1/21/2013

Amor veraneio.


Eu olhava para aqueles lábios ressecados pelo sol, aquela pele quase morena mas mais avermelhada do que morena e o cabelo preto caindo nos olhos. Profundos olhos, inclusive. De um tom verde água, como o mar que se estendia no horizonte atrás dele.

- Talvez devêssemos parar de nós encontrar. – Eu disse, enquanto um nó na garganta se formava.

Ele hesitou por um momento antes que as palavras chegassem a ponta da sua língua. Sua decepção era visível mas sua expressão confusa denunciava ainda mais.

- Não estou pronto para deixá-la ir. Veja – ele apontou para o mar, inclinando sobre o calcanhar e girando o suficiente para que também pudesse ver – aquilo! Não é lindo? Veja o mar, Ana. Eu sou como o mar em um dia de sol, quando estou com você. – Ele hesitou antes de continuar, molhou os lábios com a língua e segurou meu queixo, olhando-me nos olhos – Eu não sei ser eu sem você. Se me deixar, jamais voltarei a ser verão. Estarei confinado a ser tempestade para sempre. Sem você, sou inverno.

Aquelas palavras pareciam atingir meu coração antes mesmo que chegasse aos ouvidos. Senti uma punhalada no peito, como se fosse golpeada por um machado. Minhas pernas tremiam, minhas mãos involuntariamente procuravam qualquer ponto de concentração. Quase vacilei quando levantei a mão para tocar seu rosto, mas ela caiu no ar e a gravidade fez o papel de fazê-la voltar ao lugar.

- Thomas – comecei. – Isso, a gente, não é algo que durará mais que algumas semanas. O verão está próximo do fim. Voltarei para casa, você também. Talvez nos veremos no próximo verão, ou não. Como saberemos? Como ficaremos? Sejamos realistas: não há futuro. – As palavras saiam mais rápido do que eu esperava, a minha voz tinha um tom trêmulo e quase afável. Meu tom de voz pedia desculpa por si só.

Thomas me olhou nos olhos e eu sabia que ele não queria ir embora, mas seu orgulho fez o trabalho que minhas palavras quase protestaram: ele se afastou. E pela ultima vez a mão dele pairou sobre meu rosto, segurando-a com as duas mãos, Thomas me deu um beijo demorado na testa. Eu quase pude sentir o gosto de lágrima que caia em disparada dos seus olhos, que agora eram de um tom cinza claro. Como o céu em um dia de inverno. Pensei no que ele dissera a pouco, Sem você, sou inverno., e eu vi em seus olhos que não mentira. Ele se transformaria em cinza, em pó, ao longo do tempo. Algo frio e duro. Algo congelado por dentro. Minha linha de raciocínio não fez seu papel, soltei meus braços por cima do seu ombro e deixei que o meu corpo falasse por si só. O abracei com toda a força que meu corpo conseguia transportar. Senti que ele também fazia o mesmo, caso contrário eu não teria motivo algum para tentar respirar mais depressa.

Thomas me soltou. Olhou meus olhos, pela ultima vez e se virou. Caminhando pela areia da praia, calmamente, vi todo um amor se desfazer em frente ao que chamamos de paraíso. Fitei o mar por um momento, percebi que o tempo mudara em pouco tempo. O mar agora tinha uma cor morta, nada convidativa para um banho. O céu, também, transformou-se: passou para um azul quase acinzentado, sob pequenas camadas de nuvens espalhadas pelo céu.
Ele não se virou em nenhum momento enquanto continuava sua caminhada paralela a minha. Tive vontade de correr, de gritar, chamar seu nome e pedir perdão. Quis isso tanto mas meu coração falhou, minha voz falhou! Eu abria a boca mas nenhuma palavra saia. 

Sentei na areia, com aquele palco dramático a minha volta, envolvendo meus braços sob minhas pernas que apertavam contra o peito e afundei minha cabeça ali. Chorava, com a intenção de que isso pudesse lavar minha alma. Nada feito! Quando mais chorava, mais vontade eu tinha de chorar pra sempre. Eu o perdera, estava ciente, fora a culpada e não fiz nada para mudar isso. Eu merecia esse castigo. Eu merecia passar o dia chorando, e, porque não, o ano inteiro talvez?
Senti a areia se afundar ao meu lado, foi quando olhei para baixo e depois para cima. Lá estava ele: lindo, maravilhoso, forte e quase esboçava um sorriso. Thomas voltara. E eu não sabia o porque exatamente.

- Não vou embora. Não vou deixar meu orgulho ou o seu fazer com que fiquemos longe um do outro. Eu a amo, Ana. Não entende? Não posso, não quero e não vou viver sem você. Se não entende isso, bem, temos um pequeno problema. – Ele sorriu. – Eu não vou a lugar algum, exceto se você vier comigo.

Eu sorri. Não precisava de palavras. Senti as lágrimas secarem mais rápido do que foram derramadas, por conta do vento que soprava. O céu abriu, outra vez. E o mar voltou à aquela cor quase cristalina. Eu sorri pensando em como ele podia mudar completamente o meu dia. Eu sorri pensando em como ele podia mudar completamente a minha vida. E ele mudou. 

Nenhum comentário: