11/30/2011

Tentei chorar, não consegui.

Havia muita coisa espalhada pelo quarto, em contrapartida não havia nada dentro de mim. Quando você foi embora - mesmo depois de meses, me dói muito repetir essa frase - e me deixou aqui, nesse cubículo que chamávamos de casa, dei pra escutar coisas dentro de mim. Era uma voz chata, arranhada, como aquele disco de vinil que compramos há alguns anos, que sempre me dizia a mesma coisa: não haverá volta, pequena, é preciso se conformar com a perda. Eu jamais dera ouvidos a essa voz que saia de algum lugar da minha mente involuntária, mas com o tempo a frase que se repetia diversas vezes ao dia ganhava vida. Era verdade, a voz dentro da minha cabeça não mentia quando dizia que não haveria volta e era necessário se conformar. Quando comecei dar ouvidos a essa voz - com o tempo ela ficava mais distante e fraca, já não era arranhada como antes - foi quando percebi, de fato, que tudo que vivemos não passara de uma imaginação minha. Era difícil acreditar que eu havia perdido alguns anos dando tudo de mim a você enquanto tudo que você me dava eram falsas promessas de felicidades e eu, menina boba e recém chegada a cidade, acreditava em tudo com aquele brilho fosco que você dizia que meus olhos tinham quando me emocionava com palavras. Era mais difícil ainda acreditar que tudo que eu havia feito por mim era pra você de uma forma indireta. Eu comprava roupas e me arrumava na espera que você notasse tal mudança, coisa que nunca acontecia e embora isso me chateasse bastante, nunca saiu da minha boca alguma forma de resmungamento, ao contrário: tudo que vinha de mim para você era mágico, fantástico. Deve ter sido aí onde eu errei: pus sentimento demais em uma sobra de espaço que ficava entre o abraço. E você se foi, numa manhã ensolarada de domingo você juntou suas coisas e eu, criança insatisfeita, o vi ir embora sem pedir que ficasse. Eu precisava? Quando a gente quer, a gente fica. E desde quando você se foi, a voz que antes era arranhada e insuportável tornou-se minha unica companhia diária. Eu não tinha mais ninguém nessa vida além daquela voz, até que eu descobri que a voz na minha mente não passava de mim mesma me auto-ajudando. E eu me ajudei, me reinventei, me revigorei. Hoje, a voz não está mais aqui dentro mas eu sei que quando eu precisar de alguém é só ir até o espelho e sorrir, porque a pessoa que reflete no espelho é tudo que eu preciso, é tudo que me basta.

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