9/01/2010

Uma noite no Parque Central.

Era incerto viver de tal maneira mas era assim que ela passava seus dias:A beira de um abismo. Ela não o tinha,supostamente,nem o conhecia tão bem para poder dizer que o amava. Mas conhecia seus detalhes. Sabia todos os detalhes que aperfeiçoavam seu rosto,sabia todas as pintas no seu rosto e descrevia a cor do seus olhos como ninguém jamais havia descrito. Era,também,a maior fã do seu sorriso. Começou a gostar dos Beatles e a tomar café por causa dele. Fez curso de fotografia e leu Paulo Coelho no livro Alquimista,duas vezes. Ela gostava do seu corte de cabelo e dos dias em que ele escolhia não pentear-lós. Ele era do tipo que tinha um grande sonho,já tinha uma bela namorada e já tinha sua vida quase ganha mas faltava-lhe amor. Ela,então,sabia que ele poderia encontrar o que faltava nela. Eles apenas precisavam se conhecer. Ele costumava acordar às seis e trinta da manhã e levava o cachorro para passear,voltava para casa com um sorriso bobo depois de uma lambida não muito agradável que recebera,porém,aceitava como um presente,depois voltava para rua com uma máquina fotográfica nas mãos e capturava qualquer coisa que lhe fosse conveniente. Ela sabia seus roteiros,sabia seus horários e costumes,sabia o que ele gostava e o que ele não suportava. Ela apenas queria ser a musa inspiradora daquele fotografo que até então não sabia da sua existência. Por um descuido dela,ele a percebeu na Praça Central da cidade conversando ao telefone e dando um sorriso meio de lado,como quem conversa com alguém que não é tão intimo. Ele a fotografou. O flash foi algo do qual os dois não esperavam. Ele a fitou como quem pede desculpas de longe,ela o fitou como quem pede para continuar. Sorriram,juntos,na mesma sintonia. Então,aproximaram-se um do outro com passos desengonçados e leves enquanto chegavam mais perto um do outro. Ela,por sua vez,pôde perceber todos os detalhes que completavam seu rosto e agora ela estava frente a frente com ele. Era realmente tudo aquilo que tinha sonhado,sim,ele era. Ele,por sua vez,pôde perceber pela primeira vez os cabelos dela caídos pelos ombros,seu sorriso que movia todo o resto do rosto e os olhos que,intimidados,olhava para o lado e para o outro mas nunca para os olhos daquele rapaz. Ele se desculpou por captura-lá sem seu conceito,ela não tinha muito a dizer,na verdade até tinha mas não sabia como colocar aquele rio de palavras para fora. Ela assentiu,como se liberasse uma criança para brincar na chuva e ele sorriu,como uma criança autorizado para brincar na chuva. Ele pediu mais uma foto. Ela,sem graça,cedeu. Por alguns instantes ela sentiu-se a sua musa inspiradora e ele sentiu uma grande nostalgia por fotografa-lá,não sabendo o porquê.
Às horas passavam e a noite no Parque Central parecia uma dessas madrugadas quando acordamos com insônia e olhamos para o céu da janela do quarto. Ele parou e a olhou pela última vez antes de dar um adeus gentil. Ela acenou para ele enquanto ia saindo,meio de lado,indo para qualquer lugar que o vento a levasse.
Ele voltou para casa naquela noite e dormiu pensando nela. Ela voltou para casa naquela noite e não dormiu.
Mais um dia amanheceu em Porto Alegre para aquele jovem fotografo e ele continuou a viver seus dias. Mais um dia amanheceu em Porto Alegre para aquela pequena garota e ela continuou a observar todos os dias os passos dele.
Ele ainda pensa nela,ela não para de pensar nele.

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