7/20/2011

Complexos, displexos.

Deus, e eu que rezei tanto, e eu que pedi pena e curas, e eu que implorei tanto por band-aids no coração e nas cicatrizes espalhadas pelo corpo, hoje sou eu quem sofre por ser feliz demais. Sou um complexo gigantesco, eu sei, e me entender é o grande problema da humanidade. Talvez, se eu fosse analisada por um microscópio, alguém veria lá nas minhas células como sou de verdade porque ultimamente tenho pensado que sou assim: só corpo, só órgãos, só ossos, células e veias. Tenho me sentido muito feliz, admito. Daquela felicidade que a gente nem pensa mais em pegar a navalha e se cortar, pôr um dos pés no ar enquanto estamos em uma torre ou um local muito alto, do tipo de felicidade que a gente só vê em final de novela. E nossa, isso machuca muito mais do que sofrer. Ser feliz é um tédio. Não choro, não escrevo coisas depressivas, não gosto muito do café, fumo poucos cigarros, não tenho vontade de beber e nem de beijar caras mais novos. Não tenho vontade de sair com a primeira roupa do armário, de calçar o tênis sujo ou de me rasgar por dentro.
Agora eu acho a solidão muito bonita. Ela é doce, persuasiva, sedenta. É complexa, bem como eu e eu gosto muito das coisas que se parecem comigo. Eu feliz sou tédio puro, sou alma envenenada, sou sorriso demais e conversa demais e eu nem gosto de conversar. Não gosto de pessoas, não gosto de sentimentos, não gosto de sair, não gosto de viver "almofadamente" ou ler livros de beleza. Não sou assim.
Mas as pessoas leem isso e interpretam tão mal. Não é que eu prefira a dor, a escuridão, ao eterno sangue nos olhos, é questão de que quando a gente é feliz, ou pelo menos eu, fico meio abobalhada, meio dançando música sem melodia, meio querendo pôr felicidade onde não tem, meio querendo ver todo mundo feliz. E olha, tem muita coisa ainda errada comigo, muita felicidade que ainda vou viver, muita dor que vai bater na porta da minha casa e pedi uma xícara de chá. Vai ter muita coisa pra se viver, histórias boas e ruins pra se contar, pessoas que chegaram e ficaram e outras que só chegaram e se foram, bem assim.
Mas a verdade é que eu prefiro muito mais ser feliz do que viver naquela dor, naquela agonia em que eu vivia há uns seis meses atrás. Dói demais. Já pensou em alguém pegando um facão e te cortando ao meio e você sobrevivendo a isso? Acho que a dor da tristeza é bem assim. Ela não sabe quando vai embora, não sabe quando chega, não sabe se vai ou se fica, às vezes demora, às vezes passa rapidinho. Depende muito. Mas, às vezes, ela se entranha dentro da tua alma, toma conta do teu corpo e te faz de refém. A felicidade não, a felicidade liberta-te, solta tua alma... e é disso que eu tenho muito medo nela. Se me deixo levar pela felicidade, se deixo minha alma transbordar e se soltar por aí, logo logo aparece um obstáculo que a impede de ultrapassar e a faz voltar pro meu corpo e se acomodar triste em mim. E é isso, é isso que eu odeio nela. A complexidade de ser feliz me assusta muito. Mas com a complexidade da tristeza, bom, essa aí eu já me acostumei.
Feliz ou triste, hoje ou amanhã, aí vou eu. Complexo ou displexo, essa é a vida que Deus abençoou e me deu.

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