12/02/2011

O amor que eu me dei, o amor que me salvou.

Às vezes me sentia mais uma na multidão e com o tempo foi piorando. Todos os dias eu me sentia invisível, me sentia perdida sem ter com quem contar na jornada e isso me doía muito. Logo eu que fui acostumada a ter pelo menos alguém me mandando vibrações positivas mentalmente ao fim do dia. Era torturante o modo como eu levava a vida, era uma dor profunda que ninguém entendia, ninguém conhecia. Por vezes vi pessoas se afastarem de mim sem ao menos tentar me entender ou conhecer, achavam que eu tinha problemas e precisava de tratamento, mas tudo que eu precisava era de afeto, mesmo que por alguns instantes. Então estávamos eu e minha solidão, sentadas no sofá da sala de estar tomando café morno no verão. A casa sempre andava vazia - de pessoas e de sentimentos - mas havia ficado muito pior com essa depressão profunda que eu entrara. Às vezes eu acordava as duas da tarde, me servia de um café e acendia um cigarro e depois chorava duas horas seguidas. Eu não sabia o que era aquilo, achava que era apenas algo passageiro e que logo logo eu estaria totalmente curada - como se o que eu sentisse fosse uma doença - e eu não precisaria mais chorar ou sofrer pelos cantos escuros da casa na esperança de um telefonema, uma visita ou uma carta. A verdade é que eu estava sozinha, como sempre fui, só que dessa vez era algo mais pesado, mais frio e cruel. Meu corpo parecia arder em chamas, minha mente não criava mais um lugar seguro e acolhedor e eu precisava da minha paz de volta. Psicólogos, psiquiatras, médicos, remédios. Nada adiantava, nenhum ser humano e nenhum remédio entorpecente era capaz de tirar aquele vazio de mim. E era uma dor profunda que me matava um pouco mais a cada novo amanhecer. Já não acordava para viver, acordava para sobrevier. Com o tempo as pessoas voltaram a aparecer em minha vida, eu voltava a ser convidada a lugares, mas era eu quem não queria mais aquilo de novo. Depois que pude superar na força bruta o que tivera me acontecido, acreditava que se eu voltasse a ser o que era antes daquilo um dia voltaria entrar no abismo que me meti sem saber como voltar. Fui ser sozinha, dessa vez não me doía mais. Eu já estava morta por dentro e não havia mais sangue escorrendo de nenhum lugar do meu corpo. Percebi que tudo que eu precisava era de mim mesma, era espantar os fantasmas que adentraram meu ser e enfrentaram minha alma, fazendo-a dar um passeio longo longe do meu corpo. E eu os espantei. Nunca saberei como. Acho que foi a partir do momento em que comecei a me amar.

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