Tomei mais café do que eu costumo e mais do que deveria, por
isso a insônia talvez esteja tão presente hoje. Penso no café e logo acendo um
cigarro, mesmo que só haja mais dois goles. Café com açúcar demais, terrível.
Então estou no fim do cigarro, repus a xícara do café e liguei a TV bem
baixinho por que estou tão acostumada com o barulho dela, embora eu pouco a tenha
visto nos últimos anos. Então lembro que só tenho assistido TV pra ver as
crises que andam acontecendo no mundo – geralmente tem algum jornalzinho de
merda passando tentando me dizer que 2+2, no mundo atual, deixou de ser 4.
Desligo a Tv por que o barulho atrapalha a música que acabei de dar o play.
Esteban tem sido companheiro de longas madrugadas. Por falar nele, lembro que
escrevi sobre uma música dele. Logo, lembro que eu escrevi para aquele garoto.
Puts, eu deveria estar dormindo. Quase duas. Embora eu só tenha conseguido
dormir, ultimamente, lá pelas quatro ou cinco. Penso em mudar minha rotina a
partir da semana que vem, mas é quase como dieta – prometo que começarei e
nunca cumpro. Ando me sentindo meio solitária e triste, numa dessas tristezas
que não tem fundamento ou cabimento. Me lembro dos meus 14 anos, quando eu
entrei em depressão e enlouqueci a ponto de precisar de psicólogo. Acho psicólogo
coisa de maluco, então, me considerei maluca naquele tempo. Não acho certo você
pagar pra ser ouvida – só maluco faz isso. Por falar em “ser ouvida”, lembrei
outro dia do meu colegial... acho que senti saudade de acordar cedo mas isso
era tudo. Não sentia saudade dos amigos, o que
é triste por que eram as pessoas mais próximas que eu tinha da amizade.
Duas horas! Preciso esquecer a cafeína. Outro cigarro. Tosse do cão! Preciso
parar de fumar. Vou parar de fumar. Amanhã começo. Semana que vem, talvez. Ando
meio doente, doente mesmo! Febre alta e coisas corporais de gente doente. Se
alastrou pela casa. Todos estão doentes. Por falar em casa, pretendo ir embora
dessa. É, já deu. Não consigo mais. Tenho pra onde ir, só não quero ir pra lá.
Mas vou assim mesmo, vai que é melhor? E se não for, bem, eu ainda posso voltar
pra essa, embora eu não consiga mais chamar de lar. Lar é algo relacionado a
família, paz e essas coisas. Minha família se perdeu há muitos anos, logo após
o acidente trágico. Odeio esse acidente. Ou talvez, não. Quero dizer: não
queria que houvesse o acidente, mas se não houvesse eu não estaria aqui. Gosto
de onde estou. Digo, do presente em que me encontro – com essas pessoas, dos
lugares por onde passei e tudo o mais. Se o acidente não tivesse ocorrido, eu
teria ficado pela minha Terra Natal. Isso me arrepia. Soube que minha avó – a paterna
– me ligou. Não liguei de volta. Não sei o que dizer. Tenho medo. Dá ultima vez
que tentei contato com minha família paterna, fui renegada. Não gostei, achei ríspido
e frio. Gosto da família daqui. São calmos. Exceto minha mãe. Por isso vou-me
embora. É perto, tão perto que posso vim andando – embora não me arriscaria.
Quero outros ares, outros sonhos. Os meus estão gastos. Três da manhã! O
cigarro acabou. O café está frio. Acho que isso é “bom dia a todos, vou dormir!”
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