8/16/2011

Literatura de Cordel - A resposta.

Olá, você. Bom, não consigo me lembrar a última vez que escrevi uma carta mas lembro que foi pra você e para não perder o costume resolvi escrever-te (ou reescrever-te).
Paris é chato depois de um tempo. A gente vê aqueles cartões-postais e acha que tudo é muito bonito, que todo mundo por aqui é feliz e que tudo tende a dar certo em uma cidade tão bela como essa, mas é só fachada como tudo que é muito belo visto de longe.
A guria que tu citou, que a Leninha citou, não era a minha guria. Era uma rapariga qualquer, dessas que são muito sozinhas e pede pra andar de mãos dadas com qualquer pessoa, daquelas que sorri da tua piada mais idiota, da que ama você enquanto você ama-la. Inconstante, eu creio. Odiava músicas indies e não sabia o que era Kings of Leon. Nunca expliquei, acho que alguém que não conhece a banda e ainda me pergunta "o que é isso" não merece muita resposta além do meu silêncio.
Outro dia tomei chá e comi biscoitos na sacada da casa do meu pai, ele vestia o suéter que você o deu no natal de noventa e oito, achei bizarro ele ainda usar coisas tão antigas mas ao mesmo tempo gostei, lembrei do momento em que fomos compra-la e você pediu minha opinião, tudo bem que eu tinha escolhido o suéter vermelho e você comprou o azul mas ainda sim lembro daquele dia como um dos meus favoritos.
Há poucas semanas minha mãe veio me ver, trouxe um perfume. Era o seu perfume. Não lembro o nome mas lembrei do cheiro no mesmo instante em que ela esfregou um pouco em meu pulso e perguntou-me se eu tinha gostado, não consegui responder nada além de um sorriso e agradeci. Senti muito, muito, muito a falta desse cheiro. Senti muito a sua falta naquele instante, então passei o dia a pensar em você. Tu faz falta.
O curso acabou, pela primeira vez na vida eu consegui concluir algo do que me orgulho. No fim me entregaram um diploma e eu pendurei ele em cima da minha cama. Era aonde ficava a nossa foto. Nunca consegui rasgar as fotos ou me culpar por aquelas centenas de cartas, guardei tudo que me lembrava a você na ultima gaveta da escrivaninha e vez em quando batia uma saudade danada e eu ia lá, procurar você nos papéis, nas poesias, nas fotos, nos presentes e mimos que me fazia.
Leninha me ligou poucas horas depois que me encontrou de mãos dadas com a rapariga, perguntou muito sobre você, mas tu me conhece: dei risada, respirei fundo e falei que ninguém poderia ocupar o teu lugar. Ela riu também, rimos juntos por algum tempo e então ela desligou. A voz dela me fez lembrar da tua, lembro da vez que saímos eu, você, Luis e Leninha em uma tentativa ridícula de desencalhar-los, o que nunca deu certo por que depois descobrimos que eles se odiavam desde o jardim de infância, o que nos rendeu boas risadas por alguns dias, e boas conversas de manhã, e bons café na cama, e bons sexos apaixonados mesmo que rápidos por conta do nosso atraso matinal para o trabalho.
Voltarei para São Paulo em duas semanas, não pretendo viver em Paris, aqui tem muitas coisas e pessoas que me lembram você e isso me dói muito, muito mesmo. Dá vontade de te ligar toda hora e dizer que sinto sua falta, mas perdi seu número há dois anos. Escrevo-te e-mails quase sempre, nunca mando. Frescura e medo, sempre acho que tu vai excluir sem responder, que tu vai rir das minhas poesias feias e sem rimas. Quis escrever-te para dizer que terminei o tal livro há alguns dias, não queria dizer mas sou ansioso e espero que tu compre ele logo, a personagem principal tem muito a ver com você. Talvez seja você. Estive pensando muito em você enquanto escrevia e depois percebi que está descrevendo você e não uma personagem.
Não vejo mais o pôr-do-sol na escadaria do Notre Dame, acho que todas as pessoas desse lugar resolveram ver o pôr-do-sol no mesmo lugar que eu e tu sabe, odeio aglomeração. Desde então vejo o pôr-do-sol na varanda no apartamento, é menor mas aqui é um espaço só meu. Queria que fosse teu espaço, também.
Te cuida, guria. Te amo muito.
Do teu eterno guri.

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