12/02/2011

Luz dos olhos meus.

Ela era a minha menina. A menina que eu conheci sendo dócil, meiga, gentil. A menina que gostava de puxar assunto. A menina que respondia tudo com uma pergunta, como uma criança que quer saber porque o céu é azul ou porque o leite é branco. Muitas vezes não sabia responder suas perguntas, e diferente de outras pessoas ela nunca ficava triste ao meu lado, às vezes era ela quem me dava alegria. Ela trazia consigo um punhado de rancor que eu jamais descobriria se não fosse a própria que me dissesse. Trazia consigo, também, uma tempestade forte cheia de nuvens pretas e relâmpagos. Apesar do sorriso diário, da força e atenção que me dava ou me mandava mentalmente, era um poço de tristeza. Sempre tinha problemas mas nunca gostara de falar disso, gostava quando eu levava sorvete e eu ficava vendo lambuzar-se inteira. Era uma menininha, espontânea e alegre. Era a minha menininha. Com o tempo, com a convivência, se tornou a menina dos meus olhos. Era pra ela que eu mandava forças enquanto dormia, era por ela que eu rezava madrugada a dentro. Com o passar dos meses não se via mais tristeza em seus olhos, não que estivesse curada e totalmente protegida das suas próprias dores, ela apenas aprendeu a compartilhar seus medos comigo. Não trazia consigo mais a tempestade, às vezes só trazia chuva de verão que, com paciência, sessava logo. O rancor que era visto em seus passos, em seus olhos verdes d’água, com o tempo também se foi. Tudo nela era pura alegria, era sorriso certo, coração bastante aberto. Tinha ciúmes de mim, eu tinha ciúmes dela. Eramos possessivas uma com a outra e nunca negamos. Era a minha pequena, a menina dos meus olhos, a minha protegida e a minha protetora. Era minha mãe e meu pai nas horas livres, era minha melhor amiga em todas as horas. Era minha, e só. E como nada era perfeito - vida puta injusta - o tempo a levou de mim. Restou saudade e coração partido desse lado, do lado de lá já não se sabe. Dizem-me que voltou a ser a tempestade ambulante que era, dizem-me que virou um poço de frieza. Não respondia mais perguntas com outras perguntas de criança, na verdade já não falava com mais ninguém. E eu me sinto totalmente culpada por deixa-la partir sem um adeus. Eu jamais pensei que perderia minha menina, jamais pensei que perderia o compasso dessa dança. Mas perdi. E mesmo assim, mesmo com toda essa saudade que me dá dela quando olho para o verde das árvores, tenho-a como a minha menina. E tenho a melhor imagem dela que minha mente pôde guardar. E apesar dos apesares, sei que minha menina cresceu e foi viver. Sei que se perdeu de mim no meio do caminho, mas eu ainda tenho como a menina dos meus olhos.

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