2/20/2011

Noite cinzenta de uma cidade morta.

Já passam das três da manhã e o sono não vem. A janela do meu quarto é palco principal de um céu sem estrelas,de um céu azul-marinho acizentado. Nuvens evaporaram essa noite. O barulho dos carros lá no fim da rua me lembram que ainda há vida nessa cidade. O vizinho apaga as luzes e se põe a dormir. O sono não vem. Passa um avião iluminando o céu escuro e assustador,forçando-me a lembrar de tudo que preciso esquecer. Há mais fumaça no meu quarto do que em uma fábrica de cigarros. Há mais pessoas na rua do que dentro do meu coração,mesmo que a única pessoa na rua seja aquela dirigindo aquele carro no fim da rua. Já já amanhece e o sol vai sair mas eu vou preciso aproveitar o que a noite tem a me oferecer,mesmo que seja apenas solidão.

Aparece nuvens e por trás delas,estrelas. Três Marias brincando no céu como uma orquestra sinfônica bem produzida onde o palco é dado apenas para se exibirem,mostrarem o que há de melhor nelas enquanto as outras estrelas não vêm. Imagino que essas três sejam as mais observadas por todas as pessoas do mundo. É a mais óbvia,a que todo mundo sabe o nome,a que todo mundo têm coragem de contar mentalmente mesmo que isso faça rugas nos seus dedos,como já dizia minha avó.

Isso é quase a eternidade. Ouço barulho de porta de carro batendo. Há mais alguém vivo nessa cidade morta além de mim. Só eu que me sinto assim? As luzes do Vidigal parece o céu mas não é,me recuso a olhar para aquilo que possa me iludir e me causar transtornos futuros. Nenhuma estrela a mais e já passam das quatro da manhã.

Tomo um café,acendo um cigarro,rascunho um papel amassado deixado em cima da mesa da cozinha com um lápis quase no fim. Apago o cigarro,acaba o café. Belisco algo na geladeira e volto ao palco principal das três Marias. Tão egoístas essa noite. Aposto que mandaram todas as estrelas iluminarem Marte para que aqui na Terra pudessem fazer sua orquestra sinfônica calada para os amantes da madrugada.

Mendigos dormem em algum bueiro da cidade e esquecem de olhar o céu,esquecem que apenas o céu é o limite. Esquecem de rezar,de pedir proteção e um alimento para o dia seguinte. Esquecem ou preferem não pensar naquilo que virou-te as costas? O que mais poderia ser? Deus brincando de fazer uns ricos e outros pobres. Verdade seja dita,aqui no Brasil se você não olha pro céu e remar pra fé,você morre enquanto não tenta.

Amanheceu. As luzes do Vidigal apagaram-se. O café no bule já não é mais fresco,o papel rabiscado está no lixo,os cigarros acabaram. Mendigos acordam e retomam suas rotina catando papelão,mendingando trocados no sinal de trânsito. As três Marias se foram,o céu agora tem um alaranjado-acinzentado. O sol quase se pondo a ficar de pé.

O mundo inteiro acordou. Eu vou dormir.

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