Eu olhava para aqueles lábios ressecados pelo sol, aquela
pele quase morena mas mais avermelhada do que morena e o cabelo preto caindo
nos olhos. Profundos olhos, inclusive. De um tom verde água, como o mar que se
estendia no horizonte atrás dele.
- Talvez devêssemos parar de nós encontrar. – Eu disse,
enquanto um nó na garganta se formava.
Ele hesitou por um momento antes que as palavras chegassem a ponta da sua língua. Sua decepção era visível mas sua expressão confusa denunciava ainda mais.
Ele hesitou por um momento antes que as palavras chegassem a ponta da sua língua. Sua decepção era visível mas sua expressão confusa denunciava ainda mais.
- Não estou pronto para deixá-la ir. Veja – ele apontou para
o mar, inclinando sobre o calcanhar e girando o suficiente para que também
pudesse ver – aquilo! Não é lindo? Veja o mar, Ana. Eu sou como o mar em um dia
de sol, quando estou com você. – Ele hesitou antes de continuar, molhou os
lábios com a língua e segurou meu queixo, olhando-me nos olhos – Eu não sei ser
eu sem você. Se me deixar, jamais voltarei a ser verão. Estarei confinado a ser
tempestade para sempre. Sem você, sou inverno.
Aquelas palavras pareciam atingir meu coração antes mesmo
que chegasse aos ouvidos. Senti uma punhalada no peito, como se fosse golpeada
por um machado. Minhas pernas tremiam, minhas mãos involuntariamente procuravam
qualquer ponto de concentração. Quase vacilei quando levantei a mão para tocar
seu rosto, mas ela caiu no ar e a gravidade fez o papel de fazê-la voltar ao
lugar.
- Thomas – comecei. – Isso, a gente, não é algo que durará
mais que algumas semanas. O verão está próximo do fim. Voltarei para casa, você
também. Talvez nos veremos no próximo verão, ou não. Como saberemos? Como
ficaremos? Sejamos realistas: não há futuro. – As palavras saiam mais rápido do
que eu esperava, a minha voz tinha um tom trêmulo e quase afável. Meu tom de
voz pedia desculpa por si só.
Thomas me olhou nos olhos e eu sabia que ele não queria ir
embora, mas seu orgulho fez o trabalho que minhas palavras quase protestaram:
ele se afastou. E pela ultima vez a mão dele pairou sobre meu rosto,
segurando-a com as duas mãos, Thomas me deu um beijo demorado na testa. Eu
quase pude sentir o gosto de lágrima que caia em disparada dos seus olhos, que
agora eram de um tom cinza claro. Como o céu em um dia de inverno. Pensei no
que ele dissera a pouco, Sem você, sou
inverno., e eu vi em seus olhos que não mentira. Ele se transformaria em
cinza, em pó, ao longo do tempo. Algo frio e duro. Algo congelado por dentro.
Minha linha de raciocínio não fez seu papel, soltei meus braços por cima do seu
ombro e deixei que o meu corpo falasse por si só. O abracei com toda a força
que meu corpo conseguia transportar. Senti que ele também fazia o mesmo, caso
contrário eu não teria motivo algum para tentar respirar mais depressa.
Thomas me soltou. Olhou meus olhos, pela ultima vez e se
virou. Caminhando pela areia da praia, calmamente, vi todo um amor se desfazer
em frente ao que chamamos de paraíso. Fitei o mar por um momento, percebi que o
tempo mudara em pouco tempo. O mar agora tinha uma cor morta, nada convidativa
para um banho. O céu, também, transformou-se: passou para um azul quase
acinzentado, sob pequenas camadas de nuvens espalhadas pelo céu.
Ele não se virou em nenhum momento enquanto continuava sua
caminhada paralela a minha. Tive vontade de correr, de gritar, chamar seu nome
e pedir perdão. Quis isso tanto mas meu coração falhou, minha voz falhou! Eu
abria a boca mas nenhuma palavra saia.
Sentei na areia, com aquele palco
dramático a minha volta, envolvendo meus braços sob minhas pernas que apertavam
contra o peito e afundei minha cabeça ali. Chorava, com a intenção de que isso
pudesse lavar minha alma. Nada feito! Quando mais chorava, mais vontade eu
tinha de chorar pra sempre. Eu o perdera, estava ciente, fora a culpada e não
fiz nada para mudar isso. Eu merecia esse castigo. Eu merecia passar o dia
chorando, e, porque não, o ano inteiro talvez?
Senti a areia se afundar ao meu lado, foi quando olhei para
baixo e depois para cima. Lá estava ele: lindo, maravilhoso, forte e quase
esboçava um sorriso. Thomas voltara. E eu não sabia o porque exatamente.
- Não vou embora. Não vou deixar meu orgulho ou o seu fazer
com que fiquemos longe um do outro. Eu a amo, Ana. Não entende? Não posso, não
quero e não vou viver sem você. Se não entende isso, bem, temos um pequeno
problema. – Ele sorriu. – Eu não vou a lugar algum, exceto se você vier comigo.
Eu sorri. Não precisava de palavras. Senti as lágrimas
secarem mais rápido do que foram derramadas, por conta do vento que soprava. O
céu abriu, outra vez. E o mar voltou à aquela cor quase cristalina. Eu sorri
pensando em como ele podia mudar completamente o meu dia. Eu sorri pensando em
como ele podia mudar completamente a minha vida. E ele mudou.
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