11/06/2013

Já não tocam mais o blues que me lembra a você.

Outro dia, perdida entre meus passos apressados pelas ruas desconhecidas, me veio teu rosto em meio a multidão. Não era você, obviamente. Não havia ninguém do outro lado da rua, da pista, esperando o semáforo fechar para poder atravessar. Mas, ainda sim, me veio seu rosto. Todos os detalhes do rosto que eu costumava acarenciar pouco antes de dormir. Vi seu sorriso em minha direção, o mesmo sorriso tranquilo e travesso que me dava toda vez que eu cantava uma música com a minha voz rouca e esquisita. Como pode, Deus, voltar assim teus aspectos e defeitos duma só vez, em meio ao nada, sem eu nem se quer estar pensando em você? Atravessei a rua com passos largos e firmes, eu queria tanto que você estivesse mesmo ali que não pensei duas vezes antes de correr e ir ao alcance dos teus braços. Virou pó, evaporou, sumiu de cena. Aos pouquinhos, eu vi o teu rosto ir sumindo entre a neblina que cortava o inverno, teu sorriso doce já não era mais visível e teus olhos, sempre tão bondosos, haviam dado lugar ao nada. Eu não ouço mais o nosso blues. E nenhuma outra canção que me lembre nós dois. Você sumiu da mesma forma que chegou: rápido e selvagem, arrebatando tudo e destruindo qualquer coisa que estivesse ao seu alcance. Então, aos pouquinhos, também, eu fui sumindo. Por que eu também precisava sumir de você. E fui deixando de lado essa obsessão de pertencer a um ser humano, seja quem fosse. E sumi pra minha própria lucidez. Por que, meu amor, se eu ficasse mais um pouquinho ouvindo aquele blues, eu enlouqueceria. 

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