8/25/2011

Crescer por que? Pra que?

E quando os dias cinzentos, como hoje, chegam, eu me lembro das coisas obscuras da minha infância. A pobre coitada que perdeu seu pai antes mesmo de lembrar do seu rosto, a menina que tinha pesadelos terríveis com fantasmas negros na quadra do condomínio aos cinco anos de idade e ainda lembra disso com medo, a garota que se machucava todos os dias por conta dos patins, da bicicleta ou quando sua melhor amiguinha não queria emprestar a barbie. Ufa, que infância difícil, não é? Lembro dela como se fosse ontem, e foi. Ainda sou criança, mesmo quase entrando na fase adulta me considero um bebê de colo que ainda precisa de cuidados extremos para sobreviver, só que esses cuidados vem mudando com o passar do tempo. Antes, eu precisava que trocassem minhas fraldas, me dessem banho, comida e me botassem para dormir. Hoje, eu preciso de um colo que ninguém dá, de conversas sem interrogações ou reticências, vírgulas ou pontos finais; preciso de abraço matinal, café-com-leite, entrelaçar de dedos e mordidas, boas mordidas.
Me dizem que eu cresci mas eu ainda acho que não. Não tenho mais idade pra brincar no pula-pula, nem no carrossel e já posso entrar na montanha russa sozinha, mas não há mais graça. Eu gostava quando eu não podia, assim eu dava um jeitinho especial de driblar o segurança do brinquedo e me divertir, achando-me competente demais por dribla-lo . Hoje em dia é tudo diferente: quando os verdadeiros adultos saem fico responsável pelos afazeres domésticos, preciso me dedicar aos estudos e arranjar um emprego, preciso cuidar do meu coração e do coração do novo namorado, preciso arrumar novidades para ter o que conversar com os familiares, preciso sorrir mesmo triste quando alguém me pergunta o que tenho.
Por que antes tudo isso era mais fácil e hoje se tornou um tormento? Eu queria tanto crescer que quase esqueci que ser adulto é uma droga. Peter Pan que o diga. Esse sim foi sábio, permaneceu na Terra do Nunca porque sabia que os adultos eram mais complicados que as crianças. Na verdade, eu também acho isso. Crianças tem dúvida em quanto ao céu azul, adultos tem dúvidas em quanto ao salário, ao amor, as compras do mês, a roupa do dia e essas coisas, uma monotonia que só.

Nenhum comentário: