10/15/2016

Epiphaneia

Tudo é novo. Como se eu tivera nascido ontem. E todas as coisas são repletas de miúdas infinitezas. E todas as coisas que vejo ao meu redor parecem não terem estado ali antes. E eu percebi o quão bom é ser assim. Alguns chamam de utopia, eu acredito que isso é amor.

A primeira vez que tocou meu corpo, estremeci. Era apenas um toque sutil. Ele beijou a palma da minha mão. Eu senti como se tivesse beijado minha alma inteira naquele instante. E eu sabia, exatamente ali, que de alguma forma alucinante era ele. Era ele pra sempre. Mesmo que o sempre seja só até amanhã. 

Quando me fez sorrir pela primeira vez, eu entendi. Entendi sobre a teoria do buraco negro, entendi sobre a teoria do caos, entendi sobre todas as coisas que antes não faziam o menor sentido para mim. Eu entendi o que eles diziam nas canções românticas, eu entendi as mensagens que tentavam passar nos filmes dramáticos francês que eu tanto adorava e não entendia o porquê. 

Quando eu o fiz sorrir e aquele sorriso iluminou a rua da minha casa, eu acreditei. Acreditei em tudo aquilo que eu ouvia dos outros sobre o amor. Eu acreditei num amanhã melhor, mesmo sendo eu tão pessimista. Eu acreditei em futuro, em família, em fidelidade e lealdade como nunca antes havia acreditado. 

Talvez eu nunca me esqueça do cheiro da sua camisa ou do fato de eu quebrar algo que ele tanto gostava no primeiro abraço - e o fato dele rir disso como se não houvesse importância. Eu sei que eu não vou me esquecer daquelas palavras: "não me odeie, estou na sua porta."

Alguma coisa aconteceu naquele dia que mudaria toda a minha forma de ver o mundo, as pessoas e os sentimentos. Pela primeira vez, em muitos anos, eu sinto algo bom por alguém. Eu sinto uma felicidade contagiante. Eu quero dançar tango no meio da chuva. Eu quero ele dançando comigo, também. 

Naquele peito, eu consigo descansar o peso de toda uma vida. É naquele abraço que eu tenho o melhor lugar do mundo sem sair do lugar. É naquele peito o local que eu fiz moradia. Eu não pretendo ir embora, como fiz com todos os outros. Eu gosto de ficar, sentar e esperar ele aparecer. Eu gosto de como meus olhos brilham quando eu falo sobre ele pra alguém e o sorriso involuntário que escapa dos meus lábios ao falar teu nome. 

Eu gosto de ir dormir sabendo que eu tenho ele dentro-dentro de mim. 

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