12/02/2016

Girl before a mirror.

Fiquei uma noite inteira sozinha. O mundo lá fora parecia se deteriorar enquanto eu tomava mais um gole da vodca no copo. Na janela, que tinha vista para um parque bem degradado, eu podia ver o vai e vem dos carros e o jogo de luzes que os faróis e os semáforos faziam naquela avenida. Era confortável olhar o mundo através da minha janela sem que, necessariamente, eu precisasse encara-lo. 

Tentei entrar em contato com outros, eu queria ouvir uma voz que me dissesse que as coisas ficariam bem depois de um determinado tempo. Ninguém atendia minhas ligações e minhas mensagens eram ignoradas com louvor. Desisti do celular naquele instante. Eu precisava de qualquer entretenimento que me fizesse esquecer você. 

Apesar de muito esforço e relutância, eu saí disparada pra rua quando percebi que ficar sozinha não era exatamente o que eu precisava naquele momento. Eu precisava ouvir música, conhecer gente, dançar e beber até esquecer meu nome. E assim o fiz. 

A boate que eu escolhi parecia com um boteco que tem na esquina da minha casa. Não era grandiosa ou chamava atenção. Quando passava por aqui há um tempo, eu não imaginava que se tratava de um estabelecimento desse porte. Olhei para o meu tênis e a calça jeans manchada de vinho de algumas horas atrás, fechei os olhos e disse a mim mesma que era isso ou voltar pra casa e escutar meus vizinhos transando a noite inteira. 

A luz era forte, quase podia cegar. O local era pequeno, muitos corpos pareciam desafiar a lei da física e ocupar o mesmo espaço. Eu estava sendo esmagada quando alcancei o bar. Aliviada, sentei em um dos poucos bancos que estavam disponíveis. Eu me sentia velha, chata e ranzinza. Aquele lugar parecia combinar comigo hoje. 

Depois de muitas tentativas vãs, eu consegui pedir um drink ao rapaz do bar. O nome era estranho, então só fiz gritar o número sob o bar que nos separava. Ele me olhava com a expressão de que eu estava no lugar errado. Eu sabia que estava no lugar errado, mas por mim tudo bem. Ele me passou a bebida e eu fechei os olhos e virei o copo de uma vez. O gosto do álcool na ponta da língua e no fundo da garganta me fez querer ir embora daquele lugar, mas já não era hora pra voltar atrás. Eu ia ficar. 

Quatro ou cinco drinks me fizeram acreditar que eu poderia me divertir sozinha em um local que não era do meu agrado com pessoas que eu nunca ousaria dizer que as vi. O DJ tocava algum pop com um mix horrível, mas quem ligava pra isso a essa altura do campeonato? Eu precisava dançar e assim o fiz. 

Ensopada de suor, com um sorriso largo no rosto e depois de trocar números com alguns desconhecidos no caminho de volta ao bar, lá estava eu: a mulher que foi deixada um dia antes do casamento agindo como se não se importasse com essa merda. E, bom, eu realmente não me importava mais. 

Bocejei uma vez. Outra. Olhei pro relógio e vi o ponteiro apontar para o cinco. Olhei em volta e percebi que aquela noite estava acabando. As pessoas estavam deixando o recinto. O rapaz do bar estava com uma expressão exausta no rosto enquanto me olhava desejando que eu não pedisse mais um drink ou puxasse outro assunto aleatório com ele. Eu entendi aquela deixa e sumi com o restante das pessoas que se retiravam. 

Olhei para os lados enquanto ficava estatelada no meio fio em frente a boate. Alguns que saíram junto comigo dirigiam-se aos seus respectivos carros, outros buscavam incessantemente por um táxi, eu começava a andar na direção oposta a todos eles. Eu ainda não tinha terminado aquele dia. 

Um pouco mais sã do que eu estava há algumas horas, me encontrei olhando o mar e sentindo o vento chicotear meu cabelo no meu rosto. Parecia com o final do dia perfeito para qualquer um. Era um momento de paz e tranquilidade em meio ao caos que me acontecera menos de vinte e quatro horas atrás. 

Olhei o celular e vi inúmeras ligações perdidas e a caixa de mensagem lotada. Eu não tava pronta pra explicar nada a ninguém, mas ainda sim abri uma mensagem atrás da outra. A minha cabeça dizia que eu era tola, meu coração dizia que ainda havia esperança para mim. 

E lá estava a mensagem que eu desejei ontem a noite. Rolei os olhos pela tela uma, duas, três vezes. Li e reli todo o contexto. Eu não aceitava aquilo. Como eu poderia aceitar aquilo de coração? Não havia nada no mundo que pudesse me fazer acreditar naquilo ou que pudesse me fazer voltar atrás. 

"Eu sinto muito, eu te amo."

Eu também sinto, eu também me amo. 
Adeus. 

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