9/16/2010

Um conto sem final feliz.

Começou quando ela tinha quinze anos e ele trinta. Ele era casado,com dois filhos. Ela era rebelde,fugira de casa por diversas vezes para patinar madrugada à fora. Se conheceram em uma roda de amigos loucos,drogados e alcoolizados. Sorriram na mesma freqüência,vibraram no mesmo tom. Olhares,mão nas mãos e por fim,um beijo delicado. Nada que estivesse programado ou escrito no roteiro. Tampouco,a madrugada acabou e o sol já veio,reluzindo o dia,trazendo paz. Quatro e meia da manhã,fazia frio no Rio de Janeiro. Ele estendeu sua jaqueta de couro para ela que a alcançou antes mesmo dele levantar totalmente suas mãos e leva-lá ao seu ombro e,assim,vesti-lá.
Foram felizes por uma noite,sem saber o nome um do outro e apenas com o número do telefone. Ela havia ligado dias depois,deixado alguns recados com a esposa dele para que ele a retornasse. Ele nunca retornou.
Mais uma noite na qual ela fugiu de casa,mesma roda de amigos e lá estava ele novamente. Mais uma noite juntos,mais uma noite de amor sem sexo,só com o brilho intenso dos olhos um do outro. Descobriram seus nomes,seus verdadeiros telefones e ela,por fim,pôde ver que todas as vezes que ligara uma mulher atendia o telefone com voz de dona de casa,crianças gritando... ele era casado?Sim,ele era.
Pesou seu coração. Sentiu vontade de jogar tudo pro alto já que estava tão no início que com o tempo nem daria falta. Não jogou nada pro alto,não naquela noite.
E foi assim,dia após dia eles ficaram juntos se amando,se conhecendo e se curtindo. Mal sabia eles dois o que o destino lhe guardava.
Em uma dessas noites que eles passaram juntos ele conseguiu então falar para aquela garota que tinha se separado da sua mulher e que a queria muito,como jamais quis outra mulher. Felicidade,esse era o nome dela daquele dia em diante.
Juntaram-se,viveram felizes por anos,casaram-se fora da igreja e fora do papel e aos vinte e um anos ela engravidou dele. Bênção de Deus,já que esperavam por isso há mais de anos. Ele para ela era tudo,um infinito em um só ser. Ela para ele era o mundo,o principio do universo. Por nove meses esperaram com cautela sua menina e a tiveram. Era perfeita,assim diziam um para o outro toda vez que a olhavam.
Um longo ano de cuidados com sua pequena se passou e eles,ainda,eram o casal mais unidos que eu conhecera. Porém,algo inesperado havia de acontecer.
19 de maio de 1996,poucos dias para sua filha completar um ano,ele saiu uma noite para trabalhar e pegou a estrada escura e derrapante. Ele sofreu um acidente naquela noite. Sua mulher estava em casa com sua filha,cuidando dela e algumas horas depois o seu telefone tocou. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Era verdade?Tinha mesmo que acontecer isso logo com aquela adorada criatura?O seu amor se foi,assim,tão simples?Que dor foi essa que lhe tomou o peito naquele momento?Que vontade foi essa de morrer sem pensar em ninguém? E ela morria,a cada dia após aquela noite ela morria um pouco mais,morria em pensar nele,morria em segurar sua filha que era a cópia do seu pai. Por anos ela não conseguiu ser uma boa mãe para sua filha. Trancava-se no quarto e precisou da ajuda da sua mãe para conseguir seguir em frente. Ela chorava todos os dias. Eu também choro. Perdi duas pessoas nessa história: Meu pai,quando eu estava prestes a fazer um ano e a metade da minha mãe que ele levou com ele,que até hoje não consegue ser totalmente inteira. Chega o fim da história,sem um final feliz.

Um comentário:

Lucia M. Ghaendt-Möezbert disse...

Lindo, lindo texto! Que as linhas seja capaz de remendar a sua dor...