte de mim consigo no momento em que me disse que não haveria mais um amanhã juntos. E agora amanheço todos os dias tentando me lembrar se existia alguma coisa em mim que eu gostava que você também não tenha levado de mim. 

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