6/13/2011

Eu, a dona dos cinco sorrisos.

Fazer aniversário é uma coisa realmente insuportável. Me sinto velha, me sinto feia, me sinto morta, me sinto mais um ano perto da morte. Embora eu apenas tenha dezesseis anos, me sinto como um zumbi andando pelas ruas. Mas, sempre aparece alguém que muda isso, que muda essa vontade de sumir, que muda a vontade de desaparecer.
- Tem um cigarro?
- Fumamos o último.
- Uma pena.
(silêncio)

- Tá triste?
- Eu pareço?
- Parece, sim.
- Então estou.
- Está ou quer que eu pense que está?
- Estou sim.
- E porque?
- Tem muitas definições.
- Cite algumas.
- Não quero envelhecer. Não quero.
- Isso é só mais um fato. Todo mundo envelhece. Depois morre. Acontece!
- Tô sabendo!
- Tu sabes mesmo?
- Sei não, só acho que sei.
(silêncio)

- Você é boa pra mim.
- Você é boa pra mim, também.
- Boa como?
- Boa, só boa. Boa de me fazer ficar boa. Bem. Sabe?
- Sei sim.
(silêncio)

- Amanhã é dia dos namorados.
- Tô sabendo!
- Tu sempre sabe de algo mas nunca sabe.
- Sou mesmo assim. Mas dessa vez, eu sei.
- Passará com alguém?
- Não pretendo. E tu?
- Também não.
- Por que?
- Não tenho ninguém. E tu?
- Também não.
(silêncio)

- Tu tá deprimida demais pra quem faz aniversário hoje.
- Eu só esperava mais.
- De que? De quem?
- De mim, de você, do dia.
- Te dei minha presença, isso não basta?
- Hoje basta!
(silêncio)

- Tu é muito carente!
- Tu acha?
- Acho sim.
- E achas porque?
- Porque tu não pede abraço, tu não pede conselhe, tu nem sorri. Tu só olha, e olha bem, depois joga um sorriso torto na cara e finge que o dia foi bom.
- Tu me percebe muito.
- Percebo sim.
- E o que mais?
- Tu tem cinco sorrisos.
- Tenho?
- Um é quando você está com os meninos, você sorri desconfiada. O segundo é quando tu tá triste e solto o sorriso torto. O terceiro é quando está em paz e eu adoro esse sorriso. O quarto é um sorriso maquiavélico, desse eu não gosto. E o ultimo é quando tu chora.
- Como é o último?
- Você não abre os dentes, só puxa um pouco os lábios pra cima, como se estivesse se esforçando pra estar feliz.
- O que tu sabe mais?
- Tu puxa a calça folgada sempre com a mão esquerda. Ajeita a franja com os quatro dedos da mão direita.
- Tu me observa.
- Eu te observo.
(silêncio)

- Vou embora!
- Eu também vou.
- Vem comigo?
- Pelo caminho, sim.
- Vem, então.
(silêncio)

- Toma!
- O que é isso?
- Uma carta. Pra você não dizer que nunca te deram uma carta.
- Obrigada. E esse, é o meu terceiro sorriso. O que tu gosta.
- Eu gosto mesmo.
- Lembra dele até dormir, hoje ele é teu.
- E você, como fica?
- Fico com o quinto sorriso hoje.
- Não chora.
- Não choro!
- Me abraça?
- Te abraço.
- Adeus.
- Até.

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